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BCs devem seguir priorizando combate à inflação até retomada da estabilidade

O gerente-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), Agustín Carstens, afirmou na segunda-feira, 18, que a política monetária deve seguir priorizando o combate à inflação

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18 de março de 2024
Vinicius Palermo
BCs devem seguir priorizando combate à inflação até retomada da estabilidade
O gerente-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), Agustín Carstens

O gerente-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), Agustín Carstens, afirmou na segunda-feira, 18, que a política monetária deve seguir priorizando o combate à inflação até que a estabilidade de preços seja definitivamente alcançada. “A construção da resiliência exigirá que os formuladores de políticas apliquem uma combinação de políticas apropriada e as comuniquem de forma eficaz”, disse, em evento na Universidade de Frankfurt.

Carstens, no entanto, reconheceu que nem mesmo essa postura pode ser suficiente para assegurar a estabilização da economia.

Na visão dele, para garantir um crescimento econômico sustentável, os governos devem redescobrir o apetite por reformas estruturais que “tem estado ausente há muito tempo”.

O líder do BIS defendeu a importância de se preservar a confiança nos formuladores de político, como uma forma de permitir a eficácia das políticas. Mas apenas esperar que as autoridades implementem suas agendas é pouco, no entendimento dele.

“A construção de economias e sistemas financeiros resilientes e robustos é a melhor forma de garantir que as políticas permanecem eficazes, para que eles possam ser implantadas quando são mais necessárias”, concluiu Carstens.

O gerente-geral do BIS defendeu ainda que os governos no mundo devem tomar ações para conter a “implacável” escalada da dívida pública. Em discurso durante evento na Universidade de Frankfurt, Carstens argumentou que o processo de consolidação fiscal deve começar agora.

Carstens lembrou que, no período imediatamente posterior à crise financeira global de 2008, o ambiente de juros baixos foi favorável à estabilização das contas públicas. Segundo ele, os déficits fiscais elevados e o alto endividamento pareciam sustentáveis, o que adiava a necessidade de se fazer “escolhas difíceis”.

No entanto, com o aperto monetário implementado na sequência da pandemia de covid-19, o quadro mudou de figura, de acordo com ele. “As autoridades fiscais têm uma janela estreita para colocar a sua casa em ordem antes que a confiança do público nos seus compromissos comece a enfraquecer”, afirmou.

O líder do BIS projetou que a demanda por mais gastos públicos continuará a aumentar, diante do envelhecimento das populações, a emergência das mudanças climáticas e maior necessidade de despesas com defesa. Para ele, as autoridades fiscais precisam fornecer um caminho transparente e crível para assegurar a solvência das contas, idealmente apoiado por estruturas fiscais fortes.

Para ilustrar o argumento, Carstens citou a situação atual da Alemanha, que têm carga mais relaxada de custo de dívida e uma confiança das pessoas no fiscal. “Isto permite que as autoridades fiscais mantenham a confiança mesmo face a eventos adversos que exigem respostas políticas expansionistas”, ressaltou.

O gerente-geral do BIS afirmou também que a resiliência do setor bancário no mundo teve avanços consideráveis na última década, mas reconheceu que ainda há mais trabalho a ser feito nessa frente. No discurso durante evento na Universidade de Frankfurt, ele disse que os bancos exerceram um papel vital de apoio à economia durante o auge da pandemia de covid-19.

Mesmo quando turbulências surgiram no ano passado, os efeitos mais agudos foram limitados pelo rápido uso de instrumentos de crise por autoridades e os benefícios das reformas adotadas após a crise de 2008, de acordo com ele.

Para Carstens, no entanto, a responsabilidade central pelo vigor do sistema bancário depende primariamente dos próprios bancos. Segundo ele, não há substituto melhor do que modelos de negócio saudáveis, gestão risco adequada e governança eficiente.

Contudo, Carstens admite que os supervisores também podem melhorar sua capacidade para identificar riscos. “Precisamos de informações oportunas, completas e implementação consistente de reformas e regulamentações bancárias, incluindo a Basileia III”, argumentou.

O gerente-geral do BIS defendeu o fortalecimento das estruturas de supervisão e regulação do setor financeiro não bancário. Esse segmento inclui uma ampla gama de empresas, entre elas fundos de hedge e de pensões.

No discurso, Carstens alertou que eventos inesperados nessa área poderiam deflagrar crises sistêmicas.
Segundo ele, é preciso evitar a “nefasta arbitragem” entre atividades financeiras reguladas e não reguladas. “Além disso, a interconectividade do setor com o sistema bancário tradicional e a tendência da intermediação não bancária para gerar alavancagem opaca e excessiva e descasamentos substanciais de liquidez criam riscos sistêmicos”, comentou.

O economista mexicano lembrou que, nos últimos anos, alguns bancos centrais tiveram como agir como “credor de última instância” para mitigar crises e assegurar a confiança no setor financeiro.

“Como tais ações podem entrar em conflito com os interesses centrais do dos bancos para preservar a estabilidade de preços, maior regulação e supervisão do setor não bancário é indispensável”, disse.