País
Resistência ao PT

Lula fala em tom de campanha, critica Bolsonaro e acena a evangélicos

O pronunciamento teve partes semelhantes a trechos de seus discursos de campanha, em 2022.

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15 de dezembro de 2023
Vinicius Palermo
Lula fala em tom de campanha, critica Bolsonaro e acena a evangélicos
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, posa para fotografia com trabalhadores, durante visita às obra do Contorno Rodoviário do Mestre Álvaro, no Contorno Rodoviário do Mestre Álvaro. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso com críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e acenos ao público evangélico, um dos setores da sociedade com mais resistência ao PT. O pronunciamento teve partes semelhantes a trechos de seus discursos de campanha, em 2022.

O presidente falou em Serra, maior cidade do Espírito Santo, onde foi inaugurar uma obra viária com o governador Renato Casagrande (PSB-ES) e o ministro Renan Filho (Transportes), além de outros aliados.
Haverá eleições municipais no ano que vem, e o petista deverá participar das campanhas de diversos candidatos a prefeito. Lula já disse acreditar que as disputas serão novamente uma polarização entre seu grupo político e o de Bolsonaro, como em 2022.

“Em todos os Estados da Federação que eu vou, em todos, eu pergunto para todo mundo se alguém lembra uma obra que aquela coisa referência a Jair Bolsonaro inaugurou”, declarou Lula. “É verdade que ele não inaugurou nenhuma obra aqui, mas ele inaugurou o ódio. O ódio entre filhos, o ódio entre pais, a mentira”, disse o presidente da República.

Lula afirmou que “tem família que não conversa mais” por causa de um “facínora” que “pregou o ódio durante quatro anos”. Lula costumava dar declarações semelhantes durante seus comícios na campanha de 2022.

O presidente também fez acenos ao eleitorado evangélico. “O que resolve o problema de um povo não é a instigação do ódio utilizando a boa fé do povo evangélico para mentir dizendo que a gente ia fechar igreja, dizendo que a gente ia fazer banheiro unissex”, declarou o petista. Lula também disse que se há alguém no Brasil que acredita em Deus, é ele.

“Esse País saiu de um momento de tortura para voltar para um momento de paz, de tranquilidade, de crescimento econômico, de geração de emprego e geração de riqueza”, afirmou o presidente. Ele disse que nos próximos anos de seu governo os níveis de emprego vão crescer, “e junto com o emprego vai crescer o salário”.

Lula repetiu que seu grupo político é odiado porque os adversários “não gostam de trabalhador pobre nem de autonomia das mulheres”. Também disse que não há intenção de “tirar nada de ninguém”, mas apenas dar chances à população mais pobre. O conteúdo de ambas as declarações foi recorrente na campanha de 2022.

Além disso, o presidente da República voltou a pedir que sua militância não trate como adversários políticos de outros partidos que participam dos seus atos públicos. Esse é um pedido recorrente de Lula tanto em campanha quanto no governo. O motivo é que seu grupo político não tem maioria no Congresso e, por isso, precisa fazer alianças com forças mais à direita para aprovar os projetos de seu interesse.

A participação do presidente na entrega de imóveis do Minha Casa, Minha Vida no sábado, 16, será sua primeira agenda oficial em São Paulo desde julho, quando foi à posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.

Neste período em que preteriu compromissos no maior Estado do País, o presidente concentrou atividades em Brasília e no exterior. Enquanto isso, coube ao vice, Geraldo Alckmin (PSB), estar presente com frequência no território que já governou. Agora, Lula retorna também com olhos na campanha eleitoral do ano que vem, o que deve fazer com que mude a postura também em 2024.

Desde a última visita a São Paulo, o petista visitou 11 países de todo o mundo. Os principais compromissos foram a cúpula dos Brics na África do Sul em agosto, quando aproveitou a ida ao continente africano para visitar Angola e São Tomé; o G20, realizado na Índia em setembro, que foi seguido de uma viagem a Cuba para reunião do G-77, grupo de países em desenvolvimento, e da Assembleia-Geral da ONU em Nova York. Lula também foi ao Paraguai para participar da posse do presidente Santiago Peña em agosto.

Mais recentemente, o presidente realizou um giro pelo Oriente Médio entre o final de novembro e o início de dezembro. Ele passou pela Arábia Saudita antes de participar da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-28) em Doha, no Catar. Em seguida, viajou para os Emirados Árabes Unidos e, na volta, foi à Alemanha, onde atuou para tentar avançar no fechamento do acordo bilateral entre o Mercosul e a União Europeia.

Ele e a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, mantêm endereço no Alto de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. Segundo interlocutores, a ausência se deve, em parte, às cirurgias no quadril a que o petista foi submetido em julho e no fim de setembro e que lhe deixou mais de um mês em recuperação. A última delas foi realizada em setembro no Hospital Sírio Libanês, onde ele deu entrada no dia 29 daquele mês e passou quatro dias internado.

Na ocasião, o presidente tratou de uma artrose que lhe causava dores crônicas. Dizem eles que, antes disso, Lula sentia dores que atrapalhavam sua locomoção e, por isso, evitou viagens. Um sinal disso, segundo aliados do presidente, são as visitas de seus filhos que residem na capital a ele em Brasília. Mesmo o Natal dos Catadores, que Lula tradicionalmente comparece aos finais de ano, será realizado na capital federal neste ano, em vez de São Paulo. A presença do presidente está confirmada.

Aliados lembram também que os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, viajaram recorrentemente à capital paulista e representaram Lula em compromissos.

Lula deve intensificar agendas em São Paulo e em outras grandes cidades no ano que vem, quando iniciará sua peregrinação para as eleições municipais. Ele será o principal cabo eleitoral do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) na disputa à prefeitura da capital paulista contra o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).

Além do compromisso governamental, Lula quer aproveitar a viagem a São Paulo neste sábado (16) para promover o encontro entre Boulos e Marta Suplicy (sem partido). O presidente articula para que a atual secretária de Relações Internacionais da administração de Nunes na Prefeitura seja a candidata vice na chapa do deputado do PSOL. A ideia é que Marta volte para o PT, sigla que deixou em 2015 após criticar casos de corrupção no partido.

O petista também deve atuar na campanha eleitoral do deputado estadual Fernando Ferreira (PT-SP), que disputará a Prefeitura de São Bernardo do Campo. A cidade é o berço político de Lula, que liderou greves de metalúrgicos durante a Ditadura Militar.