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Guterres diz que o mundo não pode permitir que o Líbano se torne outra Gaza

Ao falar com jornalistas na sede da ONU, em Nova Iorque, o chefe da ONU ressaltou que é preciso evitar a ampliação do conflito no Oriente Médio.

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22 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Guterres diz que o mundo não pode permitir que o Líbano se torne outra Gaza
Guterres alertou sobre o risco real de o conflito se expandir, pedindo ações imediatas para evitar uma catástrofe que ultrapasse fronteiras

O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou profunda preocupação com a escalada de violência entre Israel e Hezbollah ao longo da Linha Azul, demarcação entre as forças armadas israelenses e libanesas. 

Ao falar com jornalistas na sede da ONU, em Nova Iorque, o chefe da ONU ressaltou que é preciso evitar a ampliação do conflito no Oriente Médio. Ele enfatizou que “o mundo não pode permitir que o Líbano se torne outra Gaza”.

Guterres alertou sobre o risco real de o conflito se expandir, pedindo ações imediatas para evitar uma catástrofe que ultrapasse fronteiras. A situação na área vem se deteriorando desde o início da ofensiva de Israel na Faixa de Gaza após o ataque de 7 de outubro.

Na quinta-feira, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, teria emitido uma severa advertência a Israel em meio a relatos de que os militares israelenses aprovaram planos para uma ofensiva no sul do Líbano.

Para Guterres, um movimento precipitado poderia desencadear uma catástrofe que “vai muito além da fronteira”. O chefe da ONU também destacou que, em ambos os lados da Linha Azul, muitas pessoas foram mortas e expulsas de suas casas e meios de subsistência.

O chefe das Nações Unidas destacou a perda de vidas, deslocamento de dezenas de milhares de pessoas e destruição de lares na região. Ele pediu a ambos os lados que “se comprometam urgentemente” com a implementação total da resolução 1701 do Conselho de Segurança e retornem imediatamente à cessação das hostilidades.

Adotada em 2006, a resolução colocou em ação um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah, a retirada das forças israelenses do sul do Líbano e o estabelecimento de uma zona desmilitarizada.

Segundo ele, o mundo deve dizer entrar em consenso que a redução imediata da escalada “não é apenas possível, mas é essencial”. Ele adicionou que que “não há solução militar” para a questão.

Guterres também ressaltou a necessidade de proteger os civis, garantir que crianças, jornalistas e profissionais da área médica não sejam alvos e assegurar que os deslocados possam voltar para suas casas.

O secretário-geral também enfatizou que a ONU está “se engajando ativamente” para promover a paz, a segurança e a estabilidade, de acordo com a resolução 1701.

Segundo o líder das Nações Unidas, as forças de paz da ONU no local, Unifil, estão em campo trabalhando para diminuir as tensões e ajudar a evitar erros de cálculo, em um ambiente “extremamente desafiador”.

Ele acrescentou que a Organização apoia totalmente os esforços diplomáticos para acabar com a violência, restaurar a estabilidade e evitar um sofrimento humano ainda maior na região.

Guterres concluiu explicando que isso está sendo feito enquanto a ONU continua pressionando por um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, a libertação imediata e incondicional dos reféns e uma solução de dois Estados.

O anúncio das forças armadas israelenses de pausas táticas nos combates no sul de Gaza não produziu nenhuma melhora na entrega de ajuda ao enclave. Segundo os trabalhadores humanitários da ONU, a ordem pública entrou em colapso e a situação de saúde se agravou ainda mais.

Falando de Jerusalém, o representante da Organização Mundial da Saúde, OMS, no Território Palestino Ocupado, Richard Peeperkorn, relatou casos de gestantes que pediram cesarianas antecipadas para garantir que pudessem dar à luz. O receio era que não conseguirem acessar um hospital mais tarde devido à situação de segurança.

Apontando para os problemas de acesso aos últimos hospitais em funcionamento em Gaza, Peeperkorn relatou que os profissionais de saúde, obstetras e médicos tratam níveis muito mais altos de bebês com baixo peso ao nascer do que antes da guerra.

A representante especial da ONU Mulheres para o Território Palestino Ocupado, Maryse Guimond, afirmou que a população foi quase totalmente privada da capacidade de garantir a segurança alimentar, o abrigo, a saúde e a subsistência. 

Falando a jornalistas em Genebra, Guimond, descreveu que as pessoas estão amontoadas em abrigos improvisados e sem os itens essenciais mais básicos.

Em uma escola que se transformou em abrigo administrado pela Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, há apenas 25 banheiros para as 14 mil pessoas que buscam segurança dentro do complexo e para as outras 59 mil que acampam do lado de fora, observou ela.

Desde o início da guerra, em 7 de outubro, após os ataques terroristas liderados pelo Hamas em Israel, cerca de 4,8 mil pacientes foram evacuados de Gaza por necessidade médica, a maioria para o Egito e outros lugares da região. 

Mas pelo menos outros 10 mil pacientes agora precisam de tratamento especializado fora do enclave. Segundo Peeperkorn, metade dos casos está relacionado à guerra e a outra metade a doenças crônicas como câncer, doenças cardiovasculares e outras doenças não transmissíveis, incluindo casos graves de saúde mental.

Cerca de 50 a 100 evacuações médicas costumavam ser feitas regularmente de Gaza para hospitais na Cisjordânia antes da guerra. O representante da OMS fez um apelo para a reabertura da passagem de fronteira de Rafah, no sul do enclave, ou para que Kerem Shalom fosse usada em seu lugar.

Segundo a OMS, desde o fechamento da passagem de Rafah pelas autoridades israelenses em 7 de maio, a passagem de Kerem Shalom, no extremo sul da Faixa de Gaza, tem sido o único ponto operacional de entrada de ajuda no sul do enclave. 

As autoridades israelenses disseram no último domingo que haveria uma pausa nos combates ao longo da estrada que vai de Kerem Shalom para a cidade de Khan Younis. 

A rota é crucial para a distribuição de ajuda a partir da passagem de fronteira para o sul e o centro de Gaza, depois que mais de 1 milhão de pessoas terem sido forçadas a sair de Rafah em resposta ao início da operação terrestre israelense no local.

O Escritório da ONU de Assistência Humanitária, Ocha, também demonstrou preocupações e insistiu na responsabilidade de Israel, de acordo com a lei humanitária internacional, como potência ocupante, de garantir que os suprimentos de ajuda, incluindo combustível, cheguem àqueles que mais precisam, inclusive abordando a “completa destruição da lei e da ordem” e relatos de saques. 

Segundo o porta-voz do escritório, Jens Laerke, os combates na área podem ter diminuído como resultado desses movimentos coordenados, mas esse não é o único impedimento para a coleta de ajuda na área entre Kerem Shalom e a estrada de Salah Al Din.