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Pardos e pretos ampliam maioria para 55,5% da população

O movimento da população auto identificada como branca segue caminho inverso, tendo sido de 51,6% em 1991, com pico de 53,7% em 2000, mas declinando a 47,7% em 2010 e mais ainda em 2022.

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22 de dezembro de 2023
Pardos e pretos ampliam maioria para 55,5% da população
Foto: Divulgação

A parcela dos brasileiros que se identificaram como pardos e pretos no Censo de 2022 chegou a 55,5% da população, ampliando a maioria de 50,7% dos dois grupos verificada na edição anterior da pesquisa, de 2010. Os dados constam do levantamento de identificação étnico-racial, por sexo e idade do Censo 2022, divulgado na sexta-feira, 22, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na comparação entre 2022 com 2010, mostra o IBGE, houve aumento no número de pardos (+11,9%) e pretos (+42,3%), mas redução no número de brancos (-3,1%), indicando tendência de reforço da maioria parda e preta na população. A série histórica dos quatro censos demográficos realizados desde 1991, quando o levantamento passou a considerar as atuais cinco categorias de cor ou raça, mostrou que, em 2022, pela primeira vez, os autodeclarados pardos foram predominantes na população (45,3%), ultrapassando os brancos (43,5%).

Em 2010, no entanto, o somatório de pardos e pretos (50,7%) já havia ultrapassado a parcela de brancos (47,7%), invertendo o padrão das pesquisas anteriores, quando os brancos ainda representavam maioria absoluta, com 51,6% da população em 1991, e 53,7% em 2000.

O porcentual de pardos em 1991 era de 42,5% e teve uma única queda, a 38,5%, no ano 2000. Dez anos depois, no Censo de 2010, a parcela dos que se identificaram como pardos se restabeleceu em 43,1%, para chegar a 45,3% na presente edição.

O movimento da população auto identificada como branca segue caminho inverso, tendo sido de 51,6% em 1991, com pico de 53,7% em 2000, mas declinando a 47,7% em 2010 e mais ainda em 2022, para 43,5%. Só a população que se autodeclara preta apresentou crescimento constante ao longo do tempo: com 5%, 6,2%, 7,6% e 10,2%, respectivamente, nas quatro edições.

Com relação aos indígenas, o IBGE abriu duas possibilidades de autodeclaração: no rol de cores ou raças, que teve 0,6% das respostas, ou em pergunta separada sobre se o entrevistado se considera indígena, em que 0,2% da população assentiu. O índice afim do questionário por cor ou raça (0,6%) foi o maior da série histórica. Nas duas pesquisas anteriores, 2010 e 2000, esse porcentual ficou estacionado em 0,4% e, em 1991, havia sido de 0,2%.

Já os amarelos, que acusaram 0,4% das autodeclarações em 1991 e 2000, mas saltaram a 1,1% da população em 2010, voltaram para os 0,4% na presente edição. Marta Antunes, uma das pesquisadoras do IBGE responsável pelo levantamento, afirma que essa variação dos amarelos está ligada à mensagem de alerta da pesquisa informando que essa cor ou raça se deve à origem oriental, como japonesa, chinesa e coreana. A leitura é que a ausência de um alerta do tipo no censo anterior teria levado a respostas equivocadas.

Cruzando os dados, o IBGE aponta que a população preta na região norte é a mais marcada pela presença masculina, com 122,1 homens para cada 100 mulheres. No extremo oposto, a população amarela do Nordeste é a que tem a menor quantidade relativa de homens, 73,8 a cada 100 mulheres.
Questionados sobre o significado mais amplo da razão de sexo, os técnicos do IBGE sugeriram que movimentos demográficos regionais e outros fenômenos podem estar por trás de cada situação, mas qualquer inferência requer análises ulteriores, as quais o Censo por si só não abarca.

Predominantes no País pela primeira vez, de acordo com o Censo de 2022, os pardos são maioria da população nas regiões Norte (67,2%), Nordeste (59,6%) e Centro-Oeste (52,4%). Já a população autodeclarada branca ainda predomina no Sudeste e Sul.

No Sudeste, região com a maior densidade demográfica do País, os brancos são 49,9%, ante 38,7% de pardos, 10,6% de pretos, 0,7% de amarelos e 0,1% de indígenas, aponta o Censo de 2022. Especificamente em São Paulo, o Estado mais populoso do País, 57,8% dos habitantes se disseram brancos, 33% pardos, 8% negros, 1,2% amarelos e 0,1% indígenas.

Esse padrão se intensifica na região Sul, onde os brancos têm parcela ainda maior da população, 72,6%, ante 21,7% de pardos, 5% de negros, 0,4% de amarelos e 0,3% de indígenas. Entre os Estados, o maior porcentual de autodeclarados brancos do País está no Rio Grande do Sul, 78,4% da população, seguido de Santa Catarina (76,3%) e Paraná (64,6%).

As outras três grandes regiões do País têm perfil de cor e raça bem diferente, mostrou o IBGE.
Espécie de espelho invertido do Sul, o Norte acusou 67,2% de pardos e a menor proporção de população branca entre as cinco regiões, 20,7%. Com relação a outras cores ou raças, 8,8% se disseram pretos e 3,1% indígenas, na maior proporção do País para esse último grupo. Amarelos fecham a lista com 0,2% da população da região Norte.

Quanto aos indígenas, o Norte tem três Estados com os porcentuais mais expressivos do País para essa cor ou raça: Roraima, com 14,1% de indígenas, Amazonas, com 7,7% e Acre, com 3,5%. O Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste, repete a proporção de 3,5% de indígenas.

No Nordeste, o grupo mais populoso são os pardos (59,6%), seguido de brancos (26,7%), e pretos, cujos 13% são o maior porcentual entre regiões para essa cor ou raça. Indígenas no Nordeste somam 0,6% da população e, amarelos, 0,1%. A Bahia é, isolado, o Estado com o maior porcentual de autodeclarados pretos, 22,4%, seguido por unidades de outras regiões, como Rio de Janeiro (16,2%) e Tocantins (13,2%). No Centro-Oeste, para além da maioria de pardos (52,4%), 37% são brancos, 9,1% são negros, 1% se disse indígena e 0,4% amarelo.

O gerente de Territórios Tradicionais do Censo 2022, Fernando Damasco, assinala como um diferencial da pesquisa o detalhamento a nível municipal, o qual levantamentos recorrentes sobre população não conseguem reproduzir. Isso permite, por exemplo, localizar no território as maiores concentrações dos grupos menos numerosos, caso dos amarelos e indígenas, mas, também, das pessoas pretas. Enquanto os pardos predominam em 3,24 mil municípios e os brancos em outros 2,28 mil, os indígenas têm a maior parcela da população em 33 municípios e, as pessoas pretas, em nove.