O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, Ipcc, lançou na segunda-feira o Relatório de Síntese Mudança Climática 2023. Este ano, a análise feita a cada seis a sete anos destaca ações e soluções para a crise.
Pelo estudo, ainda dá tempo para assegurar um futuro habitável para todos tomando medidas climáticas urgentes. Essas opções devem ser imediatas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e adaptação às mudanças climáticas causadas pelos humanos.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, descreveu o relatório como um “guia de como desarmar a bomba-relógio climática”, em mensagem de vídeo que acompanhou o lançamento.
Para o chefe das Nações Unidas, a ação climática é necessária em todas as frentes. A proposta de Guterres ao grupo das economias mais desenvolvidas, G20, é que façam um “Pacto de Solidariedade Climática”.
Nesse entendimento, Guterres propõe esforços adicionais dos grandes emissores para cortar emissões. Os países mais ricos mobilizariam recursos financeiros e técnicos para apoiar as economias emergentes em um esforço comum.
A publicação foi apresentada na cidade de Interlaken, Suíça, na segunda-feira após sessões em que os cientistas avaliaram que as perdas e danos “estão atingindo os mais vulneráveis e ecossistemas de forma particularmente difícil.”
O documento confirma que a temperatura global está 1,1º C acima dos níveis pré-industriais, como efeito de mais de um século de queima de combustíveis fósseis, bem como o uso desigual e insustentável de energia e da terra.
A situação gerou “eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, com impactos cada vez mais perigosos na natureza e nas pessoas em todas as regiões do mundo”.
A previsão é que piore a insegurança alimentar e hídrica com as altas temperaturas. O documento destaca que esses riscos, associados a outros eventos adversos, como pandemias ou conflitos, se tornam ainda mais difíceis de administrar.
Num cenário em que as temperaturas sejam mantidas em 1,5º C acima dos níveis pré-industriais, serão necessárias reduções profundas, rápidas e sustentadas das emissões de gases de efeito estufa em todos os setores nesta década.
Os cientistas defendem que a queda nas emissões deve ser imediata e com mais cortes quase pela metade até 2030 para que a meta seja possivelmente alcançada.
O Ipcc propõe o “desenvolvimento resiliente ao clima”, envolvendo a integração de medidas de adaptação às mudanças climáticas com ações pare baixar ou evitar emissões de gases de efeito estufa de forma a proporcionar benefícios mais amplos.
Entre os exemplos dessas ações estão o alargamento do acesso à energia limpa, a eletrificação com baixo teor de carbono, a promoção de transporte com zero emissões e baixo teor de carbono e melhoria da qualidade do ar.
Os benefícios econômicos que iriam além de preservar a saúde humana com a melhora na qualidade do ar, seria potencialmente maior do que o custos de redução ou prevenção das emissões.
A proposta do chefe da ONU tem como meta “garantir que as temperaturas globais não subam mais de 1,5º C acima dos níveis pré-industriais.”
Guterres anunciou que para impulsionar os esforços pelo pacto aposta em uma Agenda de Aceleração considerando “líderes de países desenvolvidos num compromisso de atingir a neutralidade de emissões o mais próximo possível de 2040 e os países em desenvolvimento o mais próximo possível de 2050”.
Pela proposta, seria eliminado o uso do carvão e neutralizada a produção de eletricidade até 2035 para todos os países desenvolvidos e 2040 para o resto do mundo. A sugestão prevê a interrupção de novas licenças e fundos para indústrias de petróleo e gás e “qualquer expansão do petróleo e reservas de gás”.
Guterres destaca que entre estas medidas devem estar a proteção às comunidades mais vulneráveis, com mais fundos, capacidades de adaptação, perdas, danos e promovendo reformas para garantir o apoio de bancos multilaterais de desenvolvimento.
O cientista Christopher Trisos, um dos autores do relatório, disse que maiores ganhos no bem-estar podem resultar da “priorização da redução do risco climático para comunidades de baixa renda e marginalizadas, incluindo pessoas que vivem em assentamentos informais.”
O especialista destacou que a ação climática rápida só acontecerá se houver um aumento contínuo do financiamento. Os fundos são atualmente insuficientes, desalinhados e atrasam o progresso.
O documento chama a atenção para o poder dos governos para reduzir as barreiras da redução das emissões de gases de efeito estufa, por meio de fundos públicos e sinais claros aos investidores. A recomendação é que as autoridades “intensifiquem as medidas políticas verificadas e comprovadas”.
O documento destaca mudanças no setor de alimentos, eletricidade, transporte, indústria, edifícios e uso da terra como formas importantes de reduzir as emissões, assim como em estilos de vida de baixo carbono, para a melhor saúde e bem-estar.
Para o presidente do Ipcc, Hoesung Lee, ações pela transformação “têm maior probabilidade de sucesso onde há confiança, onde todos trabalham juntos para priorizar a redução de riscos e onde os benefícios e o ônus são partilhados de forma equitativa”.
Lee destacou que o Relatório Síntese ressalta a urgência de se tomar medidas mais ambiciosas e mostra que “com ação imediata ainda se pode garantir um futuro sustentável habitável para todos.”