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Amazônia bate recorde de queimadas em fevereiro

Na comparação com todo o mês de fevereiro do ano passado (734 focos), a Amazônia registra alta de 298% de focos de incêndio em um ano.

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27 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Amazônia bate recorde de queimadas em fevereiro
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, participa de encontro da Câmara Americana de Comércio - Amcham Brasil, na Sala São Paulo, em Campos Elísios. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A Amazônia enfrenta um recorde de focos de incêndio para o mês de fevereiro, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. Com 2.924 pontos de queimadas identificados pelas imagens de satélite até o último dia 26, a quantidade é a maior desde o início da série histórica, iniciada em 1999.

No 2º semestre de 2023, algumas regiões da floresta, como no Amazonas, tiveram picos de incêndios. A própria gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu que a estrutura de combate ao fogo era insuficiente, embora tivessem contratado mais brigadistas. Especialistas já alertavam para os efeitos do El Niño na região, que tem a estiagem agravada pelo fenômeno climático.

Embora tenha baixado pela metade o desmatamento em 2023, o insucesso na prevenção de incêndios tem pressionado o governo, que prometeu ter a proteção ambiental como uma de suas principais bandeiras. Procurado pela reportagem, o Ministério do Meio Ambiente não se manifestou.

Na comparação com todo o mês de fevereiro do ano passado (734 focos), a Amazônia registra alta de 298% de focos de incêndio em um ano. O número deste ano pode aumentar até o fechamento do mês, na quinta-feira, 29. Os dados são atualizados todos os dias pelo Inpe.

Na maior parte da Amazônia, a estação seca começa em julho, com ápice em agosto, e vai até outubro. Nessa época, a vegetação e a matéria orgânica no solo ficam propícias à queima. Isso, somado ao ar menos úmido, espalha as chamas com mais rapidez e dificulta o combate.

Por ser uma floresta úmida, especialistas destacam que dificilmente a floresta pega fogo sozinha e a maioria das queimadas envolve ação humana criminosa. Em grande parte dos casos, os incêndios servem para abrir novas áreas de pastagem.

A preservação do bioma, a floresta tropical com maior biodiversidade do planeta, é considerada fundamental para frear o agravamento das mudanças climáticas. A maior fonte de origem dos gases de efeito estufa lançados pelo Brasil na atmosfera é o desmate.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reforçou durante encontro na terça-feira, 27, com a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, o compromisso brasileiro de zerar o desmatamento, principal responsável pelas emissões do País. Ela também aproveitou a presença de empresários em evento da Amcham Brasil para pedir a participação do setor privado nos investimentos necessários ao enfrentamento das mudanças climáticas.

Ao citar, durante o painel com Yellen, a redução de 50% do desmatamento, evitando a emissão de 250 milhões de toneladas de CO2 à atmosfera, Marina frisou que o empenho do governo em reduzir as queimadas nas florestas e controlar as atividades ilegais nos biomas já tem resultados expressivos. “O compromisso do presidente Lula até 2030 é zerar o desmatamento”, afirmou a ministra. Segundo ela, o desenvolvimento tecnológico permite ao País aumentar sua produtividade e produção sem a necessidade de desmatar.

Ela disse que o País vem criando mecanismos que estimulem a preservação da floresta, assim como mobilizando investimentos públicos e privados a este objetivo, como o programa de proteção cambial anunciado ontem, que tem participação do Banco Central e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Marina participou do lançamento do programa e reforçou a necessidade de investimentos privados em projetos de infraestrutura.

Marina substituiu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no evento da Amcham, realizado na Sala São Paulo, centro da capital paulista, porque o titular da pasta econômica testou positivo para covid-19. Ela agradeceu a Yellen pelos aportes de recursos feitos pelos Estados Unidos no Fundo Amazônia e chamou a atenção ao fortalecimento das relações entre os países nas administrações de Lula e Joe Biden.

Ao citar o plano de transformação ecológica, cujo objetivo é inserir o Brasil no cenário internacional, integrando desenvolvimento ambiental, social e econômico, Marina ressaltou que, pela primeira vez, há sinergia entre as políticas econômica e ambiental no Brasil.

“O Brasil é um país em desenvolvimento que requer muitos investimentos na parte de infraestrutura. São investimentos que precisam da iniciativa privada e de recursos de outros países, como os Estados Unidos”, declarou Marina.

A ministra pontuou ainda o papel que o Brasil pode ter de, com o hidrogênio verde, ajudar a transição energética em outros países. Ela elogiou ainda o governo Biden por cortar as exportações de gás, que haviam aumentado muito. “Isso é uma ação corajosa.”