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Flexibilização

BCE corta taxa de depósitos para 3,5% ao ano

O BCE afirmou que está determinado a garantir que a inflação retorne para a meta de 2% em tempo hábil e que as taxas de juros serão mantidas “suficientemente restritivas”.

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12 de setembro de 2024
BCE corta taxa de depósitos para 3,5% ao ano
Foto: Reuters

O Banco Central Europeu (BCE) cortou a taxa de depósito em 25 pontos-base (pb), de 3,75% para 3,50% ao ano, após concluir reunião de política monetária na quinta-feira, 12. Já as outras principais taxas de juros foram cortadas em 60 pb, reduzindo a taxa de refinanciamento, de 4,25% para 3,65%, e a de empréstimos, de 4,50% a 3,90%.

O Banco Central Europeu (BCE) afirmou que está determinado a garantir que a inflação retorne para a meta de 2% em tempo hábil e que as taxas de juros serão mantidas “suficientemente restritivas” pelo tempo necessário para alcançar o objetivo.

“Continuaremos a seguir uma abordagem dependente de dados e reunião por reunião para determinar o nível e a duração apropriados da restrição”, menciona o documento. Segundo o BCE, as decisões sobre taxas de juros serão baseadas em sua avaliação das perspectivas de inflação à luz dos dados econômicos e financeiros recebidos, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária. Não houve o comprometimento de uma trajetória de taxa específica.

Na reunião de setembro, encerrada na manhã de quinta, os dirigentes decidiram ampliar o spread entre juros de empréstimos e de depósitos, que agora ficará em 15 pontos-base. No comunicado, o banco central pondera que a atividade econômica está enfraquecida, mas que a inflação doméstica e o avanço salarial seguem em ritmo elevado, exigindo manutenção prolongada dos juros restritivos. Assim, as mudanças nos juros visam “preservar a transmissão da política monetária” e “garantir a estabilidade de preços”.

Além disso, o BCE elevou projeções para a o núcleo da inflação na zona do euro, prevendo um repique dos preços na parte final do ano. Agora, a equipe do banco central prevê que o núcleo avançará 2,9% em 2024 e 2,3% em 2025, em comparação aos 2,8% e 2,2% previstos em junho. Entretanto, foram mantidas inalteradas em setembro as projeções para o índice cheio da inflação europeia para 2024 e 2025, em 2,5% e 2,2%, respectivamente.

Para 2026, a equipe de analistas do BCE projeta avanço de 1,9% do índice cheio e de 2% do núcleo da inflação, dentro da meta do banco central. Sobre o Produto Interno Bruto (PIB), o BCE cortou projeções de crescimento econômico em 2024 – de 0,9% para 0,8% – e em 2025 – de 1,4% para 1,3%. Em 2026, a previsão é de alta de 1,5% do PIB

A presidente do BCE, Christine Lagarde, projetou que a inflação na zona do euro voltará a acelerar na etapa final deste ano, à medida que os efeitos da queda forte nos preços de energia deixem de aparecer nas taxas anuais. “A inflação deverá, então, cair em direção à nossa meta ao longo do segundo semestre do ano que vem”, acrescentou ela, que reforçou o compromisso da instituição com os objetivos de preços.

Nesse cenário, Lagarde explicou ter sido “apropriado” moderar o nível de restrição da política monetária, depois que a evolução da inflação confirmou o cenário projetado pelo BCE. Segundo ela, as condições de financiamento na região permanecem restritivas.

A presidente do Banco Central Europeu afirmou que a autoridade monetária segue atenta à evolução da inflação de serviços. Lagarde explicou que os índices de preços domésticos seguem altos, à medida que os salários continuam crescendo em “ritmo elevado”.

A banqueira central projetou que os salários negociados seguirão altos e voláteis ao longo do restante deste ano. “No entanto, as pressões sobre os custos trabalhistas estão diminuindo, e os lucros estão amortecendo parcialmente o impacto dos salários mais altos na inflação”, ressaltou Lagarde.

A presidente do Banco Central Europeu afirmou que a atividade econômica da zona do euro enfrenta “ventos contrários”, mas disse que prevê o fortalecimento do ritmo de recuperação ao longo do tempo, à medida que o avanço dos salários impulsione o consumo.

Lagarde explicou que o crescimento da economia poderia se ser mais forte se a inflação caísse de maneira mais rápida do que o esperado, ou se a atividade global se provar mais firme. A banqueira central também classificou de “resiliente” o mercado de trabalho na região. Indicadores de pesquisas recentes apontam para uma maior moderação na demanda por mão de obra”, acrescentou.

Christine Lagarde reiterou que os riscos para o crescimento econômico da zona do euro permanecem enviesados para baixo. Explicou que a demanda mais fraca por exportações deve seguir pesando na atividade, diante do enfraquecimento da economia global e da escalada de tensões comerciais.

Ela acrescentou que as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza representam fontes de incertezas geopolíticas. “Isso pode fazer com que empresas e famílias fiquem menos confiantes sobre o futuro e o comércio global seja interrompido”, comentou ela, que também vê efeito defasado do aperto monetário do BCE.

A banqueira central disse ainda que a desaceleração econômica da Alemanha já era esperada pela equipe do BCE. Para ela, é importante seguir atento aos riscos inflacionários, em particular os efeitos da crise climática nos preços. Mesmo assim, Lagarde disse que os dirigentes monitoram os riscos de inflação abaixo da meta.

Questionada sobre o relatório do ex-presidente do BCE Mario Draghi sobre questões estruturais da economia, Lagarde disse que esse assunto é uma responsabilidade dos governos, não da autoridade monetária.