A vasta indústria imobiliária da China está se recuperando da crise deflagrada por controles mais rígidos de endividamento, afirmou um dos vice-presidentes do banco central da China (PBoC), Pan Gongsheng, na sexta-feira, 3, após uma onda de calotes por incorporadoras tumultuar os mercados financeiros globais anos atrás.
Pan mencionou a Evergrande, a incorporadora chinesa mais endividada, mas não fez qualquer atualização sobre esforços supervisionados pelo governo para reestruturar 2,1 trilhões de yuans (US$ 305 bilhões) em dívidas bancárias e ligadas a emissões de bônus da empresa.
“A confiança do mercado está se recuperando. A atividade de transações no mercado imobiliário aumentou”, disse Pan, em entrevista coletiva antes da reunião legislativa da China. “O ambiente de financiamento, em especial para empreendimentos de alta qualidade, melhorou significativamente.”
Ele, no entanto, não deu qualquer indicação de que Pequim esteja planejando mudanças significativas em seus mecanismos de controle de dívida, conhecidos como “três linhas vermelhas”.
O crescimento econômico da China perdeu força em meados de 2021, depois que reguladores, preocupados com níveis de endividamento perigosamente altos, impediram a Evergrande e outras incorporadoras muito endividadas de tomar mais empréstimos. A desaceleração também veio em meio a rígidas medidas impostas por Pequim para controlar a disseminação do coronavírus.
Algumas incorporadoras entraram em colapso e outras deixaram de pagar bilhões de dólares em dívidas relacionadas a bônus comprados por investidores chineses e estrangeiros. A Evergrande alega ter 2,3 trilhões de yuans (US$ 330 bilhões) em ativos, mas tem mostrado dificuldades para convertê-los em recursos e honrar seus compromissos com credores.
Governos locais assumiram alguns projetos imobiliários inacabados para garantir que as famílias recebessem apartamentos pelos quais já haviam pagado.
No último trimestre de 2022, as vendas de bônus por incorporadoras cresceram 22% ante o mesmo período do ano anterior, a 120 bilhões de yuans (US$ 17,5 bilhões), segundo Pan Ele disse ainda que empréstimos bancários para projetos imobiliários também aumentaram.
O presidente do Banco do Povo da China, Yi Gang, sinalizou que a instituição pode reduzir o montante que os bancos comerciais precisam deixar parado, a fim de liberar fundos de longo prazo para apoiar a economia.
A China cortou o compulsório bancário 14 vezes desde 2018, o que levou a taxa (RRR, na sigla em inglês) de cerca de 15% para 8%. A redução do compulsório é ainda um meio “efetivo” para apoiar a economia e manter a liquidez em nível razoável, afirmou Yi em resposta a uma questão levantada durante um briefing.
Questionado sobre a possibilidade de cortes nas taxas de juros, o presidente do PBoC disse que o nível atual das taxas de juros reais era apropriado. Yi disse esperar que o yuan se estabilize em um nível de equilíbrio neste ano, expressão geralmente usada por autoridades para descrever sua meta para a política cambial, e acrescentou que a divisa pode ter pequenas flutuações, algo positivo para a economia.
Indicadores econômicos até agora disponíveis mostraram que a economia chinesa reagiu com mais força que o esperado pelo mercado no primeiro bimestre do ano, após Pequim abandonar abruptamente suas restrições contra a covid-19, no fim de 2022. Um dos vice-presidentes do PBoC, Liu Guoqiang afirmou no mesmo briefing nesta sexta-feira que o banco central evitaria grandes mudanças na política monetária, apesar de mudanças positivas na economia.
Os dirigentes disseram que o PBoC segue cauteloso ante qualquer alta na inflação e que a inflação ao consumidor esteve em nível “ideal” no último ano. Liu disse também que o rápido aumento da poupança foi resultado das restrições contra a covid-19, que limitaram a capacidade dos chineses de gastar e investir. A taxa de poupança deve voltar ao normal neste ano, quando o crescimento econômico e a confiança do consumidor se recuperar, acrescentou o vice do PBoC.