Economia
Incertezas

Campos Neto diz que redução do corte pode não correr em junho

Alguns membros do colegiado argumentaram que, se a incerteza permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de corte de juros pode se tornar apropriado.

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29 de março de 2024
Vinicius Palermo
Campos Neto diz que redução do corte pode não correr em junho
Coletiva do Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, explicou na quinta-feira, 28, que a posição, manifestada por alguns diretores da autarquia, sobre a necessidade de reduzir o ritmo do ciclo de flexibilização monetária não se refere especificamente à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) marcada para junho, nos dias 18 e 19.

Como revelado na última ata do Copom, referente à reunião da semana passada, alguns membros do colegiado argumentaram que, se a incerteza permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de corte de juros pode se tornar apropriado.

Na quinta, na coletiva à imprensa do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), Campos Neto disse que esse trecho da ata decorre da intenção do BC de aumentar a transparência dos debates que acontecem no Copom. Ele esclareceu que a discussão sobre o ritmo se deu em torno do horizonte, e não especificamente sobre a reunião de junho.

“Houve um questionamento sobre o ritmo e o caminho do ciclo que nos levaria mais longe e com maior certeza”, comentou o presidente do BC.

Ele pontuou que quando se refere na ata a “alguns membros”, o BC está indicando que o argumento foi colocado por dois ou mais de seus diretores. Campos Neto enfatizou que, ainda que em uma reunião longa os diretores do BC não convirjam em todos os temas, as decisões do Copom, incluindo a última, têm sido unânimes.

“O Copom não está dividido, a decisão foi unânime. Tentamos abrir na ata um debate sobre visões futuras, em que existiam opiniões diferentes”, comentou o presidente do BC. “A gente tentou ser mais transparente”, reiterou.

Campos Neto reforçou a visão no BC de que as incertezas, tanto domésticas quanto externas, aumentaram, o que leva a autoridade monetária a ser mais dependente de dados. Apesar disso, ele disse que o cenário base do BC não mudou substancialmente.

Ao falar sobre a retirada, motivada pelas incertezas, da indicação sobre o ritmo de corte de juros a partir de junho, o chamado forward guidance, o presidente do BC afirmou que o instrumento tem benefícios, mas também custos. A vantagem, explicou, é guiar as expectativas do mercado quando há convicção sobre o ambiente econômico. Por outro lado, quando as incertezas aumentam, o valor do forward guidance diminui, trazendo também um custo para o BC mudar a sua comunicação no meio do caminho, ponderou.

O presidente do BC disse que o Copom não se guia por precificações do mercado para definir a taxa básica de juros. O banqueiro central fez esta afirmação ao ser questionado sobre as precificações do mercado para os próximos passos da autoridade monetária.

O presidente do BC acrescentou, inclusive, que a precificação do mercado para o Copom de junho não oscilou muito desde o Copom.

“O Copom não se guia por precificações de mercado para Selic e a precificação do mercado para junho não oscilou muito desde o Copom”, disse.

Após ser criticado na quarta-feira, 27, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por não ter discutido a proposta antes com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Banco Central (BC) voltou a pedir que a autonomia financeira da autarquia não seja debatida por meio da imprensa.

“Esse tema não é para ser tratado na mídia, foi o que combinei com o ministro Haddad”, disse Campos Neto ao ser questionado sobre o assunto na coletiva do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Ele frisou que a proposta de emenda constitucional que trata da autonomia financeira do BC não foi encaminhada pela autarquia, mas sim pelo Legislativo. A sua atuação, explicou, tem sido no sentido de “aproximar” do governo a ideia apresentada no Congresso.

“Onde puder, o BC vai ajudar a fazer a conexão entre governo e Congresso, mas não foi um projeto encaminhado pelo Banco Central, mas sim pelo Legislativo”, declarou Campos Neto.

Ele afirmou ainda que é um erro o entendimento de que a proposta de autonomia financeira visa só a remuneração dos servidores, uma vez que se trata de uma proposta de modernização administrativa para permitir à autarquia levar adiante projetos de inovação, como foi o Pix. Mais uma vez, Campos Neto observou que 90% dos bancos centrais que têm autonomia operacional contam também com a autonomia financeira.