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Incertezas

BCE deve ser cauteloso em relação a futuros ajustes de juros

Nagel também reiterou que as decisões do BCE precisam continuar dependendo da evolução dos dados e ser definidas a cada reunião.

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11 de junho de 2024
Vinicius Palermo
BCE deve ser cauteloso em relação a futuros ajustes de juros
O dirigente do Banco Central Europeu (BCE) e presidente do Banco Central da Alemanha (Bundesbank), Joachim Nagel

O dirigente do Banco Central Europeu (BCE) e presidente do Banco Central da Alemanha (Bundesbank), Joachim Nagel, disse que o BCE precisa manter a cautela após cortar juros pela primeira vez em quase cinco anos na semana passada, uma vez que as incertezas sobre a perspectiva da economia e da inflação seguem elevadas.

“Falando de maneira figurativa, não nos vejo no pico de uma montanha a partir do qual haja uma tendência inevitável de queda”, disse Nagel na segunda-feira, 10, referindo-se aos juros do BCE, em discurso durante evento na cidade alemã de Leipzig. “Nos vejo mais em uma cordilheira, onde ainda temos de encontrar o ponto certo para continuar a descida.”

Nagel também reiterou que as decisões do BCE precisam continuar dependendo da evolução dos dados e ser definidas a cada reunião.

Na quinta-feira (6), o BCE cortou suas principais taxas de juros em 25 pontos-base, em meio a expectativas de que a inflação da zona do euro eventualmente volte para a meta oficial de inflação, que é de taxa de 2%. A taxa de depósito, que caiu para 3,75%, não era reduzida desde setembro de 2019.

O integrante do conselho do Banco Central Europeu (BCE) Peter Kazimir acredita que a autoridade deve esperar o verão do Hemisfério Norte antes de contemplar outro corte nas taxas de juros, já que a inflação está longe de ser derrotada e as pressões sobre os preços podem ressurgir. Em seu blog, na segunda-feira, 10, o dirigente escreveu que a “tão esperada redução das taxas de juro diretoras, a primeira desde setembro de 2019, marca um ponto de inflexão”, e surgiu na sequência de expectativas reafirmadas de uma tendência desinflacionária gradual e contínua, com uma recuperação econômica constante.

“No outono, teremos muitas informações e dados novos sobre o desempenho da economia, a situação do mercado de trabalho e as perspectivas econômicas. Setembro será um mês crucial. Obteremos novas estimativas de inflação para este ano e para os próximos dois anos. Esse será o momento certo para reavaliar a nossa posição e decidir se precisamos de ajustar as nossas definições de política monetária.

Em suma, cortar ou não as taxas”, afirmou Kazimir, que também é presidente do Banco da Eslováquia.
“No geral, estou satisfeito com a nossa decisão da semana passada. Os dados atuais não sugerem que precisamos de pressa. Conhecemos o destino e estou confiante de que estamos caminhando nessa direção. Aguardarei os novos dados em setembro”, disse o dirigente. “Se forem necessários mais ajustes, nós os faremos; se não, manteremos o curso”, concluiu.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou na segunda-feira, 10, que a decisão de cortar juros na semana passada não significa que as taxas básicas estão em uma trajetória linear descendente na zona do euro. “Pode haver vezes em que as manteremos em seus níveis atuais”, disse, em entrevista a vários jornais europeus, entre eles o francês Les Echos.

Lagarde explicou que a manutenção da política por mais de uma reunião consecutiva é uma possibilidade, a depender da evolução dos indicadores econômicos. Segundo ela, os dirigentes estão monitorando, em particular, o avanço dos custos de mão de obra e dos salários.

A banqueira central minimizou as divergências no encontro da última quinta-feira, no qual o presidente do BC da Áustria, Robert Holzmann, votou pela manutenção dos juros. Para Lagarde, já não faz mais sentido estabelecer um “forward guidance” explícito por conta do elevado nível de incertezas.