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Durigan mostra preocupação em relação a aumento da inadimplência

Durigan ressaltou que a Fazenda vai começar a bloquear as empresas de apostas que não pediram autorização para atuarem no País.

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25 de setembro de 2024
Vinicius Palermo
Durigan mostra preocupação em relação a aumento da inadimplência
O secretário-executivo e ministro interino da Fazenda, Dario Durigan

O secretário-executivo e ministro interino da Fazenda, Dario Durigan, disse na quarta-feira, 25, que há no governo, em especial na pasta, uma grande preocupação com eventual aumento da inadimplência no País, devido ao elevado comprometimento da renda das famílias em jogos nas plataformas de apostas, as chamadas Bets. No Brasil, de acordo com ele, 113 Bets pediram autorização para operar.

“Tanto é uma preocupação da Fazenda que faz parte da regulação – já editada por nós, da Fazenda – a obrigação de compartilhamento de informação das empresas, que tiverem autorização da Fazenda, para o controle de endividamento por CPF”, disse Durigan.

“Vai ter uma obrigação das empresas de monitorarem e informarem o Ministério da Fazenda. Então, haverá o compartilhamento em tempo real das informações das empresas que são sérias. Elas já têm uma fatia importante da economia brasileira, patrocinam a TV, o futebol e vários outros setores da economia”, acrescentou, em entrevista após participar de evento, em São Paulo, promovido pela Mercado Livre.

Ele lamentou o fato de não haver, até hoje, uma regulamentação da lei que legalizou as Bets no Brasil, em 2008, no governo Temer. Só agora, segundo ele, é que há um projeto já pronto, feito pelo Ministério da Fazenda para regulamentar as Bets no País.

“Se tem alguém que atuou para conter os abusos das Bets, este alguém é Ministério da Fazenda”, disse o ministro em exercício da pasta.

Durigan foi bastante enfático ao afirmar que, a partir de 1º de outubro, a Fazenda vai começar a bloquear as empresas de apostas que não pediram autorização para atuarem no País.

“A gente tem que fazer um trabalho de conformidade. Temos muito forte essa linha de soberania nacional e conformidade. Isso foi feito, por exemplo, com o que se chamou de blusinhas. Foi feito um trabalho de remessa conforme as empresas aderiram e começaram a compartilhar dados. A mesma coisa precisa ser feita com as Bets”, acrescentou.

“Por exemplo, na área de publicidade a gente já tem falado com elas. Não se pode falar que aposta é investimento. Não se pode falar que a pessoa vai ficar rica fazendo aposta. A aposta, no agregado, é sempre um motivo de perda de dinheiro porque a banca sempre ganha, e esse mote é valido para apostas online”, disse Durigan.

Ele observou também que o trabalho de conscientização – de que pode ser uma opção de lazer e de que o jogo tem que ser responsável, feito com cuidado para não afetar a saúde mental – parte do Ministério da Fazenda. De acordo o secretário, a solução passa pela regulação forte que o Ministério da Fazenda tem conduzido em parceria com o Ministério do Esporte, o Ministério da Saúde e o Ministério da Justiça.

Durigan explicou também que a Fazenda já conversou com a Anatel e com a Secretaria de Tecnologia para passarem a bloquear as plataformas de apostas que ainda não pediram autorização para operar no País. “As 113 empresas que pediram autorização para atuarem no Brasil terão também que informar os sites pelos quais elas operam”, acrescentou.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) informou ter ingressado na terça-feira, 24, com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo o fim da operação dos cassinos on-line no País. A ação contesta a Lei 14.790/2023, conhecida como “Lei das Bets”, sob o argumento de que a legislação que regulamenta as apostas de cota fixa no Brasil “está causando graves impactos sociais e econômicos”.

“A confederação solicita, em caráter liminar, que o STF suspenda a eficácia da lei até que o mérito da questão seja julgado, a fim de evitar maiores danos ao comércio e à economia do país”, declarou.

A CNC encaminhou também na terça um ofício ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que manifesta “grande preocupação com o crescimento descontrolado” das apostas on-line no Brasil, em especial dos cassinos virtuais. O documento foi entregue ainda aos ministérios da Fazenda, da Justiça e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, além dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados.

Na ação no STF, a CNC argumenta que “a disseminação desenfreada das apostas on-line estaria criando um ciclo de dependência, principalmente entre os mais vulneráveis, o que tem levado à redução do consumo de bens essenciais e afetado diretamente o comércio”.

Segundo a entidade, a lei não estabelece medidas eficazes para combater o vício em jogos, o que contribuiria para agravar o nível de endividamento das famílias.

“A CNC pede que a lei seja declarada inconstitucional, apontando violações aos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da ordem econômica e da proteção à saúde”, comunicou a entidade.

A CNC divulgou na última sexta-feira, 20, um estudo mostrando que mais de 1,3 milhão de brasileiros teriam ficado inadimplentes no primeiro semestre de 2024 devido a apostas em cassinos on-line. A entidade afirma que os apostadores têm usado “sem controle” cartão de crédito nessas plataformas de jogos, o que contribui para um aumento das contas em atraso.

Os brasileiros já gastaram R$ 68 bilhões em jogos entre junho de 2023 e junho de 2024, o equivalente a 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, apontou a CNC. O montante revela que 22% da renda disponível das famílias foram destinados às apostas no último ano, “gerando uma série de consequências econômicas e sociais”, alertou a entidade.