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Capacidade fiscal

Dirigente do Fed concorda com foco de Powell em emprego, mas evita garantir ajuste em setembro

O presidente do Federal Reserve de Chicago, Austan Goolsbee, demonstrou convergência com a visão do presidente do Fed, Jerome Powell

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24 de agosto de 2024
Vinicius Palermo
Dirigente do Fed concorda com foco de Powell em emprego, mas evita garantir ajuste em setembro
O presidente do Fed e Chicago, Austan Goolsbee.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Chicago, Austan Goolsbee, demonstrou na sexta-feira, 23, convergência com a visão do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, de que a instituição deve ficar mais atenta às perspectivas do mercado de trabalho, uma vez que a inflação está a caminho da meta de 2%.

No entanto, embora Powell tenha cravado que “chegou a hora” de ajustar a política, Goolsbee evitou argumentar em favor de uma decisão específica no encontro de setembro.

“Não gosto de atar minhas mãos antes de uma reunião”, afirmou o presidente do Fed de Chicago, em entrevista à CNBC, na qual elogiou o discurso de Powell.

Goolsbee disse que o Fed será “mais cuidadoso” com o lado do emprego do mandato duplo do Comitê Federal do Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês).

Segundo ele, há consenso no Comitê de que haverá múltiplos cortes de juros ao longo do restante de 2024 e de 2025.

Goolsbee explicou que, ainda que o Fed tenha parado de aumentar a taxa básica há 1 ano, a política está mais restritiva do que antes, diante da redução da inflação.

Segundo um estudo publicado durante o Simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira, 23, as massivas compras de ativos como as que os bancos centrais fizeram no auge da crise da covid-19 para apoiar a liquidez nos mercados financeiros globais podem ter ‘implicações indesejáveis’ nas finanças públicas.

No documento, os autores Roberto Gomez Cram, da Universidade de Nova York, Howard Kung, da Escola de Negócios de Londres, e Hanno Lustig, da Universidade de Stanford, enfatizam a importância das autoridades monetárias para o bom funcionamento dos mercados de títulos de dívida. “Bancos centrais e governos precisam garantir que os mercados de títulos funcionem sem problemas”, afirmam.

Eles observam, porém, que durante a crise da covid-19 os investidores tiveram um comportamento diferente em relação aos títulos de dívidas soberanas quando comparado, por exemplo, à reação que tiveram na grande crise financeira internacional de 2007. “Em março de 2020, os investidores estrangeiros não fugiram para a segurança dos títulos do Tesouro dos EUA”, observam Cram, Kung e Lustig. “Em vez disso, eles venderam títulos do Tesouro dos EUA de longo prazo em uma ‘flight from maturity'”, acrescentam, referindo-se à fuga desses investidores em meio ao temor fiscal à frente.

Conforme eles, na pandemia, os Treasuries, que são emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos, foram marcados para baixo assim como os de outras economias avançadas, como França, Alemanha e Reino Unido. E o aumento de prêmio dos títulos se concentrou em dias de notícias fiscais significativas.

Os rendimentos dos Treasuries aumentaram 5,8 pontos porcentuais entre março de 2020 e outubro de 2023, segundo o estudo. Além disso, o valor de todo o portfólio de títulos do Tesouro dos EUA em circulação foi reduzido em 26% em termos reais. “Durante a covid-19, os títulos do Tesouro dos EUA não estavam sendo negociados como o ativo seguro de escolha do mundo, mas como os títulos soberanos emitidos por outras economias maduras”, afirmam os autores.

Eles alertam que reguladores de política, incluindo os bancos centrais, devem considerar essa mudança de comportamento dos investidores estrangeiros durante a covid-19 ao avaliar se os mercados de títulos estão funcionando corretamente. “Nesse ambiente, compras de ativos em larga escala por bancos centrais em resposta a um grande aumento de gastos do governo têm implicações indesejáveis nas finanças públicas”, afirmam.

Para Cram, Kung e Lustig, as compras de ativos, que fornecem suporte temporário de preço aos mercados, destroem valor para os contribuintes, mas subsidiam os detentores de títulos, os chamados ‘bondholders’. Eles dizem ainda que essas transações também podem distorcer os incentivos dos governos e prejudicar os preços nos mercados de títulos soberanos.

“Não é inconcebível que os governos em algumas economias maduras tenham superestimado sua verdadeira capacidade fiscal como resultado dessas compras de ativos em larga escala”, concluem.