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Ajustes cíclicos

Presidente do BC chinês diz que manterá política acomodatícia para apoiar recuperação econômica

O presidente do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês), Pan Gongsheng, comparou a situação da China com a de outras grandes economias globais

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20 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Presidente do BC chinês diz que manterá política acomodatícia para apoiar recuperação econômica
O presidente do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês), Pan Gongsheng

O presidente do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês), Pan Gongsheng, afirmou na quarta-feira, 19, que manterá a política monetária acomodatícia para apoiar a recuperação econômica do país, em discurso preparado para evento e divulgado no site do BC chinês. Pan comparou a situação da China com a de outras grandes economias globais, notando que o início da flexibilização monetária de economias desenvolvidas foi adiado para o final de 2024, aumentando, por exemplo, a distância entre os juros chineses e os dos EUA.

“Nossa situação é diferente: a política monetária está acomodatícia e prevê suporte financeiro para a recuperação contínua da economia”, ressaltou o presidente do PBoC. “Vamos manter esta instância de acomodação e fortalecer ajustes cíclicos para criar um bom ambiente monetário e financeiro para o desenvolvimento econômico e social da China.”

O dirigente ressaltou o compromisso do BC chinês em manter também a estabilidade do yuan e em evitar riscos de desvalorização excessiva, mas apontou o “papel decisivo” do mercado na formação das taxas de câmbio.

O PBoC tem utilizado diversas ferramentas de política monetária de modo extensivo para atingir ambos os objetivos, lembrou Pan, como baixar a taxa de compulsório bancário (RRR, em inglês), a taxa de juros monetária e os juros do mercado financeiro.

Segundo ele, ferramentas macroprudenciais e estruturais de política monetária também devem passar a ser utilizadas, entre elas: financiamento para empresas de inovação tecnológica e combinação de políticas de suporte ao mercado imobiliário – por exemplo, reduzir pagamento mínimo para empréstimos de habitação pessoal e estabelecer financiamento para moradias de baixo custo.

Outras medidas devem intensificar a regulação do comportamento de mercado para garantir a transmissão da política monetária, revitalizar fontes de financiamento existentes, melhorar a eficiência do uso de fundos e prevenir riscos financeiros.

Gongsheng afirmou que o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) está estudando uma série de mudanças em sua estrutura de política monetária. Entre as medidas avaliadas, estão alterações na estrutura de fornecimento de crédito, ferramentas de transmissão dos juros, uso do mercado de títulos e maior transparência nas operações e comunicação do banco central.

Um dos pontos principais destacados pela autoridade chinesa é a questão das diversas taxas de juros do PBoC, que lidam com ferramentas monetárias diferentes e tornam a transmissão monetária “complexa”.

“Podemos considerar transformar uma taxa de juros de curto prazo a principal referência da política monetária, apontou Pan Gongsheng, citando a taxa de recompra de 7 dias e acrescentando que outros juros podem ser diluídos para “endireitar” a transmissão monetária. “Algumas taxas cotadas pelo mercado desviam significativamente da taxa real mais favorável ao consumidor. Vamos nos concentrar em melhorar a qualidade da LPR para refletir isso.”

Sobre a estrutura de crédito, o presidente do PBoC afirma que será difícil manter um crescimento de empréstimos no mesmo ritmo de anos anteriores. Pan lembra que a China direcionou seu foco para um “crescimento econômico de qualidade” e não necessariamente “elevado”, e que empréstimos dos setores imobiliário e financeiro locais estão em queda, ambos cenários que podem afetar a estrutura de crédito se o formato atual for mantido.

Além disso, o PBoC almeja explorar modos de ampliar ferramentas para áreas, entidades e propósitos específicos, capazes de impulsionar a economia e também aliviar impactos de choques econômicos, a exemplo dos recentes problemas gerados pela pandemia.

O dirigente observa que algumas reformas de regulação de mercado já estão em prática e devem ajudar na condução “eficiente” de transmissão monetária no curto prazo, embora não alterem a estrutura em si.

O objetivo das alterações em avaliação pelo PBoC seria ir além, explorando “teorias e práticas” testadas sob uma perspectiva global para melhorar as ferramentas no longo prazo. Pan cita, por exemplo, que o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) já reformularam suas estruturas de política monetária, enquanto o Banco da Inglaterra (BoE, em inglês) avalia medida semelhante.

“E se consideramos ter um papel maior na regulação das taxas de juros no futuro, precisamos ser capazes de mandar sinais claros para o mercado, para que ele tenha maior confiança e efetividade em tomada de decisões”, apontou o presidente do PBoC. Pan defendeu a melhora na transparência das operações e da comunicação, incluindo em projeções e expectativas futuras (guidance). “O discurso de hoje foi um esforço nesse sentido”, concluiu.