Agências humanitárias fizeram o primeiro contato com a realidade, após a segunda passagem do ciclone Freddy por Moçambique. No acesso gradual aos locais ainda inundados, as vítimas revelam experiências vividas durante a tempestade tropical que está ativa há quase 40 dias. Moçambique soma dezenas de mortes do total de 270 já confirmadas na região sul da África. O ciclone Freddy é considerado um dos mais fatais na história do continente.
Para apoiar resposta humanitária, a ONU anunciou a entrega de US$ 10 milhões do Fundo Central de Resposta de Emergência. A meta é atuar com as autoridades moçambicanas apoiando 49 mil deslocados em 140 centros de acomodação.
Num desses locais, Tomásia Zacarias é considerada um exemplo de resiliência. Ela sobreviveu à tempestade que derrubou sua casa na província da Zambézia após fugir dos ataques de terroristas em Cabo Delgado, no norte.
Ela fala de como começar tudo de novo a uma assistente da Agência da ONU para Refugiados em Gogodane, distrito de Namacurra. A sobrevivente lidera o chamado espaço seguro para desabrigados, que ficou sem casas de pé.
“Este ciclone Freddy foi uma tragédia, perdemos casas, como estamos a ver. Perdemos tudo e já não conseguimos nada, assim como as 35 mulheres na mesma situação. Outras estão no centro seguro de acomodação, nas fábricas…O centro em si está na mesma situação. É por isso que queremos pedir ajuda.”
A mesma realidade é a de Mustafa. Também deslocado devido ao terrorismo no norte, ela relata o espanto de testemunhas de várias gerações com a intensidade do ciclone Freddy.
“Estou bem, mas as dificuldades são várias. O ciclone Freddy nos afetou. Em suma todo o centro está com casas desmoronadas. O ciclone foi forte. E mesmo os mais velhos, que têm mais de 80 anos, dizem que nunca viram um ciclone idêntico. Foi muitíssimo forte.”
O Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres, Ingd, indica que a província da Zambézia é a mais afetada com cerca de 211.784 pessoas. O segundo maior número de vítimas foi em Sofala com 33.435.
As vítimas em Tete foram mais de 6,8 mil, em Manica 1,1 mil e em Niassa 231 pessoas.
O ciclone Freddy entrou para a costa moçambicana pela primeira vez em 11 de março. Para facilitar a reconstrução, as autoridades decidiram parar com o pagamento de taxas de transporte de produtos de emergência e baixar tarifas de navios, serviços marítimos e manuseamento de carga para auxílio.
O anúncio foi feito pelo presidente moçambicano, Filipe Nyusi, ao informar a decisão do governo de criar um gabinete permanente de reconstrução pós-ciclone.