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Posição contrária

Lula diz que aborto será discutido como saúde pública

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, reiterou posição contrária ao projeto de lei que equipara o aborto realizado após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio.

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18 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Lula diz que aborto será discutido como saúde pública
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre o cenário eleitoral em Belo Horizonte,

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, reiterou posição contrária ao projeto de lei que equipara o aborto realizado após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio. De acordo com Lula, enquanto ele for presidente da República, o aborto será tratado como questão de saúde pública.

“Eu, Luiz Inácio Lula da Silva, sou contra o aborto. Mas, enquanto eu for chefe de Estado, o aborto tem que ser tratado como questão de saúde pública. Porque você não pode continuar permitindo que a madame vá fazer aborto em Paris e a coitada morra em casa tentando furar o útero com uma agulha de tricô”, disse, em entrevista concedida à Rádio CBN na terça-feira, 18.

“Quem aborta são meninas 12, 13, 14 anos; é crime hediondo um cidadão estuprar e uma menina de 10, 12 anos e depois querer que mulher tenha o filho”, disse Lula. “É preciso, de forma civilizada, discutir. As crianças estão sendo violentadas dentro de casa”, acrescentou.

O presidente avaliou que a questão do aborto não é “debate cru”, mas uma questão madura que envolve sociedade. “Elas têm o direito de ter comportamento diferente e não querer o filho. Por que uma menina é obrigada a ter um filho do cara que estuprou ela? Que monstro vai sair do ventre dela?”

Lula disse que seu governo não precisa de tal teste, diante da imposição do Congresso em relação à pauta de costumes. “Não preciso de teste; quem precisa de teste é ele -deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), autor do projeto. Queria saber se uma filha dele fosse estuprada, como ele iria se comportar”, rebateu.

O presidente da República afirmou não gostar de discutir pautas de costume porque algumas não têm relação com a realidade do Brasil. “O aborto não deveria nem ter entrado em pauta. O tema do Brasil não é esse.”

O chefe do Executivo disse que, em vez do conteúdo do projeto, deveriam estar sendo debatidos outros temas, como o de levar educação sexual nas escolas. “Estamos retrocedendo na discussão.”

O presidente cobrou do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e dos líderes do governo que conversem mais com o Congresso. Na avaliação do chefe do Executivo, na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, houve um processo de empoderamento do Parlamento.

“Nós só temos 70 deputados, a minha base de esquerda deve ter 140, e nós temos 513 deputados. Tem que negociar? Tem. Padilha tem que conversar mais? Jaques Wagner tem que conversar mais? Tem. José Guimarães tem que conversar mais? Tem. Randolfe tem que conversar mais? Tem”, cobrou Lula. “Mas é assim, quem não gostar de conversar, não fala política.”

Na avaliação do petista, depois da gestão Bolsonaro, o Congresso “se empoderou demais”, enquanto o Executivo “tem ficado fragilizado na arte de exercer o orçamento da União”. Sob um Parlamento com perfil mais conservador, Lula, contudo, negou que tenha subestimado o papel dos congressistas, uma vez que eles estão fazendo “o que sempre souberam fazer”. Porém, ele aponta uma falta de experiência com a extrema-direita nos temas pautados.

“Não tínhamos experiência com extrema-direita ativista como temos hoje, pouco pragmática na política, mas muito pragmática nas mentiras”, citou.

O presidente citou o veto ao projeto que trata da saída temporária de presos, a “saidinha”. Quando vetou, Lula queria abrir brecha para permitir permissão de visita de presos à família. Mas com a derrubada do veto, esse benefício fica impedido.

De acordo com o petista, o veto se deu por uma “questão de princípio”. “Veto à saidinha foi decisão minha, sabendo que quando fosse para lá (Congresso), ia perder”, comentou. “Queria que ficasse para história que eu vetei saidinha porque família é base da sociedade.”

Na entrevista, Lula negou que tenha conversado com o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) sobre a presidência da Casa e com a Câmara sobre a presidência da Casa. “É um problema deles, não é do presidente da República”, disse.