Economia
Disfuncionalidade

Campos Neto diz que BC tem que fazer intervenção no mercado cambial

Campos Neto salientou que a intervenção não teve a ver com um movimento de câmbio e frisou que o câmbio é flutuante.

Compartilhe:
03 de abril de 2024
Vinicius Palermo
Campos Neto diz que BC tem que fazer intervenção no mercado cambial
O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu na quarta-feira, 3, que o Banco Central tem que fazer intervenções no mercado de câmbio quando houver alguma disfuncionalidade na moeda. “Se em algum momento tiver, nós vamos fazer”, disse o presidente do BC.

Sobre a intervenção realizada na terça-feira, Campos Neto salientou que a intervenção não teve a ver com um movimento de câmbio e frisou que o câmbio é flutuante. “Estávamos vendo que poderia ter uma disfunção e foi feita uma intervenção, colocamos no texto da intervenção isso.”

Ele emendou que o País tem uma situação bastante boa de reservas comparado a outros países da América Latina e ao mundo emergente em geral. “Com um fluxo forte e um volume de reservas bastante razoável, o câmbio não deveria ser um problema no Brasil.”

O presidente do BC acrescentou que o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos ainda não deveria ser um problema. “Nós temos um diferencial de juros ainda bastante favorável”, disse.

Campos Neto frisou que essa é sempre uma equação com dois lados, o diferencial de juros e o de risco. “Se o seu risco percebido está no mesmo que o diferencial de juros, sua moeda tem que desvalorizar para compensar”, disse. “A questão é se do lado do risco nós temos alguma mudança substancial.”

O presidente do Banco Central afirmou que a inflação e os núcleos estão caindo em boa parte dos países emergentes, mas ponderou que em alguns já há elevação da inflação de serviços. “Alguns bancos centrais estão tentando entender se há relação entre mão de obra apertada e os preços de serviços”, acrescentou.
Campos Neto pontuou que um estudo realizado nos Estados Unidos indica não haver relação entre as variáveis no momento atual, mas disse que a realidade no mercado emergente pode ser diferente.

O presidente do BC ponderou que ao analisar a inflação global, há uma figura mais complicada dos núcleos de inflação na ponta. Os núcleos em alguns países ainda caem, mas em uma velocidade menor. Em outros, porém, estacionaram, e em alguns voltaram a subir um pouco.

Ele reiterou que o processo de desinflação foi puxado pelos preços de alimentos e energia. Destacou o fato de este processo ter se dado em um cenário de pleno emprego.

No entanto, de acordo com o banqueiro central, “o cenário de inflação global ficou mais difícil no último mês e meio”.

Campos Neto participou na quarta-feira do 10º Brazil Investment Forum, organizado pelo Bradesco BBI, em São Paulo.

O presidente do Banco Central voltou a ressaltar que, embora a desaceleração da inflação esteja em linha com as expectativas da instituição, a alta nos preços subjacentes de serviços no Brasil se mostra resiliente nos segmentos ligados ao mercado de trabalho. “A desinflação no Brasil está em linha com a expectativa do BC”, disse Campos Neto, ressaltando, porém, que a autarquia espera uma pequena piora do processo desinflação na ponta.

Na edição mais recente do Relatório Trimestral de Inflação, o Banco Central afirmou que espera inflação de 0,24% em março e 0,35% em abril, com uma desaceleração nos meses seguintes, para 0,27% em maio e 0,15% em junho.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) subiu 0,36% em março, após ter avançado 0,78% em fevereiro, informou no dia 26 de março o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março está previsto para ser divulgado na semana que vem.

O presidente do Banco Central ponderou que a normalização das cadeias de suprimento globais, que depois da pandemia vinha contribuindo para a desinflação global, parou de ajudar neste processo.
Ao se referir ao cenário fiscal, ele voltou a afirmar que o Brasil tem chance de fazer um bom resultado neste ano. Na avaliação dele, no campo fiscal, o desafio maior será em 2025.

O presidente do BC voltou a fazer menção às condições financeiras no mundo, que na avaliação dele seguem relativamente frouxas. Ele disse que é preciso fazer investimentos em políticas que propiciem elevação da oferta e atração de capital. “À medida que dívidas nos EUA são renovadas, há efeito na liquidez global”, disse Campos Neto.

O presidente do Banco Central afirmou que é difícil imaginar um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo de 2,0% este ano após as revisões para cima nas estimativas para a atividade econômica no primeiro trimestre. “As pessoas estão migrando para 2,0% e alguns já acima”, pontuou.

Campos Neto frisou que o mercado tem sido surpreendido por revisões para cima do PIB já há algum tempo e que é importante entender o motivo disso. “Há todo um tema sobre qual é o produto potencial.”

O presidente do Banco Central voltou a afirmar que o crescimento do PIB tem surpreendido também em grande parte do mundo e não só nos Estados Unidos. Na Europa, ele avalia que o desempenho do PIB tem sido mais fraco.

Mas ele voltou a citar que a inflação de serviços continua resiliente em quase todo o mundo, também não só nos EUA. No Brasil, esta parte da inflação também permanece resistente.

Campos Neto destacou que a economia norte-americana está bastante líquida, embora os juros já estejam altos no país há algum tempo. “Temos a taxa de juros alta nos Estados Unidos, mas vemos a economia pujante, o emprego forte, a produção industrial que caiu recuperou e os serviços subindo”, disse. “Quando olhamos para as condições de liquidez da economia americana, mesmo com juros altos, a liquidez está lá.”

O presidente do BC participou na quarta-feira do 10º Brazil Investment Forum, organizado pelo Bradesco BBI, em São Paulo.