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Solução

Campos Neto prevê fim do Crédito Rotativo

Ele destacou que o grupo de trabalho – formado pelo BC, governo e bancos – deve encaminhar nos próximos 90 dias uma solução com o fim do rotativo.

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11 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto prevê fim do Crédito Rotativo
Presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, explicar aos senadores as decisões tomadas pelo BC até agora em relação à inflação e à estabilidade financeira. Foto Lula Marques/ Agência Brasil

Enquanto o Congresso debate a criação de um teto de juros para o rotativo do cartão de crédito, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, confirmou na quinta-feira, 10, que a modalidade deve deixar de existir. Ele destacou que o grupo de trabalho – formado pelo BC, governo e bancos – deve encaminhar nos próximos 90 dias uma solução com o fim do rotativo.

“Sem rotativo, a fatura não paga iria direto para o parcelado. Deve ser anunciado nas próximas semanas”, afirmou o presidente do BC, em arguição pública no plenário do Senado. “Deveríamos ter feito antes medidas para solucionar rotativo”, admitiu.

Campos Neto destacou que o limite semelhante de juros de cheque especial atingiu o objetivo da medida. “Reconheço que o juro do cartão de crédito é um grande problema. O parcelado sem juros ajuda a atividade, mas tem aumentado muito parcelas”, avaliou.

E acrescentou: “Com exceção da China, nenhum outro país teve aumento tão grande em cartões como o Brasil. Estamos estudando soluções para número de cartões, mas reduzir cartões pode prejudicar varejo.”

O presidente do Banco Central destacou ainda a importância de se aprovar a reforma tributária que já foi votada em dois turnos na Câmara dos Deputados e inicia a tramitação no Senado. “A reforma tributária é muito importante para o País, no que esteve ao meu alcance conversei com as pessoas para convencê-las. Temos várias disparidades na tributação, não sei se vamos conseguir consertar todas, mas a proposta que está tramitando é melhor do que o sistema que temos hoje”, afirmou.

Segundo Campos Neto, a simplificação do sistema tributário brasileiro vai contribuir no médio prazo para o aumento da eficiência da economia. “Eu tenho apoiado a reforma tributária”, enfatizou. É importante a aprovação de medidas que façam o País atingir a meta fiscal, diz Campos Neto.

O presidente do Banco Central evitou comentar individualmente cada medida de aumento de receitas proposta pelo governo, mas destacou a importância de se cumprirem as metas fiscais colocadas no projeto de arcabouço fiscal. “A política fiscal afeta muito a taxa neutra de juros, por isso é importante a aprovação de medidas que façam o País atingir a meta fiscal. Se conseguirmos atingir metas fiscais, a taxa de juros vai ser menor”, afirmou, em arguição pública no plenário do Senado. “Nosso objetivo é abrir caminho para a queda consolidada de juros”, completou.

Segundo Campos Neto, é importante cortar gastos, mas ele reconheceu que boa parte da despesa federal é indexada. “As medidas fiscais são importantes para abrir caminho para uma queda consolidada do juro. Estou de acordo que temos de correr atrás do equilíbrio fiscal”, acrescentou.

O presidente do Banco Central reconheceu que o Brasil tem feito um esforço fiscal, mas afirmou que o gasto real do governo brasileiro ainda é muito superior ao da média mundial. “O Brasil gasta bastante mais em termos reais comparado com outros países. Isso ajuda um pouco a explicar essa ‘desancoragem gêmea’. Eu digo que vou baixar a inflação e o mercado não acredita, e o governo diz que fará um fiscal melhor e o mercado também não acredita”, afirmou.

Para Campos Neto, com as medidas de receitas propostas pelo governo para ancorar melhor o fiscal, o BC também conseguirá uma reancoragem melhor das expectativas de inflação. “Para atingir a meta (de primário), precisamos de bastante receita. À medida que as receitas forem entrando, acredito que teremos não só uma convergência fiscal, com uma convergência monetária”, completou.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por iniciar o ciclo de afrouxamento monetário com uma queda de 0,50 ponto porcentual dos juros básicos, para 13,25% ao ano, o que surpreendeu uma parte do mercado, que apostava majoritariamente em uma queda mais “parcimoniosa”, de 0,25 ponto. O colegiado sinalizou ainda a manutenção desse ritmo de cortes nas próximas reuniões.

O presidente do Banco Central comemorou os elogios feitos à autonomia e à atuação da instituição no reconhecimento internacional à melhora da economia brasileira. Ele citou relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de agências de classificação de risco – como a S&P, que elevou para positiva a perspectiva para o Brasil, e a Fitch, que aumentou a nota de crédito do país.

“O reconhecimento internacional do País tem participação do Banco Central. A capacidade do BC em gerir a crise com autonomia tem sido reconhecida. Temos muito pela frente, mas temos atingido um pouso suave (da inflação)”, afirmou Campos Neto.

O presidente do Banco Central disse também que o real digital – Drex – deve acelerar a redução do uso de papel-moeda no Brasil. “O papel-moeda vai diminuir, mas é difícil prever se vai deixar de existir”, afirmou, em arguição pública no plenário do Senado.

Segundo Campos Neto, há hoje R$ 285 bilhões em circulação em espécie, com queda de R$ 10 bilhões em relação a 2022.

O presidente do Banco Central reafirmou ainda que o BC não terceiriza a gestão de reservas internacionais desde 2018, mas reforçou que a instituição monetária fez isso no passado, inclusive com aval do Tribunal de Contas da União (TCU).

Segundo Campos Neto, 73,6% dos BCs permitem o gerenciamento de reservas por terceiros atualmente. “Diversos países fazem isso, sempre em uma proporção muito pequena. Quando um BC terceiriza a gestão de reservas, é para aprender a lidar com recursos novos”, afirmou.