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Bolsonaro ‘redigiu e ajustou’ minuta de golpe depois de reunião com comandantes

Conversas encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, sugerem que Bolsonaro ajudou a redigir e editar o documento.

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09 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Bolsonaro ‘redigiu e ajustou’ minuta de golpe depois de reunião com comandantes
O ex-presidente Jair Bolsonaro

A Polícia Federal (PF) acredita que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve participação direta na edição da minuta golpista que circulou entre seus aliados após o segundo turno das eleições. Conversas encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, sugerem que Bolsonaro ajudou a redigir e editar o documento.

Em mensagens trocadas com o general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, em dezembro de 2022, Cid afirma que Bolsonaro “enxugou” o texto. “Fez um decreto muito mais resumido”, afirma o ajudante de ordens. “Algo muito mais direto, objetivo e curto, e limitado.”

A versão inicial do rascunho previa, além de novas eleições, a prisão de autoridades, como os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Segundo a Polícia Federal, por sugestão de Bolsonaro, apenas o decreto de prisão de Moraes foi mantido.

As mensagens foram trocadas após uma reunião de oficiais supostamente aliados ao plano golpista em Brasília, no final de novembro de 2022.

A PF deflagrou na quinta-feira a Operação Tempus Veritatis (a hora da verdade, em latim) e prendeu aliados do ex-presidente suspeitos de envolvimento na empreitada golpistas. Entre os alvos, estão Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres, Valdemar Costa Neto, Paulo Sérgio Nogueira e Almir Garnier Santos.

O próprio Bolsonaro foi alvo de buscas na ação e deve entregar seu passaporte à PF em até 24 horas. A operação fecha o cerco decisivamente ao ex-presidente na investigação sobre tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.

O ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo Bolsonaro, Fábio Wajngarten, também advogado do ex-presidente, afirmou que ele vai entregar o passaporte, como determinado pela Justiça. As defesas de Felipe Martins e Marcelo Câmara disseram que ainda não tiveram acesso à íntegra da investigação.

Decisão do ministro Alexandre de Moraes que deu início à operação que fecha o cerco a Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado aponta que a minuta de golpe discutida junto a comandantes das Forças Armadas pedia novas eleições e a prisão de “diversas autoridades, entre as quais os ministros do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco”.

Segundo delação e provas apresentadas pelo ministro, relator do caso, Bolsonaro recebeu o documento do ex-assessor Filipe Martins (preso na operação de quinta-feira, 8) e do advogado Amauri Feres Saad, mas pediu alterações, mantendo a prisão de Moraes, mas liberando Pacheco e Mendes.

Segundo a investigação da PF, Já havia até data para a prisão de Moraes. O documento aponta que no “planejamento operacional descrito pelo General Virgílio (Laércio Virgílio, general-de-brigada reformado), a prisão desse relator seria executada no dia 18/12/2022, em sua residência em São Paulo”.

A Polícia Federal (PF) acredita que o ex-presidente Bolsonaro teve participação direta na edição da minuta golpista que circulou entre seus aliados após o segundo turno das eleições. Conversas encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, sugerem que Bolsonaro ajudou a redigir e editar o documento.

Além de ter citado Braga Netto e Martins, Cid admitiu à PF sua participação em um esquema para adulterar o cartão de vacinação do ex-presidente e apontou Bolsonaro como o mandante da empreitada. O ex-assessor Marcelo Costa Câmara, preso pela manhã, é investigado pela suposta modificação do cartão de vacinas de Bolsonaro.

A No depoimento à PF, Cid disse que Filipe Martins levou ao então presidente o rascunho de um decreto de lei, a chamada “minuta do golpe”, que seria para implementar um estado de sítio no País. Já Braga Netto foi mencionado na delação de Cid como um possível elo entre Jair Bolsonaro e os acampamentos golpistas, então instalados na frente de quartéis do Exército por todo o Brasil.

Mauro Cid disse à PF que Filipe Martins entregou nas mãos de Bolsonaro uma “minuta de golpe de Estado”. O objetivo seria obstruir o resultado eleitoral desfavorável ao mandatário. Segundo o depoimento, tratava-se de um rascunho de um decreto que permitiria ao então presidente prender adversários e convocar novas eleições.

Martins era assessor especial de Assuntos Internacionais de Jair Bolsonaro. Ao fim da gestão, deixou o Brasil. Com a minuta, diz Cid, o ex-presidente teve a iniciativa de levar o documento à alta cúpula das Forças Armadas e discutiu com os comandantes a aplicação do plano.

O tenente-coronel disse aos investigadores que a única adesão à proposta golpista veio do então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos. Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército, repudiou o movimento, assim como o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior.

A PF acredita que Bolsonaro teve participação direta na edição da “minuta golpista” que circulou entre seus aliados após o segundo turno das eleições. Conversas encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid sugerem que Bolsonaro ajudou a redigir e editar o documento.

Mauro Cid também afirmou na delação que o general Walter Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa Civil e da Defesa durante a gestão de Jair Bolsonaro, costumava atualizar o então presidente sobre o andamento das manifestações golpistas que se instalaram em frente aos quartéis do País após a eleição de 2022.

Segundo Cid, Braga Netto, que foi o companheiro da chapa de Bolsonaro à reeleição naquele ano, fazia um elo entre o mandatário e os acampamentos.

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva, também foi preso pela manhã. Preso pela Operação Venire, Cid admitiu que participou de um esquema de adulteração no cartão de vacinas de Jair Bolsonaro, a mando do próprio ex-presidente.

O coronel Câmara foi citado pela PF como pessoa de interesse no inquérito que apura os indícios de adulteração. Em 22 de dezembro de 2022, o e-mail de Marcelo foi vinculado ao perfil do ex-presidente no aplicativo ConectSUS.