A inflação elevada que atinge a economia argentina deve levar cerca de dois anos para ser derrotada, afirmou o presidente eleito do país, Javier Milei, nesta semana. Milei ainda prometeu executar um “choque de ajuste” nas contas públicas com o objetivo de encerrar 2024 em um quadro de equilíbrio fiscal.
Em uma série de entrevistas para rádios horas depois de ter triunfado na disputa eleitoral de domingo, 19, o economista foi questionado sobre o tempo que levaria para cumprir sua promessa de acabar com a inflação, que atingiu 142,7% na variação anual em outubro. “Se você parar hoje com a emissão monetária, esse processo levará entre 18 e 24 meses”, afirmou Milei. Quando questionado sobre em que níveis a inflação estará até então, o futuro presidente enfatizou que precisa desse prazo para “destruí-la”.
Seu primeiro passo será empreender uma forte reforma do Estado que incluirá privatizações, afirmou. “Tudo o que puder estar nas mãos do setor privado vai ficar nas mãos do setor privado”, afirmou, e apontou entre as empresas a serem privatizadas a petrolífera YPF e os veículos de comunicação estatais.
Milei observou que, antes de privatizar a empresa de petróleo YPF, “o primeiro é preciso reestruturá-la” e “racionalizar” sua estrutura. A empresa foi estatizada em 2012, durante o mandato da então presidente Cristina Fernández de Kirchner, que hoje é vice-presidente. O libertário culpou a “deterioração da empresa” ao kirchnerismo, a variante centro-esquerdista do peronismo que esteve no poder na maior parte das últimas duas décadas.
Em suas medidas econômicas já anunciadas, Milei também ressaltou que pretende realizar uma correção fiscal de 15 pontos porcentuais do Produto Interno Bruto (PIB). O futuro presidente, no entanto, afirmou que os mais pobres não serão afetados pelas reformas e que o impacto principal recairá sobre a classe política. “2025 vai ser brilhante, com uma taxa de inflação caindo e os salários voando em dólares”, afirmou.
Milei prometeu reinventar o governo, mas tem três semanas até sua posse, em 10 de dezembro, e corre contra o tempo em busca de aliados no país que tem um dos menores períodos de transição presidencial na América Latina.
Em destaque está o cargo de Ministro da Economia, tendo em conta o enorme déficit orçamental, as reservas em dólares esgotadas e um programa de crédito com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que deve continuar a ser pago. Quatro em cada 10 argentinos vivem na pobreza, a inflação anual é de 143% e é provável que continue a acelerar, pelo menos no curto prazo.
A Casa Branca informou que o presidente dos EUA, Joe Biden, manteve uma conversa telefônica com Milei na quarta-feira sobre “a forte relação entre os Estados Unidos e a Argentina em questões econômicas, na cooperação regional e multilateral e em prioridades comuns, incluindo a proteção dos direitos humanos, abordando insegurança alimentar e investimento em energia limpa”.
Durante seu discurso de vitória na noite de domingo, Milei disse que “a situação na Argentina é crítica. As mudanças que o nosso país precisa são drásticas, e não há espaço para gradualismo”.
Milei ganhou fama como analista de televisão que chamou a elite política de corrupta e interesseira. Há dois anos, ele traduziu essa notoriedade num assento no Congresso com o seu partido político recentemente fundado. A vitória eleitoral de Milei no último domingo destruiu quase todas as previsões de analistas.
O fato de ser um populista libertário num país onde o Estado tem uma presença desproporcional tornou-o ainda mais uma novidade. Ele disse que reduzirá para metade o número de ministérios do governo, cortará gastos públicos com o seu “plano de motosserra” e privatizará todas as empresas estatais que puder. Ele também disse que vai acabar com o Banco Central.
A ambição de Milei de reduzir o Estado requer pessoal com um profundo conhecimento da sua agenda, a fim de tomar decisões que são ao mesmo tempo burocráticas e políticas, disse Sergio Berensztein, analista político que vive em Buenos Aires. Sua proposta oficial do governo carece de detalhes.
Pelo menos por enquanto, o mercado parece dar a Milei o benefício da dúvida. Os preços das ações e dos títulos soberanos da Argentina têm subido e o peso perdeu valor, mas não entrou em colapso como muitos previam.
“O grande mérito de Milei é que o mercado parece acreditar nele um pouco mais do que parecia acreditar nele antes da eleição”, comentou Javier Timerman, sócio-gerente da AdCap Asset Management em Nova York.
Milei disse em comunicado que não divulgará nenhuma de suas nomeações até 10 de dezembro, embora tenha divulgado alguns nomes durante suas primeiras entrevistas como presidente eleito, incluindo as escolhas para chefiar o Ministério da Justiça e um novo Ministério do Capital Humano.
Um dia após sua vitória, o presidente eleito disse que trabalhou a noite toda sem dormir. No dia 21 de novembro, declarou em entrevista transmitida no YouTube que, depois de empossado, não perderá tempo nem em viagens de helicóptero de ida e volta ao palácio presidencial. Em vez disso, ele será o primeiro chefe de estado a trabalhar totalmente em casa.
O presidente eleito da Argentina conversou também com o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump ocasião em que o americano o parabenizou pela vitória no segundo turno de domingo e antecipou que viajará a Buenos Aires para realizar uma reunião, segundo comunicado do gabinete do argentino.
Na noite de quarta-feira, Milei recebeu um telefonema de Trump que expressou os seus parabéns e referiu que “a vitória por ampla margem nas eleições teve um grande impacto a nível mundial”, segundo a publicação.
Enquanto isso, o jornal Ámbito confirmou que Milei embarcará na sexta-feira em viagem aos Estados Unidos para visitar as cidades de Miami e Nova York, segundo fontes do partido La Libertad Avanza.