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Bolsonaro diz que ‘pedras preciosas’ de Teófilo Otoni valem só R$ 400

Mensagens indicam que o ex-presidente e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro receberam um envelope e uma caixa com supostas pedras preciosas.

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08 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Bolsonaro diz que ‘pedras preciosas’ de Teófilo Otoni valem só R$ 400
O ex-presidente Jair Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro Bolsonaro afirmou na segunda-feira, 7, que as pedras preciosas que recebeu em outubro do ano passado em Teófilo Otoni (MG) valem apenas R$ 400. Ele se negou a responder se ainda está com os objetos.

Mensagens trocadas entre militares que atuavam na Presidência da República indicam que o ex-presidente e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro receberam um envelope e uma caixa com supostas pedras preciosas na cidade mineira. Uma das mensagens registrava que o coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro teria solicitado que o bem não fosse incluído na lista oficial de presentes.

“Em 27/10/2022, foi guardado no cofre grande, 01(um) envelope contendo pedras preciosas para o PR (presidente da República) e 01 9 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD (primeira-dama), recebidas em Teófilo Otoni em 26/10/2022. A pedido do TC Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele. Demais dúvidas, Sgt Furriel está ciente do assunto”, diz o e-mail.

“A própria pessoa que me presenteou, não conheço ela, um advogado, disse que as pedras que ele comprou valem R$ 400. Está em algum lugar. Ninguém vai sumir com um negócio de R$ 400. Pode até ter sido extraviado”, disse Bolsonaro, na segunda-feira, 7, após participar de uma reunião na Prefeitura de São Paulo.

Ele também negou que tenha utilizado os R$ 17 milhões recebidos de apoiadores por meio de Pix desde junho com despesas pessoais. Segundo ele, as transferências que fez a familiares e a um assessor apontadas no relatório do Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) saíram da sua aposentadoria e do salário que ganha de seu partido, o PL, e foram efetuadas antes das doações.

Ele também explicou a destinação dos valores que repassou. As 17 transferências via Pix efetuadas por ele à lotérica de seu irmão Angelo no valor de R$ 14 mil teriam sido destinadas a jogos da Mega Sena. “Se pegar os valores, são múltiplos de jogos de sete dezenas. Agora, está R$ 35 o jogo de sete números. Eu já fiz duas quadras no último mês”, disse após reunião com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).

O ex-presidente alegou ainda que o tenente do exército Osmar Crivelatti cuida de parte de suas despesas pessoais, por isso recebeu R$ 11 mil. Sobre os R$ 56 mil que pagou a sua mulher, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, afirmou que o valor era pequeno. “Passei pouco para ela. Ela que paga as contas de quase tudo. Qual o problema?”

Já as transferências de R$ 77 mil feitas para Leda Maria Marques Cavalcante, moradora do Condomínio Estância Quintas da Alvorada, em Brasília, onde o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) vive com a mulher e a filha, foram pagamentos mensais de R$ 13 mil de aluguel de uma casa.

Bolsonaro disse estar “noivo” de Ricardo Nunes, mas defendeu que o anúncio oficial de seu apoio seja adiado ao máximo, para evitar críticas de adversários. “Às vezes, num lançamento muito antecipado, você começa a levar tiro desnecessário. É desgaste até o último dia. Vamos deixar atrasar o máximo possível, porque até a escolha fica sendo melhor.”

Afirmou, no entanto, que fez desabafos na conversa com o prefeito e negou que vá escolher um vice da chapa de reeleição. “Pode ser de outro partido até. O vice não é do Bolsonaro, é nosso. Não podemos impor.”

Uma das mais ferrenhas aliadas do ex-presidente, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) está no “gelo”. Desde as eleições do ano passado, a parlamentar não consegue falar com Bolsonaro. Na segunda-feira, 7, o próprio ex-presidente admitiu que não atendeu mais a deputada, apesar de ela ter tentado contato.

O “gelo” começou logo após o episódio em que a parlamentar apareceu em vídeo correndo pelas ruas de São Paulo com uma arma apontando para um homem com quem tinha discutido numa calçada.
“Ela queria falar comigo um tempo atrás, eu não respondi. Eu me recolhi desde o segundo turno das eleições, não falo com quase ninguém. Voltei há pouco tempo à quase normalidade da vida pública. Nada contra a Carla Zambelli, espero que ela explique tudo o que aconteceu.”

Parte dos apoiadores de Bolsonaro consideram o incidente da arma um fato determinante para a vitória de Lula sobre o ex-presidente.

Zambelli é investigada pela Polícia Federal na Operação 3FA, que apura uma possível invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para a inserção de um mandado de prisão falso contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Em depoimento dado no fim de julho, o hacker Walter Delgatti Neto, o mesmo que capturou trocas de mensagens entre o ex-juiz Sergio Moro e procuradores da Lava Jato, admitiu a invasão e implicou Zambelli diretamente pela inserção da ordem de prisão fraudulenta contra Moraes.

Segundo a PF, ele confirmou que houve ainda um encontro com Bolsonaro no Palácio do Alvorada em que o ex-presidente teria perguntado sobre a possibilidade de hackear uma urna eletrônica.

“Eu tive, ao longo do meu mandato, milhares de encontros. Se uma pessoa tem um problema e tem uma foto comigo, eu sou inquirido”, disse Bolsonaro sobre as acusações.