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BCE admite mais aumentos dos juros

O documento lembra que o BCE indicou que deveria subir os juros em mais 50 pontos-base em março, para depois disso avaliar os próximos passos.

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03 de março de 2023
Vinicius Palermo
BCE admite mais aumentos dos juros
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde

Os dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) consideravam, na última reunião de política monetária, que mais altas nos juros seriam necessárias, a fim de que eles entrem em território “restritivo” para que a inflação retorne à meta. A informação está na ata da reunião realizada em 1º e 2 de fevereiro, publicada na quinta-feira, 2.

O documento lembra que o BCE indicou na ocasião especificamente que deveria subir os juros em mais 50 pontos-base em março, para depois disso avaliar os próximos passos. “De fato, mais altas eram necessárias para que as taxas entrem em território suficientemente restritivo, e era necessário mantê-las em níveis restritivos o suficiente para garantir um retorno no momento adequado da inflação à meta de 2% no médio prazo”, diz a ata.

A alta de juros provável para março, de 50 pontos-base, seria “consistente com uma série de cenários”, segundo o documento. Para além disso, os dirigentes pretendem garantir que reagirão a partir dos dados, tomando decisões a cada reunião.

Houve algumas notícias positivas melhores que o previsto recentemente, mas a situação subjacente na economia “não havia mudado de maneira fundamental desde a reunião de dezembro”, aponta a ata. Os dirigentes concordam que o apoio de governos para proteger a economia do impacto dos preços elevados de energia “deve ser temporário, orientado e desenhado para preservar incentivos de consumir menos energia”.

O BCE também destaca na ata a reação nos mercados a números de janeiro da inflação, mas também acrescenta que aparentemente os investidores agora dão mais atenção ao núcleo da inflação do que ao índice cheio, no contexto atual. Os dirigentes também notaram que, no curto prazo, o ímpeto do núcleo da inflação começou a diminuir um pouco, com tendência de que recue mais com o tempo.

Os dirigentes concordaram que não há sinais de uma espiral de alta de preços, mas há pressões salariais se disseminando, em linha com as projeções de dezembro. Na reunião mais recentes, os dirigentes também viam a economia da zona do euro em melhor situação do que o esperado em dezembro, e argumentavam que fatos recentes estavam em linha com um “pouso suave”, sem recessão.

Uma perspectiva melhor de crescimento, porém, contribuiria para “pressões inflacionárias continuadas”, com isso é improvável que essas pressões parem por si, sem mais aperto na política monetária, diz o texto. Ao mesmo tempo, a ata enfatizava as incertezas do quadro, que poderiam implicar mudança nas perspectivas tanto para um lado quanto para outro.

“Houve “reservas” entre dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) sobre a comunicação proposta de uma intenção para a reunião de março da instituição, mostra a ata da mais recente reunião de política monetária. O documento aponta que havia um “consenso geral” de que o aperto seria necessário, mas também foi trazido o argumento de que os juros estão mais perto de um nível no qual é necessário haver cautela para garantir que não ocorra aperto excessivo.

Diante dessa “incerteza elevada”, a perspectiva inflacionária poderia mudar rápido, para um lado ou outro, aponta a ata. Isso exigirá uma avaliação cuidadosa dos novos dados e do efeito das altas já adotadas sobre a dinâmica de preços. Não apenas diante da meta simétrica de inflação, mas o risco de fazer “muito” merecia tanta consideração quanto de fazer pouco na política monetária, diz o documento.
Na reunião dos dirigentes, foi ainda notado que o impulso no núcleo da inflação no curto prazo começava a declinar um pouco, e a tendência é que recue mais com o tempo.

Além disso, com colchões acumulados por famílias e empresas e demanda substancial reprimida, a política monetária poderia ser apertada sem causar grande dano à economia real, julgavam os dirigentes na ocasião. Esses colchões estavam em níveis ainda elevados, mas diminuíam, o que implicava mais cautela sobre os próximos passos, apontava a ata.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, reafirmou esperar uma elevação de 50 pontos-base (pb) nos juros na reunião de março da instituição. Além disso, ela enfatizou que as próximas decisões dependerão dos indicadores disponíveis, mas disse ser “possível que continuemos por esse caminho” de mais aperto monetário.

Lagarde notou que dados mais recentes da inflação, como os da própria Espanha, sinalizam para uma inflação que pode voltar a subir. Ela enfatizou o compromisso do BCE em atuar para levar a inflação de volta à meta de 2%. De qualquer modo, enfatizou que o banco central continua a monitorar os indicadores, acrescentando que “é impossível garantir agora” os próximos passos.