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BCE mantém juros pela quarta vez seguida e promete níveis restritivos pelo tempo que for preciso

Desta forma, a taxa de refinanciamento do BCE permanece em 4,50%, a de depósitos, em 4%, e a de empréstimos, em 4,75%.

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07 de março de 2024
Vinicius Palermo
BCE mantém juros pela quarta vez seguida e promete níveis restritivos pelo tempo que for preciso
Na mesma entrevista coletiva, ao lado de Lagarde, o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos

O Banco Central Europeu (BCE) decidiu deixar suas principais taxas de juros inalteradas pela quarta vez consecutiva, após concluir reunião de política monetária na quinta-feira, 7. Desta forma, a taxa de refinanciamento do BCE permanece em 4,50%, a de depósitos, em 4%, e a de empréstimos, em 4,75%.

A decisão veio em linha com a expectativa de analistas. Em comunicado, o BCE reafirmou que os juros ficarão em “níveis restritivos pelo período que for necessário”, embora a inflação da zona do euro tenha desacelerado mais desde sua reunião anterior, de 25 de janeiro. A meta de inflação do BCE é de 2% no médio prazo.

A presidente do BCE, Christine Lagarde, reafirmou nesta quinta-feira, 7, que o corte de juros na zona do euro virá antes que a inflação bata a meta de 2% da instituição, mas também renovou a cautela sobre o quadro. O BCE mantém a postura de que primeiro precisa ter mais certeza de que a inflação caminha para atingir a meta, para apenas então reduzir as taxas.

Ela disse que na reunião de quinta-feira não foi discutido corte de juros. Durante entrevista coletiva, Lagarde disse ver o BCE “próximo” de atingir sua meta, “mas ainda não chegamos lá”. Ela vê pressões inflacionárias ainda elevadas, e enfatizou que o BCE não pretende desviar da meta de inflação em 2% no longo prazo. Além disso, Lagarde destacou que as expectativas de inflação seguem ancoradas “em torno de 2%”.

Na coletiva, a presidente do BCE afirmou que não se comprometeria com o ritmo dos cortes ou dos ajustes na política monetária.

Lagarde e os demais dirigentes têm enfatizado que reagirão aos dados e ao quadro, a cada reunião. Ainda na avaliação da dirigente, os lucros das empresas têm reduzido os impactos do aumento nos custos da mão de obra.

A presidente do Banco Central Europeu afirmou que “há progresso” na desaceleração inflacionária na zona do euro, mas “não o suficiente”. Lagarde disse que o BCE “está pronto para ajustar as taxas, se necessário”, mas acrescentou que mais evidências são necessárias, o que será possível apenas em junho, diante de novas projeções.

Ela ressaltou que o BCE não mudará de opinião com base apenas em um único dado, mas olha o quadro geral. A presidente do BCE disse que os preços de energia continuam a cair, porém em ritmo menor. E mencionou riscos de alta à inflação, como as tensões geopolíticas atuais.

A política monetária atual tem mantido as condições financeiras apertadas, notou, mas a queda na inflação e o aumento salarial ampliarão a renda real, o que apoiará a retomada econômica, previu.

No atual quadro, a inflação doméstica é “majoritariamente” composta pelos preços em serviços, destacou Lagarde.

Ela também disse que o BCE monitora de perto o avanço dos salários e dos lucros, para confirmar se há moderação no quadro, o que contribuiria para a busca da meta de inflação em 2%.

A presidente do Banco Central Europeu afirmou também que a economia da zona do euro “continua fraca”, com consumidores segurando gastos. Ela destacou que ocorreram perdas na demanda e na competitividade na região da moeda comum, mas acrescentou que se nota uma recuperação.

Lagarde diz esperar crescimento na demanda por exportações europeias, e voltou a defender uma implementação “sem atrasos” do arcabouço fiscal da União Europeia. Na coletiva à imprensa, ela também informou que o BCE prepara um novo comunicado sobre os avanços na discussão sobre a união do mercado de capitais da UE.

A presidente do BCE sinalizou que em junho a instituição pode ter uma visão mais clara sobre o cenário, para tomar suas decisões sobre um eventual corte nos juros. Durante entrevista coletiva após a instituição manter as principais taxas de juros inalteradas pela quarta vez consecutiva, a dirigente do BCE notou que haverá poucos dados adicionais em abril, “mas muitos em junho” para embasar a política monetária.

Lagarde disse que os dirigentes discutiram na quinta-feira a possibilidade e como reduzir o nível de aperto nos próximos meses, além de afirmar que a decisão desta quinta-feira foi por unanimidade.

A presidente do BCE disse também que suas decisões não dependem das ações do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) nos Estados Unidos.

Na questão dos salários na zona do euro, ela afirmou que o BCE não quer que o crescimento dos salários seja nulo, mas apenas que arrefeça a pressão inflacionária.

Em outro momento da coletiva, Lagarde tratou da eventual tomada de ativos russos no exterior, no contexto da guerra da Ucrânia. Segundo ela, é importante se respeitar a lei internacional, “para manter a ordem monetária”.

Moscou tem advertido que uma tomada de ativos do tipo seria um desrespeito à legislação global e traria maior insegurança jurídica para negócios pelo mundo. Nesta quinta, Lagarde disse que o BCE estuda um eventual “redirecionamento” de ativos, mas acrescentou que este é um trabalho ainda em andamento.

A presidente do Banco Central Europeu afirmou também que a nova estrutura operacional monetária ainda está em discussão entre os dirigentes e será finalizada até 13 de março, quando deve ser publicada.
“É um assunto técnico altamente sensível, que requer uma boa revisão e explicação”, respondeu, ao ser questionada durante coletiva de imprensa, após decisão monetária do BCE.

Na mesma entrevista coletiva, ao lado de Lagarde, o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, afirmou que o setor imobiliário comercial é “um dos riscos” para a zona do euro, no quadro atual. No momento em que o tema está em foco também nos Estados Unidos, o dirigente comentou que o BCE não vê contágio sério de problemas nesse segmento para os bancos, neste momento. Segundo Guindos, o BCE monitora de perto os riscos com o setor imobiliário comercial.