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Emergência climática

Marina Silva defende constrangimento ético contra mudanças climáticas

Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é preciso tratar a crise ambiental global com senso de urgência e medidas disruptivas.

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01 de outubro de 2024
Vinicius Palermo
Marina Silva defende constrangimento ético contra mudanças climáticas
A ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, defendeu, na segunda-feira (30), que governos e empresas sejam constrangidos eticamente para que o mundo avance no enfrentamento das mudanças climáticas. Segundo a ministra, é preciso tratar a crise ambiental global com senso de urgência e medidas disruptivas.

“Vamos fazer um balanço geral ético, para verificar quais são as propostas, as ideias e as práticas que sejam éticas para manter saudável o sistema climático. E vamos fazer isso mobilizando diferentes regiões, com artistas, pessoas da academia, lideranças políticas da área de proteção ao meio ambiente e enfrentamento da mudança do clima, juventude, mulheres, povos tradicionais, empresários. Será um processo que cria um constrangimento ético a governos e empresas para que se possa fazer a transição justa e adequada do enfrentamento da mudança do clima.”

A ministra participou de um seminário que discutiu formas de financiar a conservação da natureza, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.

“Como a gente pode pensar na proteção do capital natural, estabelecendo mecanismos para que se tenha um lastro de natureza que possibilite a manutenção dos serviços ecossistêmicos que mantêm a proteção da vida na Terra? É preciso que essa discussão ganhe força. Do mesmo jeito que tivemos os acordos de Basileia em 2008, é preciso ter um acordo para poder estabelecer um coeficiente do nosso patrimônio natural, que precisa ser preservado”, disse Marina.

De acordo com a ministra, a cúpula do G20, marcada para novembro no Rio de Janeiro, sob a presidência do Brasil, será uma grande oportunidade para dialogar com o mundo, em busca de finanças sustentáveis e na direção da taxação de super-ricos, para viabilizar recursos e fazer, mais que adaptação e mitigação, a transformação do modelo insustentável que leva a esse agravamento da mudança do clima. “Estamos buscando cada vez mais liderar pelo exemplo”.

O G20, ou Grupo dos 20, é formado pelos ministros de Finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo, mais a União Africana e a União Europeia.

A ministra afirmou ainda que ações tomadas pelo governo federal desde janeiro de 2023 evitaram um quadro ainda pior em relação à seca e às queimadas. Entre as ações tomadas pelo governo estão o aumento das equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), ampliação de recursos orçamentários para o meio ambiente, o combate ao desmatamento e a articulação com governos estaduais e municipais.

“O desmatamento estava crescendo, quando o presidente Lula assumiu o governo, em 80%. Não só nós paramos essa ascendência, como conseguimos empurrá-lo para baixo. Não só na Amazônia como agora no Cerrado, onde o desmatamento está caindo há cinco meses”, disse a ministra.

“Isso faz com que a gente tenha uma situação que não esteja incomparavelmente pior do que estaria se tivesse a ‘boiada’ passando”, completou, em alusão a fala do titular da pasta do governo Bolsonaro, Ricardo Salles.

Segundo Marina, as situações de seca e de queimadas que se espalham pelo país, mostram que é preciso ampliar e reforçar as ações governamentais em relação ao enfrentamento da emergência climática. “Não só na gestão do desastre, mas a gestão do risco a partir do princípio da precaução”.

A ministra destacou ainda que a Polícia Federal abriu mais de 80 inquéritos para investigar casos de queimada criminosa.

Sobre a exploração do petróleo na foz do Rio Amazonas, Marina voltou a falar que as licenças ambientais estão sendo tratadas de forma técnica. “A área técnica tem o seu tempo necessário para fazer a análise. No tempo adequado, eles fazem suas manifestações em bases técnicas; É assim que ocorre em um governo republicano”.

Sobre a Autoridade de Emergência Climática, a ministra explicou que o governo ainda trabalha no desenho institucional do órgão.

O Rio Negro registrou a marca de 13,19 metros na segunda-feira (30), ultrapassando a seca de 2010 quando o rio que banha a capital amazonense chegou a 13,63 metros.

Comparado com o ano passado quando o Rio Negro chegou à cota de 12,70 metros, ele está a 49 centímetros para alcançar o recorde em 120 anos.

De acordo com o Serviço Geológico do Brasil a previsão é que em 2024 a seca do Negro supere a de 2023.

O rio tem descido em média 19 centímetros por dia. Desta forma, a previsão é que em cerca de quatro dias Manaus alcançará a pior seca de todos os tempos.

O Rio Negro é o maior rio em extensão na Bacia Amazônica, sendo um dos maiores rios do mundo em volume de água.

A estiagem no Amazonas afeta mais de meio milhão de pessoas, com cerca de 140.300 famílias prejudicadas de alguma forma pela descida das águas. Todos os municípios do estado estão em situação de emergência.