Economia
Fraude

Americanas refuta argumentações de ex-CEO e volta a acusar Gutierrez

A Americanas afirma ainda que o executivo tem responsabilidade direta na fraude nas contas da empresa.

Compartilhe:
11 de setembro de 2023
Vinicius Palermo
Americanas refuta argumentações de ex-CEO e volta a acusar Gutierrez
Em nota à imprensa, a companhia destaca que o ex-dirigente da Americanas não apresentou contraprovas

A Americanas refutou na segunda-feira, 11, as argumentações do ex-CEO da empresa, Miguel Gutierrez, apresentadas em processo judicial movido pelo Bradesco contra a Americanas. A varejista afirma ainda que o executivo tem responsabilidade direta na fraude nas contas da empresa.

Em nota à imprensa, a companhia destaca que o ex-dirigente da Americanas não apresentou contraprovas, em nenhum momento, para os documentos e fatos apresentados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no dia 13 de junho de 2023, que demonstram a sua participação na fraude.

“O mesmo se deu com os demais órgãos competentes que atuam nas investigações do ocorrido e que já acataram e homologaram delações premiadas de ex-executivos da companhia”, afirma a empresa.

A Americanas reforça ainda que foi a única parte a apresentar provas no âmbito do processo judicial e reitera a afirmação sobre a fraude e a responsabilidade direta do ex-CEO a partir da exposição de novas evidências apresentadas nesta manifestação.

A varejista diz que o arquivo digitalizado com anotações de próprio punho de Miguel Gutierrez, localizadas em equipamento eletrônico da companhia por ele utilizado, apontam a existência de duas versões dos demonstrativos da Americanas, uma de uso interno da antiga diretoria e outra destinada ao Conselho de Administração.

Segundo a empresa, o e-mail enviado por Miguel Gutierrez aos ex-diretores tem orientações para que não fossem levadas, em reunião com Sérgio Rial, respostas a dúvidas sensíveis em relação ao quarto trimestre e endividamento da companhia.

Conforme a empresa, no e-mail enviado pelo ex-CEO aos ex-diretores envolvidos na fraude, Gutierrez reclama do “mar de comentários”, referindo-se a diligentes questionamentos dos membros do Comitê de Auditoria, em linha com as boas práticas de governança recomendadas.

“Adicionalmente, foram identificadas várias contradições e mentiras nas alegações contidas na carta apresentada por Miguel Gutierrez, tais como: Miguel Gutierrez alega que a companhia passava por situação financeira difícil no segundo semestre, que precisaria de aporte de capital e que todos os órgãos da administração tinham ciência desse fato. Documentos apresentados ao Comitê Financeiro em 07 de novembro de 2022, arquivados no portal de governança da companhia e já disponibilizados à CPI e demais autoridades, mostram de forma inequívoca que a antiga diretoria, liderada por Miguel Gutierrez, apresentou aos conselheiros visão de que a Americanas geraria R$ 500 milhões de caixa no quarto trimestre de 2022 e continuaria gerando caixa nos anos subsequentes, mantendo índice de endividamento financeiro saudável”, afirma.

A empresa cita ainda que outra argumentação sem fundamento apresentada é a de que os órgãos sociais deliberavam sobre questões estratégicas da Americanas sem conhecimento e participação do ex-CEO Miguel Gutierrez. “Esta falsa afirmativa cai por terra diante de mensagem sobre ações do Comitê Financeiro, assim como de agendas de reuniões do conselho, que mostram que o senhor Miguel Gutierrez era ativo na gestão da companhia, como é de se esperar de qualquer presidente de empresa”, diz.

A Americanas reitera que tanto as afirmações supracitadas quanto as evidências que as certificam constam da petição protocolada em resposta ao agravo em processo judicial de autoria do Bradesco e lamenta a posição da instituição financeira, não compartilhada pelos demais bancos credores da companhia, que seguem empenhados num consenso ao Plano de Recuperação Judicial.

A varejista reafirma ainda que o relatório preliminar apresentado na Comissão Parlamentar de Inquérito se baseia em documentos levantados pelo Comitê de Investigação Independente, além de documentos complementares identificados pela Administração e seus assessores jurídicos, que formataram os documentos em um relatório que indica que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas, capitaneada por Miguel Gutierrez.

“A companhia confia na competência de todas as autoridades envolvidas nas apurações e investigações, à frente das conduções de delações homologadas já em segredo de justiça, que devem trazer ainda mais robustez às já contundentes provas apresentadas. A Americanas reforça que é a maior interessada no esclarecimento dos fatos e que irá responsabilizar judicialmente todos os envolvidos na fraude”, conclui a empresa.

Gutierrez rebateu – por meio de nota redigida pela sua defesa – as acusações feitas pela Americanas na Justiça. “É incompreensível a insistência da Americanas em se precipitar à conclusão das autoridades para proteger seus acionistas controladores e membros do conselho de administração – que têm responsabilidade nas áreas financeira e contábil”, diz a nota.

O texto continua afirmando que “a companhia tropeça, assim, na tentativa de proteger pessoas que teriam muito mais condições de ressarci-la pelos danos que diz ter sofrido”.

A resposta de Gutierrez vem após a Americanas apresentar um agravo no processo movido pelo Bradesco na busca da produção antecipada de provas. A varejista afirma, entre outras coisas, que o ex-CEO teria passado a agir de forma orquestrada com a instituição financeira nesse processo.

“Logo após a petição do Bradesco, numa jogada milimetricamente combinada, Miguel Gutierrez apresentou sua manifestação respondendo à petição do agravado e juntando declaração (supostamente por ele escrita), em que buscaria tornar públicos os esclarecimentos necessários a se desfazer integralmente as aleivosias e os ataques reiteradamente realizados sem qualquer lastro probatório”, diz a Americanas em seu agravo.

A varejista afirmou ainda que, em sua declaração, Gutierrez “não só não traz qualquer prova do que diz, como, ao contrário, sua narrativa totalmente falaciosa é facilmente desmentida por um conjunto irrefutável de evidências”.

Sobre as evidências apontadas pela empresa, a defesa do ex-CEO diz que os documentos são selecionados para compor a narrativa da atual administração e que, ainda assim, não relacionam o ex-executivo ao ponto central da fraude.

“Mais uma vez, a atual administração da Americanas pinça documentos fora de contexto na tentativa de corroborar sua narrativa falsa e incomprovada de que Miguel Gutierrez teria participado de uma fraude. As novas alegações da companhia serão rebatidas nos foros próprios do processo, mas chama a atenção que nenhum daqueles documentos sequer se relaciona com VPC (verbas cooperadas de publicidade) ou risco-sacado, temas que a companhia disse, no fato relevante de 13/06, corresponderem à fraude”, diz a nota.