Economia
Receita consistente

Haddad afirma que governo cumprirá a meta fiscal

Nas palavras de Haddad, o governo está substituindo os ‘tapa-buraco’ que aconteciam nos anos anteriores por uma receita consistente.

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23 de setembro de 2024
Vinicius Palermo
Haddad afirma que governo cumprirá a meta fiscal
O ministro da Fazenda Fernando Haddad.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que tem muita confiança de que o governo vai cumprir a meta fiscal deste ano. E, apesar das críticas em relação ao fato de isso ser alcançado com receitas extraordinárias, ele ponderou que tais recursos vão passar a ser ordinários no próximo ano.
“Temos que considerar que essa receita extraordinária desse ano vai virar ordinária o ano que vem. Porque a remuneração começa o ano que vem. O fim do Perse acontece o ano que vem”, disse Haddad, a jornalistas, em Nova York. “Então, é uma boa notícia”, acrescentou.

Nas suas palavras, o governo está substituindo os ‘tapa-buraco’ que aconteciam nos anos anteriores por uma receita consistente. “Isso é um legado do governo. Colocar receitas ordinárias no patamar adequado para honrar as despesas assumidas pelo Congresso Nacional, o que tem que ser honrado”, disse.

Haddad também enfatizou a acomodação das despesas da previdência. Segundo ele, esse tema trazia preocupação ao governo nos meses de abril e maio, mas os gastos previdenciários ficaram mais acomodados no quarto relatório bimestral de despesas e receitas.

“Então, a equipe está mais tranquila em relação a isso. Esse quadro se acomodou. E isso é visto como uma má notícia. Isso que eu não consigo assimilar. Isso é uma boa notícia, não é só para 2024. É para o futuro do Brasil”, disse o ministro.

Questionado sobre se essa acomodação posterga a necessidade de o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter de fazer uma reforma da Previdência, ele sinalizou que essa não é uma questão que está na mesa. “Isso não está em colocação, vai ter ou não vai ter. O fato é que está acomodando a receita previdenciária”, afirmou, dizendo que essa foi uma surpresa positiva para o governo.

O ministro disse que o Brasil vai continuar apresentando taxas de inflação “sucessivamente menores”. E que a Selic deve acompanhar essa trajetória, na sua visão.

“Sem maquiagem em relação aos combustíveis, a inflação não oficial de 2022 estava a 8,25%. Nós estamos no segundo ano com metade da inflação de dois anos atrás. Foi uma queda muito expressiva”, disse Haddad, a jornalistas, em Nova York, ao comentar a piora das projeções para a inflação brasileira no boletim Focus, publicado nesta segunda-feira.

A mediana para o IPCA de setembro subiu de 0,50% para 0,53%, contra 0,27% um mês antes. “Nós vamos continuar tendo, sucessivamente, as inflações menores nos próximos anos. Essa é a minha convicção”, destacou o ministro.

Segundo ele, a Selic vai responder a esse comportamento. “Eu não tenho dúvida de que ela vai responder a esse comportamento”, garantiu.

O ministro da Fazenda lembrou que teve um estresse no mundo em relação à política monetária global, o que afetou todos os mercados emergentes, incluindo o País. “O Brasil, por vezes, pagou um preço um pouquinho mais alto em função de questões domésticas”, disse.

Haddad disse que um soluço ou outro pode ocorrer, mas que será superado pelos fatos: inflação está caindo sem comprometer o consumo das famílias e o aumento do crédito. “Vai ter um soluço ou outro em função de desinformação, em função de desconfiança, pode acontecer, mas serão vencidos pelos fatos”, concluiu.

Depois de se reunir com duas das maiores agências de classificação de risco, a S&P Global Ratings e a Moody’s, o ministro disse que também terá um encontro com representantes da Fitch Ratings, durante passagem por Nova York, nos Estados Unidos.

Fontes ouvidas na condição de anonimato, dizem que há uma reunião agendada com o presidente global da Fitch Ratings, Paul Taylor, na terça, dia 24, a partir das 14h30 no horário do Brasil (13:30 local). Haddad e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva devem participar.

As conversas com as classificadoras de risco estão sendo realizadas a pedido do petista. Antes da viagem a Nova York, onde está para discursar na 79ª Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), o presidente Lula perguntou a Haddad sobre o cronograma para o Brasil recuperar o grau de investimento, perdido em 2025, informou o ministro da Fazenda, a jornalistas, mais cedo.

A recuperação do selo de bom pagador ajudaria a destravar investimentos estrangeiros para o País uma vez que muitos fundos de investimento grandes só podem aportar recursos em mercados que tenham o chamado investment grade. “A convicção que eu tenho, ouvindo tudo o que eu ouvi, é que nós estamos no caminho. E vamos tentar acelerar o passo o mais rápido possível para recuperar o grau de investimento”.

Haddad afirmou que disse a Lula que recuperar o grau de investimento até o fim de sua gestão, em 2026, é desafiador. “Mas nós vamos trabalhar. Não tem muito cabimento o Brasil não ser grau de investimento”, disse, citando as condições financeiras do País como, por exemplo, o fato de ser credor internacional.

Atualmente, o Brasil está a dois patamares de distância de recuperar o selo de bom pagador nas três maiores classificadoras do mundo. Pela Moody’s, o rating do País é o Ba2, e a perspectiva da nota foi melhorada de estável para positiva neste ano. Já pela S&P, o Brasil tem BB, com perspectiva estável. Além delas, a Fitch Ratings reafirmou a classificação do Brasil em BB, com perspectiva estável, em junho último.