Economia
Inflação

BC eleva Selic pela primeira vez no terceiro mandato de Lula

As tarifas de luz subirão a partir de setembro por causa da bandeira tarifária vermelha. Além disso, a seca prolongada terá impacto no preço dos alimentos, o que pode elevar ainda mais a inflação.

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18 de setembro de 2024
BC eleva Selic pela primeira vez no terceiro mandato de Lula
Foto: Raphael Ribeiro - BCB

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu na quarta-feira, 18, elevar a taxa básica de juros, a Selic em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano, em decisão unânime. Esta é a primeira alta de juros no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um ferrenho crítico do aumento das taxas. O último aumento da taxa havia sido em 3 de agosto de 2022.

A possibilidade de uma alta gradual, neste que parece ser o início de um ciclo de aperto monetário, havia sido cogitada pelo presidente da instituição, Roberto Campos Neto. A alta de juros era a aposta majoritária do mercado: 53 de 61 instituições consultadas pela reportagem. Seis casas previam manutenção do juro e duas apostavam em elevação de 0,50 ponto da Selic.

A alta ocorre após duas reuniões em que o colegiado optou pela manutenção da taxa. A estagnação da Selic, por sua vez, se seguiu após um ciclo de sete baixas que se estendeu até maio. Com a decisão de alta de 0,25 ponto na quarta-feira, o juro real – descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses – do Brasil está em 7,33%, segundo levantamento do site MoneyYou. O País está atrás apenas da Rússia (9,05%).

A média das 40 economias pesquisadas é de 0,63%. Segundo o BC, o juro neutro brasileiro, que não acelera nem alivia a inflação, é de 4,75%. Na tarde de quarta, o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, cortou os juros em 0,50 ponto, para o intervalo de 4,75% a 5% ao ano.

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial, ficou negativo em 0,02%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda no preço da energia puxou o índice para baixo, mas o alívio na inflação é temporário.

As tarifas de luz subirão a partir de setembro por causa da bandeira tarifária vermelha. Além disso, a seca prolongada terá impacto no preço dos alimentos. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu que o choque de oferta de alimentos não seja resolvido por meio de juros.

Com o resultado, o indicador acumula alta de 4,24 em 12 meses, próximo do teto da meta deste ano. Para 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 4,5% nem ficar abaixo de 1,5% neste ano. 

No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de junho pelo Banco Central, a autoridade monetária manteve a previsão de que o IPCA termine 2024 em 4%, mas a estimativa pode mudar por causa da alta do dólar e do impacto da seca prolongada sobre os preços. O próximo relatório será divulgado no fim de setembro.

As previsões do mercado estão mais pessimistas. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 4,35%, perto do teto da meta. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 4,22%.

O aumento da taxa Selic ajuda a conter a inflação. Isso porque juros mais altos encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas maiores dificultam o crescimento econômico. No último Relatório de Inflação, o Banco Central aumentou para 2,3% a projeção de crescimento para a economia em 2024, mas o número deve ser revisado após o crescimento de 1,4% no Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre.

O mercado projeta crescimento bem melhor. Segundo a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem expansão de 2,96% do PIB em 2024.

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.

Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir.