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Lula diz que governo faz revisão dos gastos sem levar em conta o nervosismo do mercado

Ao ser questionado sobre quais cortes o governo deverá fazer, Lula afirmou que ainda analisa se eles serão necessários.

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27 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Lula diz que governo faz revisão dos gastos sem levar em conta o nervosismo do mercado
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante entrevista aos jornalistas Leonardo Sakamoto e Carla Araújo, do UOL, no Palácio do Planalto. Brasília - DF.

Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que o governo realiza a revisão dos gastos públicos “sem levar em conta o nervosismo do mercado” e disse que há necessidade de manter investimentos em Saúde e Educação. As declarações ocorreram em entrevista ao UOL, na manhã de quarta-feira, 26. Ao ser questionado sobre quais cortes o governo deverá fazer, Lula afirmou que ainda analisa se eles serão necessários.

“Nós estamos fazendo uma análise de onde é que tem gasto exagerado, onde é que tem gasto que não deveria ter, onde é que tem pessoas que não deveriam receber e que estão recebendo”, disse o presidente.

Lula acrescentou: “Isso com muita tranquilidade, sem levar em conta o nervosismo do mercado, levando em conta a necessidade de manter a política de investimento.”

O presidente da República afirmou que vai continuar investindo em Educação e Saúde, e disse que esses gastos podem melhorar a produtividade nesses setores. Em seguida, Lula questionou “se precisa cortar” gastos. “O problema não é que tem que cortar. O problema é saber se precisa efetivamente cortar, ou se a gente precisa aumentar a arrecadação. Temos que fazer essa discussão”, declarou.

Lula também mencionou a derrubada do seu veto à desoneração, pelo Congresso, e afirmou que são recursos que o governo deixa de receber. “Como vamos falar em gasto se estamos abrindo mão de receber recursos que empresários têm que pagar?”, questionou. “Quando vou desonerar empresa, preciso saber se companhia vai manter estabilidade do emprego.”

Ele prosseguiu: “Me pergunto qual o direito de o Estado abrir mão de quantia de arrecadação para favorecer empresário.”

O presidente também citou outros países desenvolvidos que, segundo números apresentados por ele, gastam mais que o Brasil, e afirmou que o seu governo aplica valores menores em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). “O Brasil está muito aquém dos gastos que outros países fazem”, disse Lula. “Nós precisamos saber se o gasto está sendo bem feito, se vai melhorar o futuro do País. Acho que está.”

Nos últimos dias, ministros como Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) apontaram para a tendência de revisão de gastos com despesas públicas. Os cortes, no entanto, ainda não foram propostos.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, é “um companheiro altamente preparado”, mas ressaltou que ainda não está pensando em quem vai escolher para ocupar o cargo de presidente do Banco Central, no lugar de Roberto Campos Neto. Ele mencionou a reunião que teve na terça-feira com Galípolo, no Palácio do Planalto, na qual acordaram por um novo sistema de metas da inflação.

“O Galípolo veio aqui numa reunião em que a gente estava discutindo a meta inflacionária. A novidade foi estabelecer a meta contínua”, disse o presidente da República.

Na sequência, Lula citou Galípolo como “companheiro preparado”. “O Galípolo é um companheiro altamente preparado, conhece muito o sistema financeiro, mas eu ainda não estou pensando na questão do Banco Central. Vai chegar o momento que vou pensar e vou indicar um nome para que seja presidente do Banco Central.”

Na ocasião, Lula voltou a criticar a autonomia do Banco Central, status concedido por uma lei aprovada no Congresso em 2021 e que pode ser ampliado por uma nova proposta sob análise dos parlamentares.
“Não preciso de uma lei para dizer que tem autonomia, eu preciso respeitar a função do Banco Central”, disse Lula. “A pergunta que faço é a seguinte: o Banco Central tem necessidade de manter a taxa de juros a 10,5% quando a inflação está a 4%?”, indagou.

Lula prosseguiu: “O Banco Central leva em conta que pessoas estão tendo dificuldade em fazer financiamento? Porque é o seguinte, cara, não é culpa sequer do Banco Central, é culpa da estrutura que foi criada”, questionou, em referência aos objetivos traçados para o Banco Central perseguir.
O presidente também afirmou que entidades como a Confederação Nacional da Indústria e a Fiesp “deveriam fazer passeata” contra a manutenção da taxa Selic no atual patamar.

Lula disse ainda que “a inflação é uma opção divina” e que quer cuidar de “controlar a inflação”. Além disso, afirmou que não deve indicar o presidente do Banco Central “ao mercado, mas para o Brasil”.
Sob mandato a ser encerrado neste ano, Campos Neto foi criticado por Lula na semana passada por manter a taxa de juros no atual nível.

Depois de sete quedas seguidas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central interrompeu, em decisão unânime, o ciclo de cortes da taxa básica de juros, iniciado em agosto do ano passado, e manteve a Selic em 10,50% ao ano. O resultado, divulgado em 19 de junho, era amplamente esperado pelo mercado, em meio ao impasse do governo na condução da política fiscal e ao aumento das expectativas de inflação.

Mais do que o resultado, a grande expectativa dos agentes econômicos era sobre o placar da decisão, sobretudo após Lula ter retomado a ofensiva contra o BC e Campos Neto. A votação unânime agrada o mercado, depois da forte divisão da reunião de maio.

O presidente afirmou ainda que não é possível desvincular da política de valorização do salário mínimo o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e as pensões. “Não é (possível), porque não considero isso gasto, gente”, respondeu, ao ser questionado em entrevista ao portal UOL. “A palavra salário mínimo é o mínimo que a pessoa precisa para sobreviver.”

Lula prosseguiu: “Se eu acho que vou resolver o problema da economia brasileira apertando o mínimo do mínimo, eu estou desgraçado, cara. Eu não vou para o céu. Eu ficaria no purgatório.”
O presidente afirmou que não quer que empresários tenham prejuízos, mas criticou a “Faria Lima” e defendeu “repartir o pão de cada dia em igualdade de condições”.

“O mercado está sempre trabalhando para não dar certo, torcendo para as coisas serem piores”, afirmou Lula. “As pessoas da Faria Lima pensam no lucro, e o Brasil precisa ter alguém que pensa no povo.”

Lula também citou o fundador da Ford, Henry Ford, como exemplo de empresário. “Eu quero que o empresário tenha lucro, mas quero que ele tenha a cabeça como teve o Henry Ford, quando disse: eu quero que meus trabalhadores ganhem bem para eles poderem comprar os produtos que eles fabricam”, disse.