Economia
Inflação em queda

Campos Neto disse que houve melhora nas condições internas

Campos Neto reiterou que o Brasil tem apresentado números qualitativamente melhores de inflação e que o País é um dos poucos com expectativas dentro da meta.

Compartilhe:
19 de outubro de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto disse que houve melhora nas condições internas
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou na quinta-feira, 19, que nas últimas semanas houve uma mudança grande no cenário mundial, com efeito sobre o quadro econômico. Participante do 7º Encontro Regional da Fenabrave-MT, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá, o banqueiro central ponderou, no entanto, que, apesar dos conflitos geopolíticos, houve melhora nas condições internas do Brasil.

“Temos tido notícias boas tanto no crescimento quanto na inflação”, afirmou Campos Neto sobre o ambiente doméstico.

Ele reiterou que o Brasil tem apresentado números qualitativamente melhores de inflação e que o País é um dos poucos com expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 dentro da meta.

O presidente do BC reafirmou que os núcleos de inflação têm desacelerado bastante em países emergentes, mas que seguem em níveis ainda elevados em países desenvolvidos. A resistência registrada na queda da inflação, pontuou, foi tema na última reunião do FMI.

O presidente do BC destacou que, à exceção de Israel, os Estados Unidos foram o país com a piora mais acentuada na percepção de risco país, com base no Credit Default Swap (CDS) de cinco anos.

“Isso mostra que o tema fiscal, do endividamento e da política também é importante para o mundo como um todo, porque os EUA são o grande motor do mercado de capitais”, disse Campos Neto.

O banqueiro central argumentou, na sequência, que as distorções criadas por programas governamentais destinados a alguns setores no país estão atrelados à essa percepção de piora fiscal.

O presidente do BC ressaltou que a expectativa do mercado para a dívida pública norte-americana sofreu um revés. Apesar do aumento nos últimos dez anos, a perspectiva ainda era de retorno das quedas, agora, porém, o mercado espera um aumento grande da dívida, pontuou. “A projeção é que vá para 120% do PIB.”

Campos Neto lembrou também que, há cerca de três ou quatro meses, o mercado esperava uma queda grande dos juros norte-americanos em 2024. “Agora, basicamente, quase não se espera mais”, emendou o banqueiro central, que acrescentou que o mercado também vê 50% de chance de uma alta adicional de 0,25 ponto porcentual.

Os juros americanos em nível elevado, ressaltou, drenam a liquidez que seria destinada ao mundo emergente. “Quando vemos uma empresa americana boa, com classificação boa, emitindo título de dívida pagando 7,5% ou 8% por sete anos, isso é um problema. Se uma empresa boa americana paga 7,5% ou 8% drena liquidez que viria para o mundo emergente”, exemplificou.

Após reconhecer novamente as dificuldades de se cortarem gastos no Brasil, o presidente do Banco Central reforçou a importância de o Congresso aprovar as medidas de arrecadação propostas pelo governo para dar sustentabilidade ao novo arcabouço fiscal.

“Há vários projetos para serem aprovados e estava conversando sobre a importância de se aprovar esses projetos, porque, no fim das contas, se não conseguirmos equilibrar o fiscal, podemos desequilibrar todo o resto. Entendo que haja alguma ansiedade em relação a isso, mas quero dizer que é importante essa aprovação. O mundo ficou mais desafiador”, afirmou, em palestra no 7º Encontro Regional da Fenabrave Mato Grosso, em Cuiabá.

Campos Neto repetiu que, mesmo com novo regime fiscal, a despesa pública brasileira vai crescer 9,2% em 2023 e 3,3% em 2024, bem acima do verificado em outros países latinos emergentes.

“A parte fiscal é um desafio grande, um tema estrutural do Brasil. Temos dificuldades em cortar gastos em um orçamento engessado. Várias medidas que deveriam ser temporárias se tornam permanentes, não só no Brasil, e por isso temos essa desconexão entre o fiscal e o monetário”, destacou o presidente do BC. “Os investidores estão preocupados e querem que Brasil tenha contas em dia”, enfatizou.

O presidente do Banco Central afirmou que apoia reajuste nos preços dos combustíveis realizado pela Petrobras, mesmo que ele não seja bom para a inflação. “Tem que ter uma política de preço da forma como a Petrobras tem feito”, pontuou.

O banqueiro central defendeu que é importante que a inflação seja medida naturalmente. “Não adianta exercer uma política de preços que não seja compatível, porque, no final das contas, acaba tendo desabastecimento e outros efeitos. Esse é um ativo que tem um preço internacional”, disse.

Ele também reiterou a importância de manter e perseguir a meta de inflação, e frisou que após o anúncio da manutenção do alvo em 3,0% houve queda nas expectativas.

Ainda sobre o tema, o banqueiro central afirmou que o recente avanço registrado na confiança do consumidor está relacionado à melhora da inflação. “Uma forma de fazer as pessoas consumirem mais e de forma mais estável é ter inflação baixa”, pontuou Campos Neto.