Policiais federais organizaram protestos ao longo de quinta-feira, 26, em todas as superintendências da corporação nos 26 Estados e no Distrito Federal. Cinco entidades de classe articularam a mobilização nacional para pressionar o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por recomposição.
Delegados e agentes da Polícia Federal argumentam que receberam mais responsabilidades, como o controle de armas de fogo, antes atribuição do Exército, e que o governo tem usado as operações e investigações da PF como vitrine, sem contrapartidas para a corporação.
As negociações de recomposição estão em andamento no Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Uma reunião com representantes da categoria, prevista na semana passada, foi desmarcada pela pasta. O cancelamento foi a faísca para a mobilização.
A delegada Tania Prado, presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol), divulgou uma nota em que afirma que a categoria não ‘aceita mais protelação’ e ‘promessas da boca pra fora’.
“Os protestos nacionais de todas as categorias da Polícia Federal unidas são de suma importância para mostrarmos ao governo nosso inconformismo com os rumos que estão dando no tratamento ao fator humano da instituição que tanto tem trabalhado pela segurança interna do País”, diz o texto.
Essa é a primeira ação de um cronograma mais amplo. Como mostrou o Estadão, lideranças estudam paralisações se não houver um aceno do governo. A paralisação das atividades em 16 de novembro, Dia do Policial Federal, já foi aprovada.
A pressão da classe se arrasta desde o governo Jair Bolsonaro. Policiais chegaram a fazer atos e operações tartarugas na fiscalização de passageiros e de cargas.
Os servidores federais tiveram reajuste de 9% em maio, mas segundo as associações da PF o aumento não foi suficiente para cobrir a defasagem na carreira.
A “greve branca” estaria causando atrasos significativos, afetando, por exemplo, a verificação da delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e a análise dos celulares do ex-presidente, que fazem parte do inquérito que investiga a fraude nos cartões de vacinação do ex-presidente e aliados.
As duas investigações fazem parte dos 21 inquéritos que têm Bolsonaro como alvo, que foram abertos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela PF.
Pessoas com influência nos sindicatos afirmaram que as lideranças recomendaram a redução do ritmo de trabalho como uma maneira de expressar o descontentamento com o que classificam como falta de atenção do governo em relação à aprovação da reestruturação.
Após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, a cúpula da PF costurou um acordo, com o aval do Ministério da Justiça, que estabelece aumentos salariais de 37% a 79%, dependendo da função. No entanto, o projeto está atualmente paralisado no Ministério da Gestão, sob a responsabilidade de Esther Dweck.