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Amorim evita endossar relato de fraude na Venezuela

O assessor especial do governo brasileiro para assuntos internacionais, Celso Amorim, cobrou transparência no processo eleitoral

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29 de julho de 2024
Vinicius Palermo
Amorim evita endossar relato de fraude na Venezuela
O assessor especial do governo brasileiro para assuntos internacionais, Celso Amorim

O assessor especial do governo brasileiro para assuntos internacionais, Celso Amorim, cobrou transparência no processo eleitoral da Venezuela e disse aguardar que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ofereça as atas que embasam a vitória de Nicolás Maduro no pleito de domingo, 28. Amorim, contudo, afirmou que não irá endossar “nenhuma narrativa de fraude” nas eleições presidenciais.

“O governo brasileiro continua acompanhando o desenrolar dos acontecimentos para poder chegar a uma avaliação baseada em fatos. Como em toda eleição, tem que haver transparência, o CNE ficou de fornecer as atas que embasam o resultado anunciado”, afirmou Amorim, em nota divulgada na segunda-feira, 29.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou na madrugada de segunda a vitória de Maduro na eleição presidencial na Venezuela. Após o resultado eleitoral, Amorim conversou com Lula para apresentar ao chefe do Executivo federal o panorama das eleições.

Desde o fechamento das urnas, há indícios de fraude eleitoral no país vizinho. A oposição diz não ter tido acesso a 70% das atas eleitorais do país. As sessões ficaram abertas até depois do horário em áreas predominantemente chavistas e, em áreas opositoras, houve relatos de intimidação e criação de empecilhos para votar.

Apesar das acusações, Amorim evitou endossar a narrativa de fraude. “Não vou endossar nenhuma narrativa de que houve fraude. É uma situação complexa e nós queremos apoiar a normalização do processo político venezuelano”, complementou.

O assessor foi enviado na sexta-feira, 26, ao país vizinho para acompanhar o pleito. Diante da situação, Amorim deve falar com observadores eleitorais e conversar com representantes das principais candidaturas, a de Maduro e a do líder de oposição, Edmundo González, para se fechar questão sobre a posição do governo brasileiro em relação ao tema.

A expectativa com o envio do assessor é que seu relato sobre a situação do país vizinho deve dar respaldo à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu posicionamento sobre o pleito.

Mais cedo, o Palácio Itamaraty divulgou nota e disse acompanhar “com atenção” o processo de apuração da eleição na Venezuela. O Ministério das Relações Exteriores reafirmou o princípio fundamental da soberania popular e disse aguardar publicação do CNE dos dados desagregados por mesa de votação que, segundo a gestão brasileira, é passo “indispensável” para a legitimidade do pleito.

Já o presidente da Argentina, Javier Milei, pediu a saída de Maduro no poder e o reconhecimento da vitória da oposição venezuelana. “Os resultados mostram uma vitória esmagadora da oposição e o mundo aguarda que Maduro reconheça a derrota depois de anos de socialismo, miséria, decadência e morte”, destacou.

O argentino apontou que Buenos Aires não vai reconhecer uma “fraude eleitoral” e pediu que as Forças Armadas da Venezuela defendam a democracia e a vontade popular.

Com os resultados contestados, a comunidade internacional pressiona a Venezuela por transparência sobre o processo eleitoral. As cobranças vêm até mesmo de governos de esquerda na América do Sul, como o de Gabriel Boric, no Chile, e o de Gustavo Petro, na Colômbia.

De Bogotá, o ministro das Relações Exteriores Luis Gilberto Murillo pediu contagem total e verificação independente dos votos para “eliminar qualquer dúvida sobre os resultados”.

Antes do pleito, o presidente Gustavo Petro costurava com a ditadura de Nicolás Maduro e a oposição uma saída negociada para as eleições, com garantias de segurança para o derrotado. O plano colombiano foi discutido também com o presidente Lula, que ainda não se manifestou publicamente.