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Núcleo de preços

Cenário inflacionário na Inglaterra ainda é complicado

O presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, afirmou que o indicador mais recente de inflação no Reino Unido foi uma “boa notícia”

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21 de novembro de 2023
Vinicius Palermo
Cenário inflacionário na Inglaterra ainda é complicado
O presidente do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), Andrew Bailey

O presidente do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), Andrew Bailey, afirmou na terça-feira, 21, que o indicador mais recente de inflação no Reino Unido foi uma “boa notícia”, em geral em linha com o esperado pela instituição.

Em audiência ao lado de dirigentes no Comitê do Tesouro do Parlamento do Reino Unido, Bailey disse ver sinais de que a inflação caminha para a meta de 2% mais adiante no país, mas também mencionou que continua a ver riscos de alta, como a pressão sobre os salários e o quadro de tensões geopolíticas no Oriente Médio, as quais podem puxar para cima o petróleo, em caso de disseminação nos conflitos pela região.

O presidente do BC britânico avaliou que, na sua opinião, é “razoável” agora manter os juros no nível atual. Ele ainda se disse preocupado com a potencial persistência da inflação.

Bailey considerou que os mercados têm dado peso excessivo aos dados mais recentes, mas reforçou que ainda se preocupa com a potencial persistência da inflação. Ele também comentou que o aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês) em andamento tem “apenas um efeito modesto nos juros dos bônus” no país, de cerca de 10 a 15 pontos-base.

O presidente do BoE afirmou que o enfraquecimento da demanda por crédito no Reino Unido “está muito pequena”, reforçando que manter o atual nível restritivo é necessário para baixar a inflação. Vice-presidente do BoE, Dave Ramsden complementou que consumidores e empresas têm sido mais resilientes do que esperado. Ambos os comentários ocorreram em audiência no Comitê do Tesouro do Parlamento britânico.

Bailey defendeu que o banco central atua com base em dados e em projeções futuras, mas mantendo postura cautelosa. “Vemos enfraquecimento da demanda, mas também da oferta e em um cenário com mercado de trabalho ainda apertado”, ponderou, apontando que estes fatores e o nível elevado da inflação de serviços devem ser considerados nas decisões monetárias.

A dirigente do BoE Catherine Mann destacou que o banco central considera diferentes tipos de serviços – hospitalidade, turismo, entre outros – e suas respectivas dinâmicas de preço. “Contudo, em várias categorias existe uma inércia nos efeitos da política monetária”, comentou. “Inflação de serviços precisa voltar aos 3% e a de bens precisa cair a 0% ou a -0,1%, provocando uma deflação, para voltarmos o índice cheio a 2%.”

A dirigente do BoE afirmou que deseja ver os juros mais elevados do que eles estão agora. Ela disse que um aperto maior na política monetária “seria importante”, como mostra do compromisso do BC com o retorno da inflação à meta de 2%.

Catherine Mann argumentou que a pausa atual na política monetária do BoE tem levado a um relaxamento nas condições financeiras.  Segundo ela, há riscos de a inflação elevada influenciar definições sobre os salários, e deve haver forte pressão sobre os salários e a inflação de serviços ao longo de 2024 no país.

Em suas declarações, portanto, Catherine Mann discordou de Bailey, que argumentou pela manutenção da política monetária atual, embora também tenha mencionado riscos de alta da inflação.
Outro dirigente presente, Jonathan Haskel, considerou o quadro na inflação no país “ainda complicado”, por causa da persistência vista no núcleo dos preços, mesmo que o índice cheio tenha melhorado.

Segundo ele, o recuo no índice cheio, nesse contexto, não é um bom guia para a tendência inflacionária.
Em outro momento, Haskel reforçou a cautela com a persistência da inflação, o que segundo ele tende a exigir que a política monetária fique restrita “por um período prolongado” para garantir retorno à meta de inflação.