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Netanyahu diz que manterá ataques em Gaza, apesar de resolução da ONU

O líder israelense afirma que a resolução encorajou o Hamas a rejeitar uma proposta separada de cessar-fogo e libertação de reféns.

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26 de março de 2024
Vinicius Palermo
Netanyahu diz que manterá ataques em Gaza, apesar de resolução da ONU
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu na terça-feira, 26 que prosseguirá com a ofensiva em Gaza e criticou a resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que pede cessar-fogo na região. O líder israelense afirma que a resolução encorajou o Hamas a rejeitar uma proposta separada de cessar-fogo e libertação de reféns.

O Hamas disse que manterá os reféns até que Israel concorde com um cessar-fogo permanente, retire suas forças de Gaza e liberte centenas de prisioneiros palestinos, incluindo os principais militantes. O grupo informou NA segunda-feira, 25, que rejeitou uma proposta recente que não atendia a essas exigências.

Netanyahu afirmou em uma declaração que o anúncio “provou claramente que o Hamas não está interessado em continuar as negociações para um acordo e serviu como um testemunho infeliz dos danos da decisão do Conselho de Segurança”.

Segundo o primeiro-ministro, Israel pode alcançar seus objetivos de desmantelar o Hamas e recuperar muitos reféns se expandir sua ofensiva terrestre para a cidade de Rafah, ao sul, onde mais da metade da população de Gaza buscou refúgio, muitos em acampamentos lotados.

A guerra já matou mais de 32 mil palestinos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que não faz distinção entre civis e combatentes em sua contagem, mas afirma que mulheres e crianças representam cerca de dois terços dos mortos. Os combates deixaram grande parte da Faixa de Gaza em ruínas, deslocaram a maioria de seus residentes e levaram um terço de sua população de 2,3 milhões de pessoas à beira da fome.

Na segunda-feira, o Conselho de Segurança finalmente conseguiu aprovar uma resolução pedindo um cessar-fogo, após os Estados Unidos se absterem em vez de vetar a medida, como fez anteriormente em outras votações. A abstenção irritou Israel, em uma grande escalada de tensões entre os dois aliados próximos, e levou Netanyahu a cancelar a visita marcada de uma delegação de autoridades israelenses à Casa Branca para discutir abordagens alternativas em Gaza.

Contudo, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, está em Washington em uma viagem separada e deve se reunir com o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, ainda na terça-feira. Na segunda-feira, Gallant ecoou comentários de outros líderes israelenses e prometeu continuar a ofensiva até que os objetivos de Israel sejam alcançados.

Na terça-feira, os intensos conflitos em Gaza entre os combatentes do Hamas e as forças israelenses continuaram, com um “número de dois dígitos de crianças mortas durante a noite”. 

Agências reportaram a continuação da violência apesar da adoção de uma resolução do Conselho de Segurança na segunda-feira pedindo um cessar-fogo imediato durante o Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos.

Diversas entidades de ajuda humanitária da ONU fizeram apelos para que a resolução do órgão seja respeitada imediatamente, para evitar novas mortes.

Citando relatos de “um número de dois dígitos de crianças mortas durante a noite”, o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância, James Elder, observou que isto aconteceu “poucas horas depois da resolução ter sido aprovada”. 

Falando de Rafah, no sul de Gaza, ele disse que 13.750 crianças já foram mortas, de acordo com as autoridades de saúde de Gaza, em meio a ataques aéreos israelenses e bombardeios lançados em resposta aos ataques terroristas liderados pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro.

A cidade de Khan Younis, no sul de Gaza, “quase não existe mais”, acrescentou o porta-voz do Unicef. Ele lembrou que existe um número ainda indefinido de crianças e famílias soterradas sob os escombros das casas. 

Elder afirmou que em 20 anos trabalhando na ONU “nunca viu tamanha devastação”. Ele descreveu o cenário no norte do enclave como “apenas caos, ruína, escombros e mais escombros em todas as direções, para onde quer que se olhe”. 

O porta-voz ressaltou também que o Hospital Nasser em Khan Younis, que costumava ser “um lugar crítico para crianças com feridas de guerra”, já não está operacional. Atualmente, apenas um terço dos hospitais de Gaza estão “parcialmente funcionais”. 

Na segunda-feira, uma missão de ajuda do Programa Mundial de Alimentos, PMA, garantiu a passagem de 96 caminhões transportando suprimentos de socorro para o norte de Gaza pela primeira vez em cinco dias. 

Antes da guerra, cerca de 500 caminhões comerciais e humanitários chegavam ao enclave todos os dias. A média hoje é de cerca de um terço desse número, mas também houve períodos de “semanas em que nada entrou no norte”, acrescentou o representante do Unicef.

Os dados da agência apontam que uma em cada três crianças com menos de dois anos sofre agora de desnutrição aguda. Antes do conflito, menos de uma em cada 100 crianças com menos de cinco anos estava subnutrida.

O porta-voz da Organização Mundial da Saúde, Tarik Jazarevic, informou que a maioria dos pacientes do hospital Al Amal, no sul, já saiu da unidade.

Segundo agências de notícias, uma ordem de evacuação foi emitida pelos militares israelenses, em meio a intensos combates no oeste de Khan Younis. A situação também é considerada grave no Hospital Al Shifa, no norte de Gaza, que foi alvo de um ataque militar israelense.

Falando a jornalistas em Genebra, Jazarevic disse que profissionais de saúde estão morrendo, hospitais estão sitiados e muitas pessoas buscam abrigos nesse tipo de instalações por não terem mais para onde ir. 

Agências de notícias relataram também ataques aéreos durante a noite de terça-feira perto da cidade de Rafah, no extremo sul, onde cerca de 1,5 milhão de pessoas estão agora abrigadas, muitas delas depois de terem sido forçadas a sair de suas casas em outras partes do enclave.