Economia
Teto de gastos

Campos Neto reitera que não existe harmonia monetária sem ajuste fiscal

Campos Neto avaliou ainda que, apesar de momentos de tensão no mercado em relação à economia norte-americana, os fundamentos dos Estados Unidos são bons.

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27 de setembro de 2024
Vinicius Palermo
Campos Neto reitera que não existe harmonia monetária sem ajuste fiscal
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto,

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu na sexta-feira, 27, que todos os ciclos de queda sustentada dos juros no Brasil foram acompanhados por “choques positivos” na seara fiscal. Eventos como a aprovação do teto dos gastos e do arcabouço fiscal, ele disse, abriram espaço para trabalhar com uma taxa Selic menor.

“Em todos os momentos na história recente brasileira, você ser capaz de cair os juros e conviver com os juros mais baixos, está associado a um choque positivo no fiscal. Não existe harmonia monetária sem ter harmonia fiscal”, afirmou Campos Neto, em um evento organizado pela 1618 Investimentos.

Campos Neto avaliou ainda que, apesar de momentos de tensão no mercado em relação à economia norte-americana, os fundamentos dos Estados Unidos são bons.

A avaliação é de que os Estados Unidos têm dado foco em investimentos para melhorar a produtividade. Se o pouso da maior economia do mundo vai ser suave (soft landing) ou não, ponderou, vai depender da evolução da dívida.

Campos Neto voltou a destacar a falta de um debate sobre ajuste fiscal nas eleições norte-americanas.
Os Estados Unidos, porém, não são os únicos a não dar atenção devida aos riscos fiscais. “A preocupação de médio prazo é a dívida global grande, e nenhum país está falando de ajuste fiscal”, disse Campos Neto.

Ainda sobre os EUA, o presidente do Banco Central disse que as principais propostas dos candidatos Kamala Harris e Donald Trump são inflacionárias.

“Não existe sinal que Estados Unidos queiram controlar ou fazer ajuste no fiscal … Está caindo a ficha globalmente de que dívida global e dos Estados Unidos é muito alta”, disse o banqueiro central. Tanto direita quanto esquerda, pontuou, mudaram o discurso para uma abordagem mais expansionista no fiscal.

Campos Neto afirmou também que existe uma grande rejeição ao novo modelo econômico da China, baseado em aumento de oferta e exportações. Ele observou que o novo modelo da China, muito baseado em carros e eletrificação, vem elevando as restrições comerciais contra o país asiático “quase exponencialmente”.

Conforme Campos Neto, a barra é alta para governos e bancos centrais resgatarem a economia global, diante do aumento de 25% em dois terços da dívida global durante a pandemia, quando o custo do endividamento também triplicou. Fora isso, observa-se volatilidade nos mercados pelo medo muito grande de desaceleração mais forte nos Estados Unidos.

O presidente do Banco Central voltou a defender a autonomia financeira e administrativa da instituição. “É importante avançarmos na autonomia financeira e administrativa”, disse em encontro da gestora 1618 Investimentos.

Segundo o banqueiro central, um governo pode asfixiar a autonomia operacional do BC pelos canais financeiro e administrativo.

Em um balanço de seu mandato à frente do BC, que termina em 31 de dezembro, Campos Neto disse ter lutado muito pela independência da autarquia. Agora, espera que o próximo presidente pense no que pode ser melhorado.

Na sexta-feira, a imprensa pôde acompanhar a fala do presidente do BC remotamente, porém a transmissão oscilou bastante. Parte da palestra não foi transmitida em tempo real por problemas técnicos.

A transmissão da palestra foi marcada por diversas falhas, o que muitas vezes impediu que se acompanhasse completamente o raciocínio do chefe do BC.