Economia
Prêmio de risco

Campos Neto diz que investidor tem de mostrar mais boa vontade com governo

Campos Neto voltou a afirmar que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem tido uma “boa vontade enorme” com o arcabouço fiscal.

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14 de fevereiro de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto diz que investidor tem de mostrar mais boa vontade com governo
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na terça-feira, 14, que os investidores têm de mostrar mais boa vontade com governo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. “O investidor é muito apressado, é muito afoito, e acho que precisamos ter um pouco mais de boa vontade com o governo”, disse, em evento do BTG Pactual.

Ele voltou a afirmar que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem tido uma “boa vontade enorme” e se mostrado disposto a seguir um arcabouço fiscal com disciplina. O presidente do BC lembrou que o governo está instalado há apenas 45 dias.

Mesmo assim, Campos Neto reconheceu que a mudança das expectativas para a economia ocorreu por um aumento de prêmios de risco, já que o IPCA tem se mostrado melhor no curto prazo. Ele lembrou que, até dezembro, o cenário-base do BC indicava uma inflação que convergia à meta mesmo com quedas da taxa Selic a partir de junho.

A declaração veio em resposta a uma pergunta do CEO do banco, Roberto Sallouti. O executivo lembrou que a curva de juros futuros deixou de precificar quedas da Selic e questionou o que seria necessário para se retornar ao cenário visto em dezembro, quando se esperava uma redução dos juros a partir do segundo trimestre.

O presidente do Banco Central disse que a autarquia fixa juro de 1 dia e que qualquer coisa além disso é disposição de emprestar ao governo e que tentar controlar o mercado, o governo terá que jogar a sua dívida para o curto prazo. Ele disse ainda entender de que a ideia de o agregado monetário não está ligado à inflação já foi superado.

Sobre as pressões que o BC vem recebendo para reduzir juros e alterar a meta inflacionária, o banqueiro central voltou a afirmar que “no Brasil, não estamos em período em que seria bom experimentar”.

“A hora não é boa para fazer experimentos sem melhorar a credibilidade”, defendeu o presidente do BC.
Ele afirmou que há dinheiro para entrar no Brasil, com pessoas querendo fazer investimentos no País. “Se tiro a capacidade da curva expressar risco, as pessoas buscarão proteção em outra variável.”

Campos Neto voltou a defender que a autonomia formal da instituição é muito importante assim como é importante garantir esse ganho. As afirmações foram feitas durante o evento, marcando mais uma vez posição ante as críticas do presidente Lula à autonomia conferida ao BC no governo anterior.

“É importante garantir esse ganho de autonomia do BC”, disse ele, emendando que, em dezembro, o cenário-base do colegiado era de inflação na meta e corte de juro em junho. A piora na expectativa, afirmou Campos Neto, foi basicamente por conta da abertura do prêmio de risco no mercado.

O presidente do Banco Central voltou a reiterar que lá atrás, quando os preços de energia começaram a subir, que já havia previsto que o processo de desinflação no mundo seria linear.

Á época, segundo ele, algumas pessoas não aceitaram muito bem este prognóstico. Agora, no entanto, segundo ele, o debate nos Estados Unidos é sobre o quanto precisa sacrificar a economia para a inflação voltar para 3%, 2%. “Até agora a demanda por bens não voltou à linha de tendência”, disse o banqueiro central.

Para ele, o fluxo para emergentes está grande e há uma enorme boa vontade para com o Brasil.
Campos Neto também disse que não é vantajoso derrubar juros e o investidor deixar de investir no País. Na avaliação dele, a precificação de juro terminal nos EUA em 5% em tempos normais desaceleraria o fluxo de recursos para os países de economia emergente.

O presidente do BC reiterou que quer trabalhar junto com o governo federal e está à disposição para oferecer uma opinião técnica ao Executivo.

Campos Neto voltou a defender que é possível coordenar política fiscal responsável com política social. Ele repetiu que o ideal é que os programas sejam temporários, direcionados e sob medida, mas ponderou que o governo está “na direção certa” sobre o tema fiscal.

“Tem de ter uma escolha, tem de ter uma priorização de gastos. Eu conversei outro dia com a ministra Simone Tebet, do Planejamento e ela falou muito disso, como prioriza, melhora a qualidade de gastos, achei muito boa a conversa”, disse Campos Neto.

O presidente do Banco Central repetiu que se posicionou contra a proposta de se exigir uma decisão unânime do Conselho Monetário Nacional (CMN) para se alterar as metas de inflação. O colegiado é composto pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo chefe do BC.

“Se eu tivesse de olhar os extremos, entre preferir unanimidade e preferir o Banco Central não ter voto e ser só um assistente técnico, eu preferia a outra, porque a gente acha que tem um pouquinho de conflito de interesse no fato de você determinar sua própria meta”, disse, no evento organizado pelo BTG Pactual
Campos Neto reiterou ser contrário a uma mudança das “regras do jogo” e disse que a autoridade monetária seguirá o alvo definido pelo CMN. Ele acrescentou que a meta não é um instrumento de política monetária e disse considerar que o sistema brasileiro funciona bem hoje.

Questionado sobre se o CMN poderia tomar uma decisão sobre as metas na sua reunião marcada para quinta-feira, 16, o presidente do BC não respondeu. “Vocês vão ter de esperar, mesmo porque o presidente do CMN é o ministro da Fazenda, o Banco Central tem um voto de três”, disse.

Ele repetiu que o sistema de metas pode ser aperfeiçoado, mas alertou que o aumento dos alvos pode levar a uma elevação das expectativas e reduziria a flexibilidade para a condução da política monetária.