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Lagarde diz que processo de relaxamento não é linear

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou que as projeções e dados mais recentes permitiram que a instituição cortasse os juros em 25 pontos-base

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02 de julho de 2024
Vinicius Palermo
Lagarde diz que processo de relaxamento não é linear
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou que as projeções e dados mais recentes permitiram que a instituição cortasse os juros em 25 pontos-base em sua última reunião, mas renovou o alerta de que esse processo de relaxamento “não é linear”, nem será determinado a priori, dependente da análise dos dados e do cenário em geral a cada reunião.

Ela falou em painel organizado pelo próprio BCE em Sintra, Portugal, ao lado do presidente do BC brasileiro, Roberto Campos Neto, e do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell.

Lagarde previu que a inflação em um ano na zona do euro deve estar em “pouco mais de 2%”, mas também projetou que haverá sobressaltos, além de renovar em mais de um momento de sua participação a postura cautelosa, com reavaliação do quadro a cada reunião, nas próximas decisões de juros, levando em conta as decisões de outros bancos centrais, como obviamente o próprio quadro na zona do euro.

A dirigente considerou que a inflação de serviços na região ainda está em nível elevado, mas também recordou que ela não precisará cair até 2%, pois a de bens mostra mais fraqueza e as duas podem se equilibrar, para o índice geral ficar na meta. De qualquer modo, Lagarde se disse bastante atenta aos componentes da inflação de serviços e as razões desse nível atual, além de recordar que a inflação no mês passado veio mais baixa que a anterior, “o que é bom”, com o BCE “bastante avançado” na trajetória de desinflação almejada.

Na atividade econômica, Lagarde disse esperar que a recuperação persista, mas também disse vê “muitas incertezas”, por isso o foco em avaliar os dados. As projeções e os indicadores permitiram o corte de 25 pontos-base nas últimas reunião e a expectativa recente do BCE é que a inflação chegue à meta de 2% no quarto trimestre de 2025. Ao comentar o desemprego, disse esperar que a taxa siga no nível atual, na zona do euro, em meio a recordes de baixa nesse indicador.

Lagarde lembrou também que o ciclo anterior de alta de juros foi “sem precedentes”, em meio a variados choques. Ela disse que o BCE continua a monitorar riscos “o tempo todo”, entre eles os geopolíticos no seu entorno.

Ao ser perguntada sobre o processo eleitoral na França e seus riscos, Lagarde se recusou a entrar nesse assunto. “Nosso mandato é estabilidade de preços e faremos isso”, garantiu. Ao mesmo tempo, admitiu que a questão fiscal “importa enormemente”, mas lembrou que já há um arcabouço na zona do euro para controlar essa frente. A presidente do BCE disse que as regras fiscais precisam ser respeitadas, nesse contexto.

Ao ser questionada sobre o quadro no comércio global e seus efeitos na política monetária, Lagarde disse que não vê agora a aplicação de tantas tarifas como oito anos atrás e que esse fator parece mais estável. Por outro lado, há uma crescente preocupante de medidas de proteção comercial, acrescentou.

Em outro momento do painel, Lagarde disse que o BCE tem usado inteligência artificial (IA) em seu trabalho, “buscando um ambiente seguro” e evitando “ficar reféns” de empresas que desejam dados confidenciais, afirmou. Segundo ela, a IA é usada em modelos, bem como na mineração de linguagem em dados não estruturados. O impacto da IA no crescimento, no emprego e na produtividade “ainda está por ser determinado”, ponderou.

O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, disse que a instituição não tem uma trajetória predeterminada para os juros da zona do euro, diante das incertezas que o bloco atravessa. Guindos reiterou que as decisões de política monetária seguem dependendo da evolução dos dados e serão tomadas a cada reunião do BCE.

Guindos disse também que o BCE está confiante de que a inflação da zona do euro voltará à meta oficial de 2%, mas ressaltou que é necessário ser “muito prudente” no curto prazo, uma vez que os preços deverão ter “alta e baixas” até o fim do ano. “Acreditamos que os próximos meses não serão fáceis (para a inflação), será um caminho acidentado”, afirmou.

Guindos previu ainda que a economia da zona do euro terá desempenho mais forte no segundo semestre do ano do que no primeiro.

O economista-chefe do Banco Central Europeu (BCE), Philip Lane, disse que os dados de inflação da zona do euro de junho não são suficientes para esclarecer incertezas sobre pressões de preços subjacentes. Lane ressaltou que o BCE “tem dúvidas sobre a inflação de serviços” e que os números do mês passado ainda não resolveram a questão.

Philip Lane disse que é preciso ter paciência ao avaliar sinais de que a inflação está se movendo para a meta oficial de 2%, sinalizando que um novo corte de juros em julho é improvável. Após cortar juros pela primeira vez desde 2019, no começo do mês passado, o BCE volta a rever sua política monetária no próximo dia 18.