O ex-presidente Jair Bolsonaro chamou de “camicase” a estratégia de seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid de confessar a participação na venda de presentes recebidos pela comitiva presidencial – e de dizer que estava cumprindo determinações do ex-chefe do Executivo. As declarações foram dadas ao jornalista Túlio Amâncio, da Band.
Túlio relatou, nas redes sociais, ter conversado por telefone com Bolsonaro logo após o advogado de Cid revelar a estratégia da confissão à revista Veja. Na conversa, segundo ele, o ex-presidente disse que Cid está preso há muito tempo e, por isso, seria capaz de falar qualquer coisa para sair da cadeia.
O jornalista afirmou ainda que o presidente negou ter recebido dinheiro em espécie de Mauro Cid e também negou ter sido o responsável pela ordem para a venda dos bens recebidos por comitivas em visitas ao Oriente Médio.
Bolsonaro também teria, segundo o jornalista, afirmado que não falou nem com Mauro Cid nem com o pai do ex-ajudante de ordens, o general Mauro Lourena Cid, depois da operação da Polícia Federal realizada na semana passada, para não ser acusado de interferência.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente Bolsonaro, vai confessar que vendeu as joias recebidas pelo ex-chefe em agendas oficiais, transferiu o dinheiro para o Brasil e entregou os valores em espécie para Bolsonaro. A informação foi dada pelo advogado criminalista Cezar Bitencourt para a revista Veja. Durante a semana, o advogado, que acabou de assumir a causa, deu sinalizações nesse sentido.
“A gente conseguiu contornar uma coisa que era quase impossível”, afirmou ao jornal a advogada Vânia Bitencourt, que é sócia do marido no escritório que defende o militar.
As tentativas de vender as joias só foram paralisadas após a reportagem revelar, em março, que auxiliares de Bolsonaro tentaram entrar ilegalmente no Brasil com um kit com colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes entregues pelo governo da Arábia Saudita para o então presidente e Michelle Bolsonaro.
Cercado por investigações da Polícia Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro costumava dizer durante o mandato que jamais vai ser preso. Foram várias as declarações públicas nesse sentido. Em conversas reservadas, repetiu a mesma ameaça: não aceitaria ser detido.
Em setembro de 2021, durante discurso no 7 de setembro já tinha avisado: “Quero dizer aos canalhas que nunca serei preso”. Na época, Bolsonaro não era alvo das investigações que hoje pode selar o seu destino.
Segundo o site Metrópoles, em agosto do ano passado, ele chegou a ameaçar em conversas reservadas: “eu atiro para matar, mas ninguém me leva preso. Prefiro morrer.”
“Eu tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, ser morto ou a vitória. Pode ter certeza: a 1ª alternativa, estar preso, não existe. Nenhum homem aqui na terra vai me amedrontar”, disse para líderes com líderes evangélicos em Goiânia em 28 de agosto do ano passado.
Na quinta-feira, 17, o hacker Walter Delgatti Neto disse à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro que o ex-presidente lhe pediu para invadir as urnas eletrônicas e assumir um suposto grampo para comprometer o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. “Inclusive, a ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente”, relatou Delgatti sem apresentar provas.
Mas o discurso de valentia sobre a prisão foi perdendo força após Bolsonaro deixar a Presidência. Ao jornal norte-americano The Wall Street Journal, Bolsonaro afirmou, em fevereiro deste ano, que uma ordem de prisão contra ele pode “surgir do nada”.
“Vira e mexe me fazem a pergunta: ‘está com medo de ser preso?’. Tudo pode acontecer”, afirmou em 30 de junho. “Qualquer um pode ser preso e não se diz o motivo e ponto final.”
Nessa situação, a fala do ex-chefe do Executivo Federal foi feita em referência à operação que prendeu Mauro Cid, seu agora possível delator, por falsificar cartões de vacinação da covid-19. Bolsonaro era contra a vacinação na pandemia.