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Alívio prematuro

Powell admite que relaxamento monetário pode começar em 2024

Powell disse considerar “positivo” e “surpreendente” que a inflação tenha caído sem um dano significativo à atividade

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07 de março de 2024
Vinicius Palermo
Powell admite que relaxamento monetário pode começar em 2024
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, reiterou na quinta-feira, 7, a visão de que, se a economia dos Estados Unidos evoluir conforme o previsto, a autoridade monetária poderá relaxar a política monetária em algum momento em 2024.

Em audiência no Senado dos EUA, Powell disse considerar “positivo” e “surpreendente” que a inflação tenha caído sem um dano significativo à atividade – um fenômeno conhecido no mercado como “pouso suave”.

Questionado sobre as propostas de reformas regulatórias de bancos conhecidas como Basileia III, Powell comentou que espera mudanças consideráveis no texto final. “É mais importante fazermos isso corretamente do que rapidamente. Não estamos com pressa”, destacou. Para ele, o Fed precisa trabalhar para remover o estigma que recai sobre a janela de redesconto bancário.

O presidente do Fed reforçou que a economia dos Estados Unidos cresce em ritmo “sustentável”, “sólido”, “forte” e “saudável”. Segundo ele, o país registra desempenho melhor que todas as outras grandes potências econômicas do globo.

Em audiência no Senado norte-americano, Powell também qualificou o mercado de trabalho dos EUA como forte e ressaltou que a inflação arrefeceu de maneira significativa no último ano.

O presidente do Federal Reserve disse que a autoridade monetária busca obter maior confiança de que a inflação nos EUA caminha de forma sustentável de volta à meta de 2% antes de decidir relaxar a política monetária.

Segundo ele, o Fed não está longe de chegar a esse nível de confiança e, se a economia do país evoluir conforme o previsto, será apropriado cortar juros.

Na audiência no Senado dos EUA, Powell ressaltou que a taxa básica está “bem restritiva” e qualificou a posição atual da política monetária como “correta”.

Powell também negou que a política fiscal esteja em um ponto que sobrecarrega a monetária. Ainda assim, ele defendeu que o Congresso deve voltar a ter discussões sobre a retomada da sustentabilidade da dívida pública.

O presidente do Federal Reserve ainda negou que a autoridade monetária esteja prestes a recomendar a emissão de uma moeda digital de banco central (CBDC, na sigla em inglês).

Na audiência no Senado norte-americano, Powell ressaltou que, se eventualmente o instrumento for adotado, o processo ocorrerá por meio do sistema bancário.

De acordo com ele, o modelo será diferente do implementado pela China, que controla a ferramenta através do governo. De qualquer forma, os EUA não estão nem “remotamente perto” de ter uma CBDC, segundo ele.

A diretora do Fed, Michelle Bowman indicou que a autoridade monetária ainda não chegou ao momento adequado para cortar juros. Em discurso durante evento com banqueiros em Nova Jersey, a dirigente defendeu uma postura de “cautela” em relação aos próximos passos da política monetária.

Michelle Bowman comentou que, se os próximos indicadores mostrarem contínuo e sustentável progresso da inflação em direção à meta de 2%, será apropriado reduzir a taxa básica. “Na minha visão, ainda não estamos nesse ponto”, argumentou ela, que alerta que um alívio monetário prematuro poderia ampliar a necessidade de mais aperto à frente no horizonte.

Apesar disso, a dirigente se disse “disposta” a defender uma nova elevação dos juros caso haja indícios de que o processo de retomada da estabilidade de preços parou ou se reverteu.

As decisões serão tomadas a cada reunião e levarão em conta a evolução dos dados, reforçou. “É importante notar que a política monetária não segue um rumo predefinido”, garantiu.

A diretora do Federal Reserve alertou também que os dados de janeiro sugerem que os progressos no combate à inflação nos EUA podem perder força à frente. Para ela, os índices de preços devem continuar arrefecendo, mas há riscos de alta para o cenário inflacionário.

A dirigente citou os desdobramentos geopolíticos, que poderiam ter efeitos nos mercados de alimentos e energia, além de prejudicar as cadeias produtivas.

“Existe também o risco de que um afrouxamento das condições financeiras e um estímulo fiscal adicional possam dar impulso à demanda, travando qualquer progresso adicional ou mesmo provocando uma reaceleração da inflação”, disse ela, que acrescenta que o aperto no mercado de trabalho também poderia impulsionar a inflação de serviços.