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Diretor do BC diz que membros do Copom têm coesão

O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, argumentou que essa unidade de diagnósticos diminui os ruídos em torno da comunicação do comitê.

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22 de agosto de 2024
Vinicius Palermo
Diretor do BC diz que membros do Copom têm coesão
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse na quinta-feira, 22, que a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) continua refletindo adequadamente o seu diagnóstico sobre a economia. Segundo ele, um ponto relevante continua sendo a “coesão” dos membros do colegiado.

“A ata traz, em vários momentos, a unidade, tanto nos diagnósticos quanto na questão prospectiva”, afirmou Guillen, em um evento organizado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio.

Ele argumentou que essa unidade de diagnósticos diminui os ruídos em torno da comunicação do comitê. Guillen destacou que, embora haja coesão no comitê, cada um dos diretores tende a observar um conjunto de dados mais de perto.

“Eu sempre chamo a atenção de alguns diretores que olham muito a parte de crédito, que estão olhando muito a questão dos bancos. Eu sou, naquela formação, pela faculdade, olho muito a questão de projeção, como é que estão os fundamentos da economia, o que é que determina a inflação, como é que está a expectativa, como é que está a inflação corrente”, afirmou o diretor.

Ele relatou que o cenário externo foi “muito discutido” pelo Copom na última reunião, quando os membros decidiram continuar classificando o quadro como “adverso”. Segundo o diretor, os discursos de membros do colegiado servem para complementar as comunicações oficiais da autoridade monetária.

O diretor de Política Econômica do Banco Central reiterou na quinta-feira que as expectativas de inflação do mercado financeiro estão desancoradas e que o trabalho da autoridade monetária é “puxá-las” para o lado certo, já que elas são relevantes para a formação dos preços. “Já comentei no passado que uma expectativa desancorada é como se fosse um farol para o lado errado: você vai levando os preços para um outro lado e você tem de puxar de volta os preços, para menos”, afirmou.

Guillen disse que existe um debate sobre as causas da desancoragem, mas ressaltou que esse motivo é irrelevante do ponto de vista da política monetária. “Qualquer que seja a causa, você tem de combater isso para conseguir levar a inflação para a meta”, afirmou.

O diretor repetiu que não há relação mecânica entre a taxa de câmbio e a condução dos juros pelo BC, mas destacou que a autoridade monetária quer observar como a cotação do dólar vai afetar as expectativas.

Guillen disse ainda que o Copom mencionou que “monitora com atenção” os desenvolvimentos da política fiscal porque, usualmente, ela tem impacto na demanda agregada.

“Então, vai puxar a inflação, vai puxar a atividade para cima. E o que acontece, quando você tem um país com dívida elevada, é que você tem um impacto via condições financeiras”, afirmou o diretor.

Ele acrescentou que, nas últimas duas reuniões, o questionário pré-Copom (QPC) captou uma piora da percepção fiscal dos agentes econômicos.

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que o Copom optou por mencionar a estratégia de convergência da inflação para “o redor da meta” devido à incerteza elevada no cenário.

“A gente se mantém num cenário de muita incerteza, e eu acho que ele vem tanto do texto, quanto do doméstico”, disse Guillen, no evento da PUC-Rio.

Ele afirmou que, durante a pandemia, havia erros grandes nas projeções, já que os agentes econômicos tinham dificuldades para incorporar choques de demanda e outros fatores nos modelos.  Recentemente, elas voltaram para os níveis usuais de erros.

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que está muito confortável com a comunicação da ata do Copom, que reflete uma visão consensual de mais riscos para cima, de vários membros falando de forma semelhante.

“O excesso de ênfase no balanço (de riscos) como instrumento de guidance é que me causa um pouco mais de desconforto. Acho que não deveria ser lido assim, acho que deveria ser lido como um instrumento de você aprender sobre como os membros estão pensando sobre a dinâmica inflacionária”, defendeu.

No evento organizado pela PUC do Rio, onde estudou, o diretor disse ser óbvio que, ao pensar sobre a dinâmica inflacionária, pode-se levar a esse caminho de tentar encontrar uma mensagem no balanço de riscos.

“Mas eu acho que ele (balanço de riscos) não é um guidance evidente. O guidance a gente coloca na comunicação, coloca na ata, a gente discute”, citou Guillen.

Existe um “excesso” do mercado ao tentar interpretar o balanço de riscos do Comitê de Política Monetária (Copom) como um guidance para os próximos passos.

“Eu acho que tem um pouco de excesso de tentar transformar o balanço de riscos no guidance quando ele não deveria ser visto como um guidance de política monetária, ele é o balanço de riscos sobre a projeção de inflação”, disse Guillen, em um evento na PUC-Rio.

O diretor destacou que, na última reunião, todos os membros do comitê já concordavam que havia mais riscos de alta do que de baixa para as projeções de inflação, e por isso o balanço trouxe três vetores para cima e apenas dois de queda. E lembrou que vários membros já consideram que o balanço é assimétrico para cima.

“A gente está vendo no cenário, e eu sigo vendo assim, projeções mais elevadas e com mais riscos, levando a um cenário mais desafiador para o Comitê. E vai ser importante acompanhar esses dados. Então, a gente optou por não dar guidance”, disse Guillen, acrescentando que é necessário ser maus cauteloso na calibragem da política monetária.

O diretor afirmou, ainda, que na última reunião foram discutidas tanto estratégias de manutenção da taxa Selic, como de um eventual aumento, mas que ela não representa o próximo encontro. No cenário corrente, o diretor observou que existe um arrefecimento da inflação e que o crédito tem evoluído conforme o esperado pelo BC.

O diretor disse que a incerteza sobre a economia externa se refere principalmente ao ritmo de desaceleração da atividade e desinflação, especialmente nos Estados Unidos.

Em evento na PUC-Rio, Guillen lembrou que a mais recente ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, que decide sobre a política monetária nos EUA), foi lida como “velha” por ter sido divulgada após o relatório de empregos, o payroll, que, segundo ele, ficou “próximo do neutro”.

“No debate que a gente tem do cenário externo, acho que tem essa discussão de qual é o ritmo da desaceleração e qual é o ritmo da desinflação”, disse Guillen.

O diretor de Política Econômica do Banco Central afirmou que a incerteza sobre a política monetária norte-americana deixou, recentemente, de se referir ao início do ciclo de cortes e passou a orbitar os impactos do corte de juros sobre a economia.

“Quais são os impactos sobre a inflação, quais são os impactos sobre a atividade, você tem uma flexibilização na política monetária, e claro, a extensão desse ciclo”, explicou Guillen.

Ele lembrou que, na ata da sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) continuou classificando o cenário externo como “adverso” e chamou atenção para as condições financeiras globais, que têm se mantido apertadas, segundo o diretor.

Guillen acrescentou que a política monetária global está dessincronizada, o que tem contribuído para a volatilidade dos mercados.

O diretor afirmou ainda que o câmbio tem se mantido volátil e lembrou da depreciação o real entre as duas últimas reuniões do comitê, mas disse que não existe relação mecânica entre a condução da política monetária no Brasil e a cotação do dólar ou as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).