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Dólar sobe a R$ 5,60 e salta 3% na semana; Ibovespa cai quase 1% no acumulado

A perda de fôlego do real se deu em meio à aceleração dos ganhos da moeda americana no exterior na segunda etapa de negócios

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20 de julho de 2024
Vinicius Palermo
Dólar sobe a R$ 5,60 e salta 3% na semana; Ibovespa cai quase 1% no acumulado
No ajuste de fechamento, o índice Ibovespa quase mostrou estabilidade, ainda tendendo ao negativo nesta sexta-feira, aos 127.616,46 pontos (-0,03%)

Após recuar pela manhã em resposta ao anúncio de contenção de R$ 15 bilhões em gastos neste ano pelo governo, o dólar à vista ganhou força ao longo da tarde e fechou a sessão desta sexta-feira em alta moderada, na casa de R$ 5,60. A perda de fôlego do real se deu em meio à aceleração dos ganhos da moeda americana no exterior na segunda etapa de negócios, em especial na comparação com divisas emergentes latino-americanas, como os pesos chileno e o mexicano.

O dia foi marcado por uma forte deterioração de ativos de risco, com tombo das bolsas em Nova York, queda das commodities metálicas e recuo de cerca de 3% das cotações internacionais do petróleo. Investidores adotaram uma postura defensiva antes do fim de semana em razão do “apagão cibernético” na madrugada de ontem para hoje – que afetou sistemas financeiros e de transporte – e dúvidas crescentes em torno da corrida eleitoral americana, diante da pressão para que o presidente Joe Biden abandone a disputa.

Com mínima a R$ 5,5228 pela manhã e máxima a R$ 5,6079, na última hora de negócios, o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 0,28%, cotado a R$ 5,6039 – novamente no maior valor desde 2 de julho, a última vez em que a divisa fechou acima da linha de R$ 5,60 (R$ 5,6648). Operadores afirmam que houve um movimento mais intenso de busca por posições defensivas no segmento futuro ao longo da tarde que insuflou o dólar também no spot. Na semana, a moeda acumulou valorização de 3,18%, o que levou os ganhos no ano a 15,46%.

O economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, observa que o anúncio da contenção de gastos diminui um pouco a percepção de risco fiscal e poderia ter levado o dólar a fechar em queda, embora moderada hoje, não fosse uma piora do sentimento de risco no exterior que derrubou divisas emergentes.

“O mercado de câmbio até amanheceu bem. O corte de gastos anunciado talvez não seja o ideal, mas é uma sinalização no sentido correto. Estava claro que não seria suficiente para desfazer hoje a depreciação que o real nos últimos dias, mas poderia ter garantido a queda do dólar aqui se o global não atrapalhasse”, afirma o economista.

Ibovespa

O Ibovespa lutou contra a cautela externa desde cedo, mas do meio para o fim da tarde deixou de sustentar leve ganho na sessão, em paralelo à mudança de direção no dólar, que passou a subir – ao fim, alta de 0,28%, a R$ 5,6039. No ajuste de fechamento, porém, o índice quase mostrou estabilidade, ainda tendendo ao negativo nesta sexta-feira, aos 127.616,46 pontos (-0,03%), saindo de máxima a 128.360,05 e de abertura a 127 652,06 – na mínima, foi a 127.412,84 pontos. Em dia de vencimento de opções sobre ações, o giro ficou em R$ 22,0 bilhões.

Dividido entre três baixas e duas altas no intervalo – após longa sequência de recuperação iniciada em meados de junho e estendida à primeira quinzena de julho -, o Ibovespa acumulou perda de 0,99% na semana. Foi o primeiro revés semanal desde a encerrada em 14 de junho, quando havia cedido 0,91%. Desde então, foram quatro semanas de retomada até a interrupção colhida nesta sexta-feira.

Assim, o Ibovespa se afasta um pouco da linha de 129 mil, vista até anteontem, mas preserva boa parte da recuperação acumulada desde o fundo do vale, aos 119 mil, em meados do mês passado, quando operou nos menores níveis desde novembro de 2023. No ano, até esta sexta-feira, ainda acumula perda de 4,90% – em julho, sobe 2,99%.

Até o meio da tarde, o Ibovespa remava na contracorrente da cautela global que prevalecia desde a madrugada nos mercados, em meio ao que alguns observadores chegaram a descrever como o maior colapso cibernético global já visto: um apagão simultâneo que afetou de transportes aéreos a transações financeiras em diferentes partes do mundo, em função de falha na atualização de um dispositivo com efeito sobre o sistema da Microsoft.

Dessa forma, a cautela externa prevaleceu, deixando em segundo plano o anúncio – logo após o fechamento de ontem – da contenção de R$ 15 bilhões em gastos públicos para o cumprimento da meta prevista no arcabouço fiscal para este ano.

Contudo, o assunto do dia foi mesmo o apagão cibernético, que afastou o tom positivo que havia pela manhã após o congelamento de R$ 15 bilhões em despesas do governo, pondera Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital. “Estamos numa leve realização, tendo em vista que houve uma bela recuperação que reaproximou o Ibovespa dos 130 mil pontos, vindo de um nível abaixo dos 120 mil”, acrescenta.

Em dia de forte retração do petróleo – próxima a 3% na sessão para a referência global, o Brent, que fechou a semana acumulando perda de 2,82% no intervalo -, as ações de Petrobras mostraram resiliência, com a ON em alta de 0,26% e a PN, de 0,42% no fechamento. A sessão foi de ajuste moderado também para a ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON, que cedeu apenas 0,08% nesta sexta-feira, vindo de desempenhos já negativos nas sessões anteriores.

O encerramento foi misto para os grandes bancos, com Itaú PN em alta de 0,76% e Santander Unit, de 0,66%. Do outro lado, Bradesco ON e PN cederam, respectivamente, 0,35% e 0,56%, com a preferencial na mínima do dia no fechamento. Banco do Brasil ON também fechou em baixa, de 0,29%.

Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, destaque para Dexco (+4,12%), Sabesp (+3,51%) e Ultrapar (+2,88%). No lado oposto, IRB (-4,49%), Cemig (-3,48%) e Isa Cteep (-3,12%).

Juros

Os juros futuros fecharam a sexta-feira em alta. A trajetória de baixa que prevalecia nos juros futuros até o meio da tarde não se sustentou, pressionadas pelo desmonte de posições vendidas antes do fim de semana. O alívio proporcionado pelo anúncio de R$ 15 bilhões em recursos do Orçamento que serão congelados para reforçar o cumprimento da meta fiscal de 2024, já limitado na primeira etapa, se esvaiu durante a sessão, dando lugar a preocupações sobre incertezas com a eleição americana e possíveis consequências do apagão cibernético.

A escalada do dólar para R$ 5,60, que eleva os receios com o cenário inflacionário, também assustou o mercado, pressionado ainda pelo avanço dos rendimentos dos Treasuries. No balanço da semana, todas as taxas subiram.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,685%, estável ante o ajuste de ontem, e a do DI para janeiro de 2026, em 11,48%, de 11,40% ontem. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,73%, de 11,65%, e a do DI para janeiro de 2029, taxa de 12,05%, de 11,96%.

O giro de contratos cresceu no fim do dia, sugerindo zeragem de posições vendidas que haviam sido montadas na esteira do anúncio da contenção dos R$ 15 bilhões, feito ontem pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O montante ficou acima do consenso das estimativas de R$ 12 bilhões e foi bem recebido, mas o impacto foi sendo suavizado pela piora do ambiente externo, até desaparecer no fim da tarde.

Outro assunto na pauta do encontro foi o câmbio, com analistas já mencionando revisões para cima nas projeções de inflação de 2024, que ficaram entre 4% e um pouco acima deste nível. A depender da persistência do dólar em níveis elevados, não somente pode ser fechado o espaço para a retomada dos cortes da Selic como pode ganhar força a discussão sobre uma eventual retomada das altas. O dólar à vista fechou hoje em R$ 5,6039.