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Corte dos juros

Dirigente do Fed diz ver episódio de inflação nos estágios finais

Em seminário virtual organizado pelo MNI, Tom Barkin explicou que os preços de bens parecem ter voltado aos níveis anteriores à pandemia de covid-19.

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18 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Dirigente do Fed diz ver episódio de inflação nos estágios finais
O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Richmond, Tom Barkin

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Richmond, Tom Barkin, afirmou na terça-feira, 18, que o episódio recente de inflação está “claramente” nos estágios finais, mas ponderou que este ainda não é o momento adequado para declarar vitória no processo de combate à escalada dos preços.

Em seminário virtual organizado pelo MNI, Barkin explicou que os preços de bens parecem ter voltado aos níveis anteriores à pandemia de covid-19. Por outro lado, os segmentos de habitação e serviços ainda apresentam alta.

Barkin, que vota nas reuniões deste ano do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), ressaltou que os dados do primeiro trimestre não ampliaram a confiança de que a inflação caminha de maneira sustentada à meta de 2%. Para ele, os números do último mês vieram “encorajadores”, mas ainda é preciso monitorar a evolução do quadro.

O dirigente acrescentou que a inflação, no geral, não cai de maneira linear, como pode ser visto neste momento. De acordo com ele, o crescimento salarial ainda está mais elevado que antes da crise da covid-19, mas não explica totalmente o ambiente inflacionário.

O presidente do Federal Reserve de Richmond argumentou ainda que o gráfico de pontos elaborado pelo FOMC não representa uma promessa, compromisso ou um “forward guidance”, apenas uma projeção. “E previsões, às vezes, erram”, disse.

O dirigente explicou que o “forward guidance” pode ser um instrumento efetivo para a política monetária, mas também pode dificultar a comunicação em momentos de incertezas, como o atual “‘Forward guidance’ nem sempre é o instrumento certo”, comentou.

Barkin ressaltou ter “forte percepção” de que os juros estão em níveis restritivos agora. Para ele, a defasagem na transmissão da política monetária tende a ser mais longa hoje do que antigamente.

Perguntado sobre o risco de uma alta de juros, Barkin respondeu que sempre mantém a “mente aberta” para qualquer possibilidade. Se houver um superaquecimento da economia, haveria um argumento para mais aperto monetário, segundo ele. Por outro lado, um inesperado enfraquecimento justificaria cortes, pontuou.

O dirigente disse acreditar que os juros neutros estão mais altos do que antes da pandemia, como indicado por vários modelos estatísticos.

O presidente do Federal Reserve de Richmond afirmou também que o mercado de trabalho ainda está “saudável” nos Estados Unidos, mas que consegue imaginar uma série de cenários futuros que poderiam levar ao enfraquecimento do emprego, diante de juros ainda em níveis restritivos.

No seminário virtual organizado pelo MNI, Barkin explicou que vê alguns fatores preocupantes, entre eles a baixa de taxa de contratação. Para ele, a política monetária está bem posicionada agora para reagir a qualquer um dos cenários que se concretizar.

O presidente do Federal Reserve de Richmond defendeu ainda a normalização do balanço de ativos da autoridade monetária para preservar a efetividade da ferramenta. Durante o evento organizado pelo MNI, Barkin se disse “encorajado” pela falta de ruídos no mercado como resultado do processo de aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês).

Sobre os riscos relativos às eleições presidenciais nos Estados Unidos, o dirigente reiterou que o tema não é incorporado nas decisões de política monetária do FOMC. Segundo ele, todos os próximos passos serão guiados pela evolução dos indicadores macroeconômicos.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Nova York, John Williams, afirmou que eventuais cortes de juros dependerão de dados demonstrando evolução da economia e do processo de desinflação, mas evitou prever quando a redução pode acontecer.

“A economia dos EUA tem um bom desempenho e vemos bons sinais, com um mercado de trabalho forte e reequilíbrio da oferta e da demanda. Mas nossas decisões dependem de dados e precisamos ver a inflação baixar”, pontuou Williams. “Não farei uma previsão de quantos cortes de juros devem acontecer.”

O dirigente frisou que as projeções do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) sobre juros – representadas pelo gráfico de pontos – não são planos concretos e que, por isso, é necessário tomar as decisões a cada reunião monetária.

Williams disse que espera uma redução gradual dos juros nos próximos dois anos, acompanhando a trajetória de queda da inflação rumo à meta de 2% durante o segundo semestre de 2024 e início de 2025.

O presidente da distrital de Nova York reiterou que o Fed não desviará do objetivo de alcançar a inflação em 2% e não deve alterar a meta – por exemplo, para 3% – mesmo diante do cenário eleitoral nos EUA. “Precisamos ignorar a política e cumprir nosso trabalho”, afirmou.

Williams, que vota nas decisões monetárias do FOMC, demonstrou confiança no desempenho da economia e reforçou que “não basta apenas um mês de dados positivos”, devido à natureza volátil de dados mensais. “Estamos caminhando na direção certa, mas não quero ser dependente de somente um dado. Devemos olhar quadro geral”, concluiu.