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Ajuda humanitária

UE insta Israel a pôr fim à operação em Rafah

Segundo comunicado emitido pelo Alto Representante do bloco, Josep Borrell, a operação está perturbando ainda mais a distribuição de ajuda humanitária em Gaza

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16 de maio de 2024
Vinicius Palermo
UE insta Israel a pôr fim à operação em Rafah
A crise humanitária em Gaza deixa crianças como as maiores vítimas

A União Europeia (UE) instou Israel a pôr fim imediatamente à sua operação militar em Rafah. Segundo comunicado emitido na quarta-feira, 15, pelo Alto Representante do bloco, Josep Borrell, a operação está perturbando ainda mais a distribuição de ajuda humanitária em Gaza e provocando mais deslocamentos internas, exposição à fome e sofrimento humano.

“Se Israel continuar a sua operação militar em Rafah, isso colocará inevitavelmente uma forte pressão nas relações da UE com Israel”, diz o documento.

“Embora a UE reconheça o direito de Israel de se defender, o país deve fazê-lo em conformidade com o Direito Humanitário Internacional e proporcionar segurança aos civis”. O bloco apela a Israel para que se abstenha de agravar ainda mais a já grave situação humanitária em Gaza e reabra o ponto de passagem de Rafah. “Mais de um milhão de civis estão abrigados em Rafah e nos arredores e foram instruídos a evacuar para áreas que, segundo as Nações Unidas, não podem ser consideradas seguras”, diz a publicação.

“Apelamos a todas as partes para que redobrem os seus esforços para alcançar um cessar-fogo imediato e a libertação incondicional de todos os reféns detidos pelo Hamas”, conclui.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que o país “fará o que tiver de fazer” com relação ao atual conflito com o Hamas. Em entrevista à CNBC, o dirigente indicou que agradece o apoio que recebeu dos Estados Unidos desde o começo da recente guerra, mas que há uma divergência sobre Gaza com o governo americano, especialmente sobre Rafah.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que está consternado com a escalada da atividade militar israelense em Rafah e arredores, no sul de Gaza.

Em mensagem transmitida pelo porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, ele afirmou que as novas ações militares estão “impedindo ainda mais o acesso humanitário e agravando uma situação já terrível”. Guterres também ressaltou que o Hamas continua “disparando mísseis indiscriminadamente”.

Enfatizando que os civis devem ser respeitados e protegidos em todos os momentos, Guterres observou que “para as pessoas em Gaza, nenhum lugar é seguro agora”. 

O líder da ONU reiterou seu apelo por um cessar-fogo humanitário imediato e à libertação de todos os reféns. Ele também apelou à reabertura imediata da passagem de Rafah e ao acesso humanitário desimpedido em toda Gaza.

A diretora regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, para o Oriente Médio e Norte de África, afirmou que a escalada do confronto em Rafah e em toda Gaza aprofundou o sofrimento de milhares de crianças. 

Adele Khodr lembrou que os menores enfrentam um “pesadelo implacável” há 218 dias e que isso não pode ser aceito como um “dano colateral”.

O Unicef ressaltou que na semana passada, começou “uma temida operação militar em Rafah”, deslocando mais de 450 mil pessoas para áreas inseguras como Al-Mawasi e Deir al Balah. 

Enquanto isso, bombardeios pesados e operações terrestres se espalharam para o norte de Gaza, deixando um rastro de destruição em áreas como o campo de refugiados de Jabalia e Beit Lahia. Pelo menos 64 mil pessoas foram forçadas a fugir de suas casas destruídas.

Adele Khodr disse que “os civis, já exaustos, desnutridos e enfrentando inúmeros eventos traumáticos”, agora estão enfrentando um aumento de mortes, ferimentos e deslocamentos “nas ruínas de suas comunidades”. 

Segundo ela, as próprias operações humanitárias que se tornaram a única salvação para toda a população estão ameaçadas.

Os principais hospitais do norte de Gaza, incluindo Kamal Adwan, Al Awda e o Hospital Indonésio, encontram-se no fogo cruzado, o que, segundo o Unicef, interrompe a entrega de suprimentos médicos, colocando inúmeras vidas em risco.

De acordo com ONU Mulheres, mais de 150 mil grávidas e lactantes enfrentam condições sanitárias precárias e riscos para a saúde no enclave.

O Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, informou está trabalhando com parceiros para restaurar os serviços de saúde no Complexo Médico Nasser em Khan Younis, que deverá reabrir nos próximos dias.

O hospital começou a fornecer tratamento de diálise na semana passada a pacientes que já não podem ser tratados no Hospital An Najjar, em Rafah, que deixou de prestar serviços.

O Ocha também informou que na segunda-feira, colonos israelenses na Cisjordânia atacaram caminhões de ajuda com destino a Gaza. Segundo a agência, “os colonos descarregaram e vandalizaram os veículos no posto de controle de Tarqumiya, perto da barreira de Beit ‘Awwa”.

No começo da semana houve um novo ataque com fogo contra a sede da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, em Jerusalém Oriental, realizada por crianças e jovens israelenses. O comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazzarini, afirmou que estes ataques “têm que parar”.

Na noite de quinta-feira passada, Lazzarini disse que residentes israelenses atearam fogo duas vezes no perímetro da sede da Unrwa, quando funcionários de várias agências da ONU estavam no complexo. Não houve vítimas entre o pessoal da ONU, mas o incêndio causou grandes danos nas áreas exteriores. 

O chefe da agência disse que durante o incidente da semana passada uma multidão “acompanhada por homens armados” foi vista fora do complexo gritando “incendeiem as Nações Unidas”.