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Lula diz que ministro será afastado se for indiciado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi questionado por jornalistas na manhã de quarta-feira, 26, sobre uma série de temas de grande repercussão nos últimos dias

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27 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Lula diz que ministro será afastado se for indiciado
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi questionado por jornalistas na manhã de quarta-feira, 26, sobre uma série de temas de grande repercussão nos últimos dias, como a descriminalização do porte da maconha pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a autonomia e a presidência do Banco Central, o projeto de lei sobre o aborto, o indiciamento de seu ministro das Comunicações, Juscelino Filho, entre outros assuntos.

A entrevista foi concedida do Palácio do Planalto ao portal UOL. Lula também comentou sobre os ataques de 8 de Janeiro, defendendo que os foragidos que estão na Argentina sejam presos lá mesmo no país vizinho. Ele afirmou que defende presunção de inocência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas acrescentou que “tentar dar golpe, ele tentou”.

Ministro indiciado

Questionado sobre o caso que envolve o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, suspeito de desvio de verbas públicas enquanto era deputado federal, o presidente afirmou que o afastará do cargo caso a Procuradoria-Geral da República (PGR) aceite as investigações da Polícia Federal (PF). “Vai ser afastado. Ele sabe disso”, respondeu aos jornalistas.

Juscelino foi indiciado pela PF no último dia 12, acusado dos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa O próximo passo deve ser a apresentação, ou não, de uma denúncia. O relatório final da investigação cita ainda supostos crimes de falsidade ideológica, frustração de caráter competitivo de licitação e violação de sigilo em licitação, previstos no Código Penal.

“O que eu disse para o Juscelino: a verdade só você sabe. Se o procurador indiciar você, você sabe que tem que mudar de posição. Enquanto não houver indiciamento, você continua como ministro. Tem que ser afastado (se for aceito o indiciamento)”, disse o presidente.

Lula voltou a comentar o projeto de lei sobre o aborto que tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados. “O projeto apresentado não era projeto, era uma carnificina contra as mulheres”, declarou. “Porque, na verdade, ele estava criminalizando a vítima.”

O presidente também afirmou que os deputados que fizeram o que qualificou como “bobagem” sabem “do erro que cometeram”. Entre os 56 signatários do projeto, 36 parlamentares são do partido do ex-presidente Bolsonaro e do principal autor do projeto, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-SP).

A posição já conhecida de Lula, que se diz contra o aborto, foi reafirmada por ele, que também voltou a declarar que o tema deve ser encarado como questão de saúde pública.

Sobre a descriminalização do porte da maconha pelo STF, que deve bater o martelo também sobre a quantidade da planta que diferencia usuários de traficantes, Lula criticou o fato do tema precisar ser submetido à deliberação da Corte Suprema do Poder Judiciário.

“A Suprema Corte não tem que se meter em tudo. Ela precisa pegar as coisas mais sérias sobre tudo o que diz respeito à Constituição e virar senhora da situação, mas não pode pegar qualquer coisa e ficar discutindo, porque aí começa a criar uma rivalidade que não é boa, a rivalidade entre quem manda, o Congresso ou a Suprema Corte”, disse.

Entretanto, o presidente classificou como “nobre” a diferenciação entre quem porta maconha para uso pessoal, e quem a vende, e disse ainda que a avaliação sobre o porte deveria ser “da ciência e não do advogado”. “Eu acho que é nobre que haja diferenciação entre o consumidor, o usuário e o traficante. É necessário que a gente tenha uma decisão sobre isso, não na Suprema Corte, pode ser no Congresso Nacional, para que a gente possa regular”, declarou.

8 de Janeiro

Sobre os brasileiros foragidos na Argentina, suspeitos ou condenados pelos atos golpistas que depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, Lula afirmou que o diálogo com o governo argentino está sendo empenhado “da forma mais diplomática possível”.

O petista, contudo, afirmou que ainda não conversou com Javier Milei, pois o argentino deve desculpas a ele. “Ele tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim. Falou muita bobagem”, alegou.

“Se esses caras não quiserem vir, que eles sejam presos lá. E fiquem presos na Argentina. Se não, venham para cá”, afirmou o presidente. Na semana passada, o governo Milei repassou às autoridades brasileiras uma lista com os dados de envolvidos no 8 de Janeiro que ingressaram no país vizinho após descumprirem medidas cautelares. Por ser signatária, tal qual o Brasil, de tratados que a obrigam a analisar pedidos de refúgio, eventuais extradições podem passar por uma série de obstáculos.

Inocência de Bolsonaro

Ao ser questionado sobre o suposto envolvimento do ex-presidente Bolsonaro em uma tentativa de um golpe de Estado, Lula afirmou que defende “presunção de inocência” de seu maior rival político “Mas que ele tentou dar o golpe, tentou. Isso é visível”, emendou o presidente.

“O que eu defendo para ele, eu defendo para mim: que ele tenha direito à presunção de inocência, que ele tenha direito de se defender e que ele seja ouvido. É só isso o que eu defendo”, declarou Lula. “Não quero que ele seja condenado ou que ele seja inocentado, eu quero que ele seja julgado corretamente.”

Sobre o caso das joias supostamente desviadas por Bolsonaro, Lula afirmou que “presidente da República não ganha joia, presidente da República ganha presente”, e disse que não deseja o mal a nenhum adversário, mas espera que o veredito “seja em função do crime do tamanho que ele cometeu”.