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Copom admite que ajustes futuros na Selic serão ditados pela inflação

O documento foi divulgado na terça-feira, 24, pelo BC e detalha o que levou a cúpula da instituição a realizar o primeiro aumento da taxa

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24 de setembro de 2024
Vinicius Palermo
Copom admite que ajustes futuros na Selic serão ditados pela inflação
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto

O Comitê de Política Monetária (Copom) repetiu, na ata a sua mais recente decisão, que os próximos ajustes na Selic e a magnitude total do ciclo de aumento dos juros serão determinados pelo seu “firme compromisso de convergência da inflação à meta”, assim como já constava no comunicado da última quarta-feira, 18.

O documento foi divulgado na terça-feira, 24, pelo Banco Central e detalha o que levou a cúpula da instituição a realizar o primeiro aumento da taxa no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

“O cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista”, diz a ata do Copom, repetindo o mesmo texto usado no comunicado.

Na semana passada, o colegiado aumentou a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, de 10,5% para 10,75% ao ano. Na segunda, o relatório Focus mostrou que o mercado voltou a aumentar as projeções para o aperto monetário, passando a estimar elevação da taxa Selic até 11,75% ao ano em janeiro de 2025, com altas de 0,25 a 0,5 ponto porcentual nas três próximas reuniões. Mesmo assim, as expectativas de inflação também voltaram a aumentar.

Na ata, o Comitê repetiu que os próximos ajustes na taxa Selic dependerão, também, “da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.

O BC também trouxe novamente as mesmas projeções de inflação que já constavam no comunicado. A estimativa para o IPCA acumulado em quatro trimestres no primeiro trimestre de 2026 – o horizonte relevante da política monetária – é de 3,50% no cenário de referência, com a trajetória de juros extraída do Focus (até 13 de setembro) e dólar partindo de R$ 5,60 e evoluindo conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC). Essa estimativa considera uma alta de 3,90% para os preços administrados e de 3,40% para os livres.

A autoridade monetária espera que o IPCA feche 2024 em 4,30%, com alta de 4,20% para os preços administrados e de 4,40% para os livres, e desacelere a 3,70% no ano que vem, considerando uma taxa de 4,0% para os preços administrados e de 3,60% para os livres. O BC repetiu a tabela inaugurada no comunicado recente.

As projeções do BC para a inflação de todos os anos estão abaixo das medianas do mercado, que indicam inflação de 4,37% em 2024, 3,97% em 2025 e 3,88% nos 12 meses encerrados em março de 2026, conforme o relatório Focus.

O Copom reforçou que o ambiente externo permanece desafiador, em função do momento de inflexão do ciclo econômico nos Estados Unidos, o que “suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed”.

O colegiado enfatizou que os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. “O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes”, alertou.

Em relação ao cenário doméstico, a cúpula do Banco Central citou que o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo.

A ata ressaltou também que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes. O documento lembrou que as expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,4% e 4,0%, respectivamente.

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ressaltou na terça-feira, 24, que a economia dos Estados Unidos está desacelerando, mas não tanto quanto o mercado esperava. Não há nada nos preços, segundo ele, que aponte a uma recessão no país.

“Os dados mostram desaceleração, mas não mostram desaceleração muito forte”, disse o banqueiro central durante palestra em conferência do Safra. Ele citou algumas surpresas de indicadores recentes da atividade na maior economia do mundo, que perderam menos ritmo do que as projeções antecipavam.

Segundo Campos Neto, os Estados Unidos são a única economia desenvolvida com crescimento forte e ganhos de produtividade, com destaque para os serviços, atividade que, pontuou, segue crescendo acima da linha de tendência. Isso mostra uma “fortaleza muito forte” da economia americana, assinalou o presidente do BC, ressaltando também em sua fala que a bolsa segue muito forte nos Estados Unidos.

Apesar disso, ele ponderou que o comunicado do Federal Reserve não diz que o orçamento do ciclo de relaxamento monetário será de cortes de 0,50 ponto porcentual dos juros nos Estados Unidos.