País
Escândalo dos diamantes

Bolsonaro cita ‘feitos’ de seu governo em postagem e usuários ironizam: ‘Tá joia’

Bolsonaro falou no Twitter sobre valores que sua gestão teria destinado em ajuda a cidades afetadas pelas chuvas.

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11 de março de 2023
Vinicius Palermo
Bolsonaro cita ‘feitos’ de seu governo em postagem e usuários ironizam: ‘Tá joia’
Parte dos comentários na rede social aproveitaram a ocasião para ironizar o ex-presidente Bolsonaro a respeito do escândalo dos diamantes

“Aproveitando que tu volta semana que vem, consegue trazer dois iPhones?” Foi nesse tom de ironia que esse e outros usuários do Twitter regiram a uma publicação feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre os feitos de seu governo na sexta-feira.

O ex-chefe do Executivo, cujo retorno ao Brasil chegou a ser anunciado para a próxima semana, depois adiado, falou no Twitter sobre valores que sua gestão teria destinado em ajuda a cidades em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia afetadas por chuvas em março de 2022. “O que você não saberá por grande parte da imprensa tradicional”, justificou Bolsonaro.

Parte dos comentários na rede social aproveitaram a ocasião para ironizar o ex-presidente a respeito do escândalo dos diamantes avaliados em R$ 16,5 milhões que ele tentou trazer ilegalmente para Michelle Bolsonaro. As joias foram retidas no aeroporto de Guarulhos pela Receita Federal e Bolsonaro tentou recuperá-las ao menos oito vezes, envolvendo militares, membros do seu próprio gabinete e de três ministérios (Economia, Minas e Energia e Relações Exteriores).

Nos stories do seu perfil no Instagram, Michelle Bolsonaro compartilhou a notícia e ironizou a denúncia. “Quer dizer que, ‘eu tenho tudo isso’ e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa impressa (sic) vexatória.”

Além de usuários que indagam sobre as joias, outros brincam “e as joias, foram da 25 de março?”, rua tradicional de comércio popular na capital paulista. Em entrevista à CNN na quarta, 8, Bolsonaro admitiu que ficou com um segundo pacote de joias vindo da Arábia Saudita, no valor estimado de R$ 400 mil. Na quinta, 9, o Tribunal de Contas da União proibiu que o ex-presidente use, venda ou se desfaça desse segundo conjunto de joias.

O assunto também foi utilizado em tom irônico pela Secretaria de Comunicação Social do Planalto. Em uma publicação sobre a declaração do Imposto de Renda, cujo prazo para envio começa no próximo dia 15, o canal institucional começa o texto com “E aí, tudo joia?”, em clara referência ao episódio de Bolsonaro.

Os aliados do ex-presidente, por outro lado, pedem que ele volte ao Brasil e reforçam o apoio às medidas que ele adotou durante a gestão. “Saudades, meu presidente”, afirmam a maioria dos favoráveis a Bolsonaro na publicação.

No mesmo dia em que Bolsonaro determinou que um militar viajasse, em avião da Força Aérea Brasileira (FAB), de Brasília até Guarulhos (SP) para retirar as joias apreendidas pela Receita Federal, o gabinete do então presidente solicitou que os itens avaliados em R$ 16,5 milhões fossem cadastrados no sistema federal como “acervo privado”, já que, segundo a justificativa, se tratava de presente do regime saudita para a então primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Pelos planos de Bolsonaro, os diamantes deveriam ser retiradas da alfândega de Guarulhos naquele mesmo dia, 29 de dezembro de 2022, a dois dias do encerramento de seu mandato. No dia seguinte, ele e Michelle embarcariam para os Estados Unidos. Dentro do Palácio do Planalto, a ordem era, portanto, adiantar o cadastro das joias que estavam retidas nos cofres da Receita.

O pedido de cadastramento partiu da Chefia de Ajudância de Ordens da Presidência, que era comandada pelo “faz-tudo” de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Não cabia a Cid fazer esse cadastramento, mas ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica.

O pedido indica que o então presidente não tinha a intenção de repassar o bem para o acervo público da Presidência da República, o que significaria manter as joias sob controle do Estado. A tentativa de retirada dos itens, no entanto, acabou não ocorrendo. O auditor fiscal da Receita em Guarulhos, Marco Antônio Santana, negou entregar ao emissário de Bolsonaro o conjunto de colar, par de brincos, anel e relógio da marca suíça Chopard.

O Planalto não confirmou se os dados referentes às joias permanecem no sistema do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica. Há informações de que as informações poderiam ter sido retiradas do sistema, depois de frustrada a tentativa do ex-presidente.