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Guerra sem fim

Israel prossegue com bombardeios na Faixa de Gaza

O Hamas, que governa Gaza desde 2007, denunciou os “massacres” cometidos por Israel contra “civis desarmados” em Gaza

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16 de julho de 2024
Vinicius Palermo
Israel prossegue com bombardeios na Faixa de Gaza
Uma operação para remover quase 40 milhões de toneladas de destroços em Gaza exigiria uma frota de 100 caminhões trabalhando continuamente por 15 anos.

Israel voltou a bombardear a Faixa de Gaza nesta segunda-feira (15) e prossegue com a ofensiva militar contra o movimento islamista palestino Hamas, depois de ataques contra um campo de deslocados e uma escola que deixaram mais de 100 mortos nos últimos dias.

O Hamas, que governa Gaza desde 2007, denunciou os “massacres” cometidos por Israel contra “civis desarmados” em Gaza e anunciou no domingo sua retirada das negociações indiretas para alcançar um cessar-fogo.

Testemunhas e equipes de emergência relataram nesta segunda-feira disparos de artilharia em vários bairros da Cidade de Gaza, no norte do território palestino cercado.

Um bombardeio também atingiu o campo de Al Maghazi, no centro, e deixou cinco mortos, incluindo três crianças, segundo o Crescente Vermelho palestino. Em Nuseirat, na mesma área, testemunhas também citaram disparos de artilharia.

Ao menos 15 pessoas morreram no domingo em uma escola administrada pela Agência da ONU para os Refugiados da Palestina (UNRWA) nesta localidade, um centro de ensino que abrigava “milhares de deslocados”, segundo a Defesa Civil. Esta foi a quinta escola bombardeada em oito dias na Faixa de Gaza.
Israel afirma que o Hamas e outros grupos utilizam escolas, hospitais e outras infraestruturas públicas com objetivos militares.

O grupo islamista, classificado como organização “terrorista” por Israel, Estados Unidos e União Europeia, nega as acusações.

No sul do território, testemunhas relataram disparos procedentes de helicópteros nas imediações de Khan Yunis e Rafah. O Exército anunciou que eliminou “uma célula terrorista armada com lança-foguetes” durante os combates em Rafah. “Muitos terroristas” também foram eliminados no centro do território, acrescentou.

Os bombardeios israelenses mataram 92 palestinos no sábado no campo de deslocados de Al Mawasi, perto de Khan Yunis, no sul de Gaza, segundo o Hamas. Há alguns meses, Israel havia declarado o setor uma “zona humanitária”, onde os deslocados poderiam encontrar refúgio.

Israel afirmou que o ataque teve como alvos dois dirigentes do Hamas: Mohamed Deif, comandante militar do grupo, e Rafa Salama, comandante do grupo em Khan Yunis. Ambos foram presentados como “dois cérebros do massacre de 7 de outubro” que desencadeou a guerra.

O Exército anunciou que Salama morreu no bombardeio. Deif está vivo, segundo uma fonte do Hamas.
A guerra começou quando comandos islamistas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados israelenses.

O Exército de Israel calcula que 116 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, 42 das quais teriam morrido.

Em resposta, Israel prometeu aniquilar o Hamas e iniciou uma ofensiva que já matou 38.584 pessoas em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.

Após meses de negociações infrutíferas, o grupo islamista anunciou no domingo que abandonou as conversações de trégua, lideradas por Catar, Egito e Estados Unidos.

O movimento, no entanto, “está disposto a retomar as negociações” quando Israel “demonstrar seriedade para concluir um acordo de cessar-fogo” e para a libertação dos reféns em Gaza em troca de prisioneiros palestinos detidos em Israel, informou uma fonte do Hamas.

Reconstrução

O recente agravamento do conflito no Oriente Médio, com a incursão do Hamas em Israel seguida pela contraofensiva israelense, tem devastado a população palestina e destruído significativamente o território e infraestruturas de Gaza. Segundo a RTP, uma análise da Organização das Nações Unidas (ONU), uma operação para remover quase 40 milhões de toneladas de destroços em Gaza exigiria uma frota de 100 caminhões trabalhando continuamente por 15 anos.

A magnitude da destruição torna evidente que a limpeza dos destroços resultantes do conflito Israel-Palestina poderá custar entre US$ 500 a 600 milhões e levar mais de uma década para ser concluída.

“Os impactos ambientais da guerra em Gaza são sem precedentes (…) expondo a comunidade à poluição crescente do solo, da água e do ar e aos riscos de danos irreversíveis aos seus ecossistemas naturais”, diz o relatório do Programa Ambiental da ONU (PNUMA, na sigla em inglês), divulgado no mês passado.

A diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen, destacou que “não é apenas o povo de Gaza que enfrenta o sofrimento incalculável da guerra em curso, os danos ambientais significativos e crescentes em Gaza correm o risco de prender o povo numa recuperação longa e dolorosa”.