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Processo irregular

Corte prematuro em juros pode travar progressos no combate à inflação

A diretora do Federal Reserve, Lisa Cook, alertou na segunda-feira, 25, que um relaxamento monetário prematuro poderia permitir que a inflação acima da meta de 2%

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25 de março de 2024
Vinicius Palermo
Corte prematuro em juros pode travar progressos no combate à inflação
A diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Lisa Cook

A diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Lisa Cook alertou na segunda-feira, 25, que um relaxamento monetário prematuro poderia permitir que a inflação acima da meta de 2% se incorpore à economia dos Estados Unidos e, dessa forma, travar os progressos recentes em direção à estabilidade de preços. “Em última análise, isso exigiria uma política monetária mais restritiva para arrancar da economia a inflação mais persistente, com um custo potencialmente elevado para o emprego”, advertiu, em discurso durante evento na Universidade de Harvard.

Por outro lado, a dirigente reconheceu que um afrouxamento tardio poderia causar prejuízos desnecessários à atividade econômica.

Segundo ela, o processo de desinflação tem sido acidentado e irregular, conforme já era esperado.
“Mas uma abordagem cuidadosa a novos ajustes políticos pode garantir que a inflação regressará de forma sustentável a 2%, ao mesmo tempo que trabalha para manter o mercado de trabalho forte”, destacou ela, que vê riscos para inflação e emprego como “mais equilibrados”.

A diretora do Federal Reserve afirmou ainda que a inflação de serviços de habitação nos Estados Unidos permanece “bem alta”, mas ponderou que o ritmo lento de avanço nas taxas de novos alugueis sugere que esse segmento inflacionário continuará arrefecendo à frente.

Lisa Cook acrescentou que os preços do núcleo de serviços sem habitação não subiram tanto quanto os de bens, mas também tem tido baixa mais vagarosa.

“Dado que os preços dos serviços tendem a ser ajustados com menos frequência do que os preços dos bens, também pode acontecer que alguns preços ainda estejam a ajustar-se ao aumento dos custos dos fatores de produção durante a pandemia”, explicou a diretora.

Lisa Cook disse ainda que diversas métricas apontam para o esfriamento do crescimento salarial nos Estados Unidos. A dirigente também afirmou ver sinais de normalização do mercado de trabalho norte-americano.

Ela explicou que o elevado aumento dos salários representa uma tentativa de compensar a escalada da inflação em anos anteriores. Se isso causará mais pressão de alta nos preços, dependerá do comportamento da produtividade e das margens de lucros das empresas, de acordo com ela. “Se o crescimento da produtividade for forte, isto é, se for possível produzir mais produtos com menos fatores de produção, um ritmo mais rápido de crescimento salarial não precisa de ser inflacionário”, explicou.
A dirigente citou a inteligência artificial como uma potencial fonte significativa de crescimento da produtividade, embora esse impulso deva demorar algum tempo a se concretizar.

“Sabemos pela história econômica que o pleno benefício de uma nova tecnologia requer investimentos complementares, bem como mudanças na estrutura empresarial, nas práticas de gestão e na formação dos trabalhadores”, comentou Lisa Cook.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Chicago, Austan Goolsbee, deixou claro na segunda-feira, 25, que não deseja restringir suas opções na política monetária, diante das incertezas sobre a inflação. Ele disse que concorda com a mediana das projeções mais recentes, que apontam para três cortes de juros neste ano, mas se recusou a especular sobre quando pode ser a primeira redução, ao ser questionado se ela poderia acontecer em junho.

Sem direito a voto nas decisões de política monetária neste ano, Goolsbee disse que compartilha a visão do presidente do Fed, Jerome Powell, de que o quadro na inflação não mudou muito, apesar de números um pouco superiores ao previsto, vistos em janeiro.

O presidente do Fed de Chicago recordou que a inflação de janeiro se seguiu a vários meses de quadro mais positivo. Ainda assim, o quadro é “obscuro” na trajetória inflacionária, por isso ele rechaçou atar as mãos do Fed na política monetária em relação à quando pode ocorrer o corte nos juros.

Goolsbee recordou que a política monetária fica cada vez mais apertada, conforme ela é mantida e a inflação perde fôlego, o que colabora para o argumento de reduções nos juros mais adiante.

Perguntando especificamente sobre um eventual corte em junho, ele disse que haverá ainda muitos indicadores para avaliar até lá. É preciso garantir que a inflação está na “tendência certa” para agir, acrescentou. E descartou seguir algum padrão anterior, como a regra de Taylor, para determinar o momento certo de cortar juros.

O dirigente também disse concordar com Powell sobre a perspectiva de que em breve o Fed ajuste o ritmo da redução do seu balanço.

Goolsbee também afirmou que reduzir o ritmo dessa redução não significa se comprometer a manter um tamanho mais elevado do balanço. Disse ainda que considera questões totalmente distintas o nível do balanço e a política para os juros.