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Apoio de Lula não impulsiona Boulos e Nunes abre vantagem

O cenário se inverte entre os eleitores de maior renda, com ganhos acima de cinco salários mínimos. Nesse grupo, Boulos lidera com 34% da preferência dos paulistanos.

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20 de setembro de 2024
Apoio de Lula não impulsiona Boulos e Nunes abre vantagem
Foto: Divulgação

A última rodada da pesquisa Datafolha revela que o prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), ampliou vantagem entre o eleitorado de baixa renda, alcançando 31% das intenções de voto – 11 pontos a mais que Guilherme Boulos (PSOL), que não tem visto o apoio do presidente Lula (PT) surtir efeito na periferia.

No levantamento de 12 de setembro, Ricardo Nunes registrava 27% das intenções de voto entre eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos. Em uma semana, o prefeito oscilou positivamente quatro pontos. Boulos, por outro lado, tinha 21% e passou para 20%, mantendo um cenário estável. A margem de erro para esse grupo é de cinco pontos percentuais, para mais ou para menos. No pelotão de baixo estão Pablo Marçal (PRTB), com 13%; José Luiz Datena (PSDB), com 9%; a deputada federal Tabata Amaral (PSB), com 7%; e Marina Helena (Novo), com 4%.

O cenário se inverte entre os eleitores de maior renda, com ganhos acima de cinco salários mínimos. Nesse grupo, Boulos lidera com 34% da preferência dos paulistanos, enquanto o atual prefeito, Ricardo Nunes, registra 22%. A margem nesse estrato é maior: sete pontos porcentuais.

Em certa medida, a situação de Boulos lembra a de Lula nas eleições presidenciais de 1989. Naquele ano, Lula disputava o Palácio do Planalto com Fernando Collor de Mello (PRN na época). Uma pesquisa Ibope realizada às vésperas do segundo turno mostrava Collor com 51% das intenções de voto entre eleitores que ganhavam até dois salários mínimos, enquanto Lula tinha 41%. Entre aqueles com renda de cinco a dez salários mínimos, Lula liderava com 51%, contra 40% de Collor. O petista acabou perdendo a disputa.

Naquela época, Lula avaliou que o PT havia conseguido conquistar parte da classe média, mas enfrentava dificuldades para se conectar com eleitores de renda mais baixa. As pesquisas do Datafolha indicam que a participação do presidente Lula na eleição para a Prefeitura de São Paulo teve, até agora, efeito limitado sobre a candidatura do deputado federal. Desde o início da campanha, em 16 de agosto, o líder sem-teto tem oscilado dentro da margem de erro e não conseguiu se consolidar como o candidato da periferia, segmento em que o atual prefeito tem ganhado espaço.

Estrategistas de Boulos apostavam que a entrada de Lula na disputa atrairia o apoio do eleitorado de baixa renda para o psolista, retirando votos do atual prefeito. Mas essa expectativa, até agora, não se confirmou. De acordo com integrantes da campanha de Guilherme Boulos, o presidente Lula deve intensificar sua presença em São Paulo na reta final do pleito, participando de agendas de rua ao lado do deputado federal, numa estratégia para fortalecer o apoio ao candidato do PSOL na periferia.

Integrantes da campanha também avaliam que o eleitorado de baixa renda tende a demorar mais para decidir seu voto, em comparação com o eleitorado de renda mais alta. Isso ocorre porque, em teoria, essa camada do eleitorado está mais preocupada com questões práticas do dia a dia, como estudos e trabalho. Porém, analistas políticos esperavam que Boulos começasse a ganhar apoio entre os eleitores de baixa renda após 15 dias de campanha no rádio e na TV. Essa expectativa foi reforçada pelo Datafolha no último dia 12, quando o psolista oscilou dois pontos percentuais para cima. No entanto, a pesquisa divulgada nesta quinta-feira, 19, frustrou essas expectativas, uma vez que o crescimento esperado não ocorreu.

O presidente fez quase uma agenda por mês com o líder sem-teto em São Paulo. A primeira vez que Lula subiu ao palanque do psolista foi em dezembro de 2023, durante a assinatura do contrato para as obras do empreendimento habitacional Copa do Povo, em Itaquera, Zona Leste da capital. Desde então, os dois compartilharam o palco em diversos momentos, como no evento de filiação de Marta Suplicy ao PT e no ato das centrais sindicais, momento em que Lula pediu voto ao candidato do PSOL e depois foi multado por propaganda eleitoral antecipada. O encontro mais recente ocorreu no mês passado, quando o presidente participou de comícios de Boulos e Marta no Campo Limpo e em São Miguel Paulista.