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BCE diz que impacto de choques na produtividade é incerto no médio prazo

Na avaliação do BC, ainda é incerto como esse quadro afetará as perspectivas de produtividade no médio prazo.

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19 de março de 2024
Vinicius Palermo
BCE diz que impacto de choques na produtividade é incerto no médio prazo
Luis de Guindos, vice-presidente do Banco Central Europeu

O Banco Central Europeu (BCE) discute em texto publicado na terça-feira, 19, choques recentes e mudanças estruturais em andamento na zona do euro e seus efeitos na produtividade. Na avaliação do BC, ainda é incerto como esse quadro afetará as perspectivas de produtividade no médio prazo.

A análise está em um artigo no Boletim Econômico do BCE, assinado por Paloma Lopez-Garcia, Brindusa Anghel, Gert Bijnens, Simon Bunel, Tibor Lalinsky, Wolfgang Modery e Maria T. Valderrama, do quadro da instituição.

Os autores lembram que, nos últimos anos, houve uma série de choques na economia da zona do euro, como a pandemia da covid-19, e as mudanças no setor de energia após a Rússia invadir a Ucrânia, com sanções subsequentes.

Esses fatores interagem com transições em andamento, como a busca por uma economia mais verde e a digitalização. O resultado geral desses choques nas perspectivas de produtividade no médio prazo na zona do euro é algo incerto e isso varia a depender do horizonte temporal, argumentam.

Segundo a análise, as respostas “generosas e rápidas” na política nacional e no nível europeu à pandemia e às medidas de lockdown relacionadas ajudaram a conter o tamanho e a duração dos efeitos do problema sobre as famílias e as empresas.

O artigo avalia que a realocação de recursos que permite maior produtividade não sofreu grande distorção em 2020, mas nota que a pandemia e o apoio da política reduziram o efeito de “limpeza” de uma crise, comparada com ocasiões anteriores similares.

O impacto no nível das empresas da digitalização “tem sido relativamente modesto até agora”, segundo a análise. Uma das razões principais para isso é que poucas empresas têm se beneficiado mais da digitalização, enquanto outras precisam investir em habilidades digitais relevantes e em complementaridades intangíveis para aproveitar todo o ganho potencial na produtividade oriundo da digitalização. “Esse processo se refletirá nos ganhos de produtividade agregada ao longo do mais longo prazo”, afirma.

A transição verde também pode impulsionar a produtividade, “mas isso levará tempo”, avaliam. No curto a médio prazo, pode haver inclusive redução no crescimento da produtividade, com os ajustes necessários nesse processo, apontam.

O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, disse que a instituição terá condições de discutir um possível corte de juros em junho, quando estarão disponíveis mais dados econômicos, em especial de inflação.

“Nós ainda não discutimos nada sobre futuros ajustes dos juros”, afirmou Guindos. “Precisamos coletar mais informações. Em junho, também teremos novas projeções e estaremos preparados para discutir isso”, acrescentou, referindo-se a um possível relaxamento da política monetária.

Segundo Guindos, o maior risco para esse cronograma seria uma combinação de rápido avanço dos salários e fraca produtividade.

“Esses dois fatores juntos podem levar a um aumento significativo nos custos unitários do trabalho”, disse Guindos. “E isso é um risco, especialmente para a inflação de serviços, porque os serviços exigem muita mão de obra e estão protegidos da concorrência estrangeira”.

O BCE busca trazer a inflação da zona do euro de volta à sua meta oficial de 2%. Em fevereiro, a taxa anual da inflação ao consumidor (CPI) do bloco ficou em 2,6%, desacelerando ante 2,8% em janeiro.