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Lira diz que Lula estará junto com ele para escolher futuro presidente da Câmara

Segundo pessoas próximas a Lira, antes do Carnaval, os dois tiveram uma conversa em que Lula teria dito que não pretende se intrometer na disputa pela presidência da Câmara.

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24 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Lira diz que Lula estará junto com ele para escolher futuro presidente da Câmara
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado de Arthur Lira

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, espera o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para definir o candidato à sua sucessão no comando da Casa legislativa. Na sexta-feira, 23, Lira disse que o petista tem “todo o direito” de ter um candidato próprio, mas informou que a escolha do nome será feita a partir de diálogo entre os dois chefes de Poder. O mandato de Lira na presidência da Câmara vai até o início de 2025.

Segundo pessoas próximas a Lira, antes do Carnaval, os dois tiveram uma conversa em que Lula teria dito que não pretende se intrometer na disputa pela presidência da Câmara. Lira disse que preferia que o petista entrasse sim na articulação e que o nome a ser definido como candidato à sua sucessão tivesse tanto o aval dele como de Lula. Nessa conversa, Lira ainda falou que para não criar entraves ao governo nem acirrar uma eventual crise entre as instituições, o melhor seria um nome de consenso.

“O presidente Lula tem a vontade dele e o direito dele de tentar fazer o sucessor dele, como eu tenho a minha pretensão, ouvindo, a todos os líderes partidários”, disse Lira, após participar de evento na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, sobre segurança pública. E completou: “O presidente Lula sabe disso e já disse que estará junto desse projeto de acompanhar para que eu tenha o direito de fazer meu sucessor”.

Lira ainda aproveitou para mandar um recado aos petistas que planejam lançar candidatura própria para derrotar o indicado pelo deputado alagoano. Para o presidente da Câmara, se Lula pode estar junto com ele na escolha de um nome, “o PT não pensará diferente, até porque não tem motivos”. “Todos os compromissos que assumimos foram honrados. Não há nenhuma instabilidade política ou pauta-bomba econômica, muito pelo contrário”, disse Lira.

Segundo Lira, na reunião da noite de quinta-feira, 22, entre líderes partidários e o presidente da Câmara dos Deputados, não houve uma tema específico, mas citou exemplos como pacto federativo, a relação das dívidas dos estados e a relação com o Congresso.

“Foi um bate-papo normal, uma conversa mais amena sem pontos específicos. O presidente conversou, como tem que fazer com os líderes partidários que representam os parlamentares”, informou. “É uma ação necessária e tem que ser rotina entre os líderes que participam da Câmara dos Deputados”, concluiu.

O líder do PSB na Câmara, Gervásio Maia (PB), disse depois do encontro promovido pelo presidente com líderes de bancada no Palácio da Alvorada na quinta-feira, 22, que o petista deverá ter mais compromissos do tipo para azeitar sua relação com o Legislativo. O próprio Lula disse que haveria esse contato mais próximo, de acordo com Gervásio.

“Ele disse que vai ter uma proximidade maior, vai dialogar mais, vai ser meio que uma rotina”, declarou o deputado. Isso serviria inclusive para o presidente entender o que acontece em cada região do Brasil.
De acordo com o líder do PSB, Lira disse ser importante a ampliação do diálogo com o governo.

Num gesto para se aproximar de líderes de partido e também do presidente da Câmara, Lula patrocinou no início da noite desta quinta-feira, 22, um happy hour no Palácio da Alvorada, sua residência oficial. O petista levou para o encontro cinco ministros. Entre eles Fernando Haddad, da Fazenda, que tem projetos de interesse pendentes de aprovação pelos deputados.

Lira e parte dos líderes andam às turras com a articulação política do governo por conta da trava na liberação de emendas parlamentares ao Orçamento. Na noite de quinta, porém, não houve reclamações. Em discurso, Lula agradeceu o apoio que recebeu do Parlamento e lembrou que a Câmara ajudou antes mesmo de ele tomar posse ao aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que abriu espaço no Orçamento para ampliar programas sociais como o Bolsa Família.

Em troca dos elogios, Lula ouviu do presidente da Câmara, conforme relato de presentes, a promessa de que seu papel institucional é colaborar com o Executivo. Mas não se esquivou de admitir que a relação com o Parlamento nem sempre é tranquila. Lira também afirmou que às vezes fica chateado com algumas situações, mas que a conversa é sempre “franca”.

O presidente da Câmara disse que encontros como o de quinta-feira são momentos importantes na relação entre os Poderes. O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, com quem o deputado alagoano rompeu relações, também estava presente no Alvorada. Os dois não conversaram. Padilha ficou a maior parte do tempo na rodinha em volta de Lula O novo interlocutor do presidente da Câmara no Planalto é Rui Costa.

As rodinhas de conversa foram regadas a uísque, que Lula recebeu de presente dos líderes, cerveja, vinho e nada de jantar. Para comer foram servidos salgadinhos: pastel de queijo e camarão e coxinha. Lula prometeu retribuir o uísque presenteado com um convite futuro para um churrasco no Alvorada.

O encontro foi promovido pelo governo para estreitar a relação do Executivo com as bancadas e principalmente com o presidente da Câmara. Lula vem tentando minimizar atritos para facilitar a aprovação de projetos caros ao Planalto pelo Legislativo. Esse método de fazer política não é novo para o petista, que costumava promover jogos de futebol com aliados na Granja do Torto em seus primeiros mandatos como presidente, de 2003 a 2010.

No “happy hour” de quinta, Lula brincou que o governo está em contenção de despesas e, por isso, não foi servido um jantar completo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estava presente no encontro, tem pedido apoio do Congresso para aprovar medidas de aumento de arrecadação. O chefe da equipe econômica tenta zerar o déficit das contas públicas este ano.

A confraternização no Alvorada foi em uma sala com sofás. Tirando o momento em que o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), Lira e Lula discursaram, os presentes se dividiram em rodinhas. Comiam e bebiam ora de pé, ora sentados.

As estrelas do encontro circulavam entre os grupos, que na maior parte do tempo eram três: um em torno de Lula, outro de Haddad e um terceiro em volta do ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Lula às vezes falava sobre as obras do governo na base eleitoral do interlocutor. Foi o caso, por exemplo, em conversa com João Campos. Prefeito de Recife, ele compareceu representando a direção do PSB, seu partido, do qual é vice-presidente. O petista também mencionou temas que são comuns em seus discursos, como a necessidade de o Brasil fazer comércio com os países africanos.

Haddad pregava em favor de seus principais planos. Mencionava, por exemplo, seu projeto para transição verde da economia brasileira. Tudo em termos genéricos, de forma descontraída e sem entrar em detalhes.

A pauta do governo na Câmara inclui os vetos do presidente ao calendário de liberação de emendas e ao valor de R$ 5,6 bilhões indicados pelo Congresso na Lei Orçamentária Anual (LOA); a reoneração da folha de pagamento; o fim do Perse, programa de incentivo ao setor de eventos, que foi afetado pela pandemia de covid-19; e a limitação das compensações tributárias a empresas por meio de decisões judiciais.

Na avaliação de deputados ouvidos pela reportagem, eventos como o de quinta ajudam a reduzir ruídos na relação entre governo e Câmara, e a sensação foi de “jogo zerado”. A volta dos trabalhos do Legislativo em 2024 foi em um período de descontentamento de congressistas com o governo. É comum o grupo político de Arthur Lira, por exemplo, reclamar de acordos não cumpridos pelo Planalto. Um exemplo do desgaste da relação foi o veto ao cronograma de emendas.

No primeiro ano de governo, Lula reuniu os líderes da Câmara no Alvorada após a aprovação da reforma tributária na Casa, em julho. O primeiro semestre do ano havia sido de embates entre o Planalto e os deputados, que recusaram mudanças feitas por decreto no marco legal do saneamento básico.

Em meio a uma insatisfação generalizada com a demora na liberação de emendas e na nomeação de aliados para cargos no Executivo, os deputados chegaram a cogitar uma rejeição da Medida Provisória (MP) que reestruturou a Esplanada no governo Lula, o que acabaria com vários ministérios.

No segundo semestre de 2023, em outubro, o presidente da República também reuniu líderes partidários da Câmara, em meio à tentativa de Haddad de aprovar medidas de aumento de arrecadação O encontro ocorreu após Lula entregar o Ministério do Esporte para André Fufuca, do PP, e a pasta de Portos e Aeroportos para Silvio Costa Filho, do Republicanos.

O Centrão, grupo político que domina a Câmara, também ganhou o Ministério do Turismo, hoje comandado por Celso Sabino, do União Brasil. Além disso, Lula nomeou Carlos Vieira, indicado de Lira, para a presidência da Caixa Econômica Federal.