País
Caso Marielle

Defesa de Brazão pede que cassação do mandato seja decidida somente após STF julgar denúncia

Brazão está preso desde março acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes, em 2018.

Compartilhe:
12 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Defesa de Brazão pede que cassação do mandato seja decidida somente após STF julgar denúncia
O deputado federal Chiquinho Brazão.

A defesa do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) entrou com um pedido para que o processo de cassação do mandato do parlamentar no Conselho de Ética da Câmara fique suspenso até que o Supremo Tribunal Federal (STF) conclua a análise da denúncia contra ele. Brazão está preso desde março acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes, em 2018.

Os advogados de Brazão argumentam que o suposto crime foi cometido antes de o parlamentar assumir o mandato na Câmara e que, por isso, não faria sentido ele ser cassado no Conselho de Ética por esses fatos.

“Subsidiariamente, seja o presente feito chamado à ordem para determinar o seu sobrestamento até que o STF analise a veracidade das acusações movidas em face do Deputado CHIQUINHO BRAZÃO, quando então essa Casa terá a segurança necessária para avaliar legitimidade da cassação do mandato parlamentar do defendente”, diz o documento, protocolado nesta segunda-feira, 10, no Conselho de Ética.

Ainda não há previsão para que o STF julgue o caso. No colegiado da Câmara, o processo de cassação é relatado pela deputada Jack Rocha (PT-ES). Iniciou-se nesta terça-feira, 11, a contagem de 40 dias de prazo para a instrução probatória do caso Brazão no Conselho de Ética. Essa fase ocorre após os advogados apresentarem a defesa escrita.

Brazão e outros acusados foram presos em 24 de março, em operação da Polícia Federal autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em 10 de abril, a Câmara manteve a prisão do deputado por 277 votos a 129, apenas 20 a mais que o necessário para aprovar o parecer do relator, Darci de Matos (PSD-SC), que havia recomendado a manutenção da decisão judicial.

Houve um movimento na Câmara, liderado por bolsonaristas e com apoio do Centrão, para libertar o deputado acusado de mandar matar Marielle. Um dos parlamentares que se posicionaram de forma pública a favor da soltura foi o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), considerado favorito do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), para sua sucessão.

Um dia após a decisão do plenário de manter Brazão preso, Lira chamou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de “incompetente” e “desafeto pessoal”. O presidente da Câmara acusou o ministro de plantar informações na imprensa de que ele teria se enfraquecido com a manutenção da prisão do deputado.

A avaliação de aliados de Lira, na ocasião, foi de que Padilha rompeu uma regra de independência entre os Poderes ao ligar para parlamentares com o objetivo de convencê-los a votar para manter a prisão de Chiquinho Brazão. O presidente da Câmara já havia rompido relações com o articulador político do governo Lula devido a uma disputa por emendas do Ministério da Saúde.

Apesar de diversas tentativas de obstrução, a investigação sobre a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018, foi séria, correta e chega a um lugar importante. Mas ainda é preciso investigar o que se descobriu a partir do assassinato. A avaliação é do presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) e ex-deputado federal Marcelo Freixo, que tinha estreita ligação com Marielle, que foi sua assessora por dez anos. 

Para Freixo, o assassinato de Marielle “destampa um bueiro” muito grave da segurança pública do Rio. “Aquilo que é desnudado no caso Marielle, independentemente do mandante, da motivação, tem que ser investigado, não na mesma apuração. Mas o Brasil não pode achar que tudo o que se revelou durante o caso Marielle está resolvido”, acrescenta, destacando que o assassinato da vereadora foi um crime contra a democracia.

Para ele, a investigação foi carregada de problemas, com cinco delegados em cinco anos. “Quando os delegados começavam a se aproximar de algum lugar mais estratégico, eram trocados. Então, estava na cara que tinha uma obstrução política para não deixar chegar”. Na avaliação de Freixo, quando a Polícia Federal entrou na investigação, os resultados começaram a aparecer. “Mas eles tinham cinco anos de destruição de provas por quem sabe destruir provas”, completa. 

Na entrevista, Freixo também comparou as milícias que atuam no Rio de Janeiro com a máfia, especialmente a italiana, pois elas têm origem no poder. “A milícia nasce no palácio, ela nasce como projeto de poder. É quando o crime tem um projeto de poder e utiliza a polícia para um fim político de uma elite corrupta. Por isso que o problema da milícia não é só da polícia, é da política”, diz Freixo, que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando era deputado estadual. 

O relatório da comissão foi apresentado por Freixo em diversos países, em busca de apoio para o cumprimento das medidas. “Na Alemanha, por exemplo, tive muita dificuldade de que o Parlamento entendesse o que era a CPI, porque eles não conseguiam compreender o que era um estado leiloado. O último país que visitei foi a Itália. Lá eu começava a falar e eles rapidamente entendiam como funciona, porque havia uma semelhança muito clara entre o que a Itália tinha vivido com o crime e o que a gente estava vivendo”, disse.